O pólo aquático é um desporto muito pouco popular em Portugal: a escassa divulgação e a grande exigência de infraestruturas resultam num número de praticantes reduzido e numa gritante falta de destaque para um desporto que é olímpico desde 1900.
As emissoras abertas com transmissão dos Jogos Olímpicos, mesmo com posições adicionais na grelha de canais, que são de louvar, optaram frequentemente por passar jogos repetidos ao invés de mostrar outras modalidades. Os únicos jogos de pólo aquático transmitidos na televisão portuguesa (não integralmente) foram os jogos de atribuição das medalhas masculinas.
À chegada a Paris 2024, a Sérvia apresentava-se como bicampeã olímpica masculina e uma das grandes favoritas. No lote de candidatos às medalhas estavam também incluídas equipas como Hungria (nove vezes campeã olímpica), Croácia (campeã mundial), Itália (vice-campeã mundial) e Espanha (campeã europeia em 2024, pela primeira vez).
Já no setor feminino, os EUA eram claramente o alvo a abater, com cinco títulos mundiais nas últimas seis edições do evento e com o estatuto de tricampeãs olímpicas. Para tentar destronar as norte-americanas seriam necessárias performances imaculadas, com maior responsabilidade para as campeãs europeias em título, as neerlandesas, e também para as equipas de Espanha, Hungria e Austrália.
Neste artigo, fazemos uma análise aos torneios olímpicos de pólo aquático, uma modalidade com componentes técnica, tática e atlética consideráveis, e que definitivamente já merecia uma atenção diferente no nosso país.
Feminino
O torneio feminino não acalentava grandes esperanças para o público da casa, naquela que era a estreia das gaulesas em Jogos Olímpicos. Num grupo extremamente exigente, a França conseguiu apenas uma vitória e foi uma das duas equipas eliminadas na primeira fase, juntamente com a China.
A fase de grupos não teve surpresas, com as equipas favoritas a conseguirem o apuramento para os quartos de final. Destaque para a equipa espanhola, que realizou uma primeira fase imaculada, com cinco vitórias em cinco jogos.
Essa tranquilidade de “nuestras hermanas” manteve-se nos quartos de final, onde eliminaram facilmente o Canadá. Austrália e Países Baixos também garantiram um lugar no top-4 com alguma naturalidade, enquanto os EUA sofreram bastante para eliminar a vice-campeã mundial Hungria.
Nas meias-finais, dois jogos muito renhidos foram resolvidos apenas nas grandes penalidades. A brilhante recuperação dos Países Baixos, depois de estar a perder por seis ao intervalo, não foi suficiente para impedir nova presença da Espanha na final olímpica. No segundo encontro aconteceu a maior surpresa deste torneio: depois de um empate a oito no tempo regular, a Austrália acabou com o sonho americano de chegar ao tetracampeonato. O jogo acabou na morte súbita, com a MVP do jogo Gabi Palm a fazer a defesa que levou as aussie stingers à primeira final olímpica desde que se sagraram campeãs em Sydney 2000.
No jogo de terceiro e quarto lugar, uma exibição muito bem conseguida da capitã neerlandesa Sabrina van der Sloot, com seis golos apontados, foi determinante para levar o bronze para os Países Baixos e voltar a chocar as tricampeãs. Depois de estar todo o encontro na frente, a equipa norte americana sofreu um parcial de 5-1 no último período e deixou mesmo a medalha escapar.
Já na disputa da medalha de ouro, um jogo bastante equilibrado teve Martina Terré como um dos fatores cruciais: a guarda-redes espanhola registou 15 defesas e contribuiu largamente para uma excelente performance defensiva da sua equipa. Espanha conseguiu assim uma vitória por dois golos e o primeiro ouro olímpico, após duas pratas em 2012 e 2021.
Alice Williams foi a maior figura australiana da final e eleita a melhor jogadora do torneio pela World Aquatics, embora os seus cinco golos no jogo decisivo não tenham sido suficientes para derrotar uma Espanha mais experiente. As exibições ao longo do torneio mostraram que o pólo aquático australiano está em clara evolução e vai voltar a almejar o ouro nas próximas edições.
Masculino
No torneio masculino foram França, Japão, Roménia e Montenegro a dizer adeus à competição no fim da fase de grupos, sendo os montenegrinos a equipa deste lote que entrava com maior estatuto. Em comparação com Tóquio 2021, o top-oito teve sete repetentes, com a Austrália a substituir Montenegro.
Os quartos de final pautaram-se por um grande equilíbrio. Jogos muitíssimo bem disputados ditaram a passagem de Croácia, Sérvia, EUA e Hungria às meias-finais, com o jogo mais desequilibrado a apresentar uma diferença de apenas dois golos no marcador final. A Grécia falhou a “vingança” da final de 2021 ao ser novamente eliminada pela Sérvia, muito graças a um golo brutal de Nikola Jaksic, mesmo ao cair do pano.
Arbitragens discutíveis foram alvo de muitas críticas nas declarações pós-jogo e nas redes sociais e “mancharam” esta fase do torneio. A expulsão por brutalidade do italiano Francesco Condemi foi uma das decisões mais visadas e também uma das mais determinantes para o desfecho da eliminatória, dando vantagem numérica aos húngaros durante quatro minutos.
A primeira meia-final tinha um claro favorito e a vitória da Sérvia frente aos EUA nunca pareceu verdadeiramente em dúvida. O outro encontro opunha os dois mais recentes campeões mundiais (Croácia e Hungria) e foi, como se esperava, muito renhida. A Croácia levou a melhor, com Fatovic (cinco golos) e Bijac (10 defesas, incluindo dois penaltis) a serem os principais responsáveis pela passagem à final.
A medalha de bronze foi para os EUA, que voltaram a um pódio pela primeira vez desde 2008. Depois de um empate a oito, o desempate da marca dos cinco metros foi bem mais desequilibrado: dois remates aos ferros e um defendido por Adrian Weinberg deitaram por terra as esperanças húngaras e fecharam o resultado em 11-8.
A final opôs os dois gigantes balcânicos numa reedição da final de 2016. Duas equipas que não tinham estado particularmente bem na fase inicial do torneio mostraram o seu real valor (como tinha de ser) na fase a eliminar. No jogo da medalha de ouro, a Sérvia construiu uma vantagem de três golos no primeiro período e manteve-a até ao derradeiro parcial, sem nunca deixar fugir o controlo do desafio. Uma “parede” chamada Radoslav Filipovic e uma diferença clara no aproveitamento das situações de superioridade foram decisivos para o resultado final.
A Sérvia igualou assim o feito de Grã-Bretanha e Hungria, ao conquistar três ouros consecutivos. Por outro lado, os croatas amealharam a sua quarta medalha olímpica e terceira prata. O melhor marcador da competição, com 26 golos, e melhor jogador do torneio foi o astro sérvio Dušan Mandić.