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Uma questão de tempo

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Apesar da sua espectacularidade, o futebol britânico, no final do século anterior e no início deste, nunca foi o preferido pelos amantes da táctica. Os indíces físicos e a qualidade técnica eram factores que se impunham sobre a estratégia e crescia o esterótipo do jogo directo associado a equipas do Reino Unido.

Ia-se vencendo, sobretudo em Inglaterra, porque todos queriam jogar na Premier League, pela paixão do público, colado ao relvado, pela convivência com nomes maiores que já lá habitavam e ainda pela exposição mediática que facilmente se adquiria no campeonato mais visto do mundo (foram os reponsáveis da Premier League que dobraram o “cabo das Tormentas” dos mercados emergentes e descobriram a Ásia e os EUA, por exemplo). Assim se ganharam competições europeias, durante essa altura, ficando na memória colectiva a reviravolta do Manchester United na final da Champions de Camp Nou (1999), frente ao Bayern de Munique, a incrível segunda parte do Liverpool em Istambul, frente ao Milan, anulando o 3-0 em 10 minutos e vencendo, nos penalties, mais uma Liga dos Campeões (2005), ou ainda a final exclusivamente inglesa entre Chelsea e Manchester United, ganha pelos Red Devils de Cristiano Ronaldo (2007).

Os melhores estavam no campeonato inglês, e isso era suficiente. Porém, ao mesmo tempo que Inglaterra parecia impor a sua superioridade nas competições de clubes, tornando os emblemas ingleses de topo numa espécie de super-heróis na Europa, ia crescendo o antídoto para os combater. A força, a velocidade e a qualidade técnica passaram a ter um inimigo: a táctica. A dinâmica, o posicionamento e a entreajuda cresceram exponencialmente e ganharam muitos pontos ao paradigma que dominava na Europa, ao ponto de o neutralizar. Basta lembrar exemplos de jogos de clubes e treinadores portugueses (um povo culturalmente astuto do ponto de vista estratégico, como, de resto, concordou José Viterbo há pouco tempo, em entrevista ao Bola na Rede) contra equipas inglesas: a eliminação do Porto, imposta ao Manchester United, na Champions de 2004 com Mourinho ao leme (numa fase inicial desta “revolução”), os 5-1 do Benfica (de Jorge Jesus) ao Everton, na Liga Europa de 2010, ou a eliminatória do Sporting (com Sá Pinto no banco) com o Manchester City, na mesma competição, dois anos depois.

O “football” adaptou-se, ao ponto de ele mesmo ter tirado proveitos da emergência da complexidade táctica no panorama mundial, sendo exemplo maior a campanha da Champions de 2012 do Chelsea, que culminou com a conquista da mesma frente ao mega-favorito (jogava a final em casa!) Bayern de Munique. Isto mudou um pouco o paradigma do futebol inglês, que se soube adaptar, dando-se, agora, uma crescente importância à estratégia, de forma a responder da melhor maneira aos desafios europeus e à reconquista da superioridade da Velha Albion no panorama futebolístico.

Isso passa por “educar” as equipas internamente, e procurar que o sentido posicional seja o factor principal da conquista dos três pontos. A complexidade táctica acabou por tomar conta da Premier League, e a prová-lo está a brilhante campanha do Chelsea no ano passado, terminada com 8 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, e liderada por um dos incitadores desta revolução: José Mourinho…

… que acaba de ser despedido do Chelsea pelos maus resultados, numa altura em que se parece impor uma nova lei nos relvados ingleses.

Crença, vontade e processos simples têm elevado os foxes ao topo da PL... serão suficientes para os manter lá? Fonte: Facebook do Leicester
Crença, vontade e processos simples têm elevado os foxes ao topo da PL… Serão suficientes para os manter lá?
Fonte: Leicester City FC

Perante a complexidade táctica e a especulação sobre o que o adversário possa criar, acaba por se diluir, nestas previsões, a existência de um futebol simples, movido a alma e crer, e assentando em processos de combinações simples, em busca de linhas de passe que abram espaço às referências que possam agitar o jogo e resolver a contenda a favor da respectiva equipa. Assim se explica a ascensão do Leicester e do Watford, duas equipas com treinadores (Claudio Ranieri e Quique Flores) que passaram ao lado de qualquer revolução táctica e cujas carreiras lhe colocaram o rótulo de “medíocres” para a alta roda do futebol (apesar da Liga Europa de 2010, conquistada pelo espanhol, ao serviço do Atl. Madrid).

Os foxes lideram, para espanto geral, a Premier League, os Hornets são ocupantes do 7º posto do principal campeonato inglês, somando os mesmos pontos que o Manchester United, encontrando-se num momento de forma fantástico, não perdendo desde há cinco jogos a esta parte, com a particularidade de terem batido o Liverpool por 3-0 e empatando o Chelsea, em Stamford Bridge, no jogo de estreia de Guus Hiddink.

No caso do Leicester, tem na magia de Mahrez (já devidamente assinalada no Bola na Rede) e no faro de golo de Vardy as principais referências, já o Watford aposta na rebeldia dos seus avançados – Troy Deeney e Odion Ighalo – para virar cada encontro a seu favor. Ambos os conjuntos, porém, têm um colectivo fantástico e autênticas formiguinhas operárias que não viram a cara à luta e que são a “cola” que junta a crença à capacidade de trabalho. Kanté (em constante sintonia com Drinkwater) e Capoue (a emergir, finalmente!) são os “capatazes” dos respectivos grupos, omnipresentes no meio-campo, oferecendo e descobrindo linhas de passe e tratando a bola de forma simples, como deve ser.

Estas equipas vão surpreendendo o futebol mundial, sobretudo por terem treinadores de quem não se esperava muito. Os processos simples e a alma vão impondo a sua presença na Premier League, mas não se pode, ainda, falar numa mudança de paradigma, porque este tipo de futebol é facilmente anulável pela sua previsibilidade e pode muito bem ser contrariado no longo prazo. É certo que o alento das vitórias pode transfigurar uma equipa, e aí a reacção à derrota é crucial para se manter a regularidade competitiva. Mas, mesmo assim, essa valentia pode ser facilmente contrariada pela estratégia. Até agora não o foi, e ainda bem, porque nos proporcionou momentos de sonho. Mas, infelizmente para o futebol, parece uma questão de tempo até isso acontecer.

Foto de Capa: Facebook do Watford

Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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