Julen Lopetegui, o viciado

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Um vício é um dos melhores companheiros da cegueira. Quem o tem não o quer ver, e não assume até entender que o vício passou a ser, também, um problema. Experimentar cocaína por ter a irreverência e a rebeldia próprias de um jovem inconsequente é uma coisa; usá-la sempre que se faz anos ou se celebra o ano novo é outra; fazê-lo sempre que um problema surge é outra completamente diferente.

Todas elas são perigosas armadilhas para se cair num vício terrível que pode minar completamente uma vida, mas a terceira é pior. Quem o faz, julga que é algo recreacional, que os problemas desaparecem naquele instante, são resolvidos mais tarde, com a cabeça fria, e que não surgirão mais. Mas a tolerância a esses “problemas” passa a ser cada vez menor, e o uso sobe de frequência, o auto-controlo desaparece e o vício assume-se.

Por mais que se aponte o dedo, por mais que se diga que se chegou a um ponto de não retorno, por ameaças de solidão que os que rodeiam essa pessoa façam, ela não deixará de (ar)riscar. Porque o vício é a prioridade, e a cegueira o acompanha. Julen Lopetegui pode ser retratado como um autêntico “junkee”. Mas o seu vício não é cocaína. Consta, até, que é meticuloso com aquilo que mete no corpo e se trata de uma pessoa bastante saudável do ponto de vista físico. O vício dele é outro, do foro mental, e passa pela intolerância às críticas.

No início, tudo corria bem. Somou cinco jogos a vencer sem sofrer golos no seu arranque ao serviço dos portistas, mas mal escorregou, em Guimarães, negou culpa própria e atirou-se às arbitragens. A goleada ao BATE Borisov amenizou as críticas, mas a escorregadela, em casa, diante do Boavista, num jogo em que rodou quase toda a equipa fizeram as críticas subir de tom, principalmente no que toca à rotatividade. A partir daí, e com o suceder de vários resultados negativos, Lopetegui ainda era capaz de resistir à tentação de se defender dos malefícios da rotatividade que impunha no Porto, embora nunca fosse capaz de assumir a culpa pelos desaires do seu conjunto que, com tantas alterações no seu interior, nunca foi capaz de criar uma identidade própria, e isso ficou comprovado nos jogos decisivos, nos jogos em que era preciso que onze jogadores formassem uma equipa. Aconteceu em Lisboa, na Luz e em Munique, no Allianz Arena. A equipa jogou para não perder em ambos os encontros e perdeu, ali, dois jogos que significaram o adeus às duas competições prioritárias dos dragões.

20150522 - FC PORTO - FC PENAFIEL
Os adeptos do FC Porto continuam a contestar Lopetegui
Fonte: bolanarede.pt

As críticas eram cada vez mais, e Lopetegui, o viciado, ainda lhes respondia. Mas deixou de o fazer. O vício tornou-o um treinador muito repetitivo nas antevisões dos encontros e nas conferências de imprensa após os mesmos. Qualquer adversário é temível que tem enormes valores individuais e são sempre precisas muitas cautelas na abordagem ao jogo. Como se o seu FC Porto, construído, com muitos milhões, à sua imagem, não fosse a equipa favorita, pela valia individual, em 95 % desses casos. Enfim, é um mecanismo de quem se quer fechar dentro da sua “concha”, meter tampões nos ouvidos e não ouvir o que os outros têm a apontar-lhe. Mas às vezes faz-se mais ruído, e chega a um ponto em que, mesmo não se assumindo o vício, se tem de voltar a rebater quem o critica. No último sábado, esse “ruído” chegou dos maus da fita habituais, os jornalistas, que lhe perguntaram, e bem, como lidava com a contestação dos adeptos. Irritou-se e disse que eram interpretações da imprensa, que o clube e ele próprio eram constantemente subvalorizados e que não via qualquer contestação. Enfim, a cegueira.

As críticas são a realidade. A “concha” em que Lopetegui se enfia, cada vez mas, a sua cocaína. Não me parece que ele venha cá fora admitir os erros que comete (a perder com o Sporting, tirou Aboubakar e colocou o miúdo André Silva, troca por troca, ponta-de-lança por ponta-de-lança, perdendo, até capacidade no jogo àereo que tão importante podia ser para a sua equipa na fase em que o jogo se encontrava – sim, o futebol às vezes parece tão simples quanto “tirar o Joaquim e meter o Manel” e Jorge Jesus tem tanta noção disso quanto da importância da continuidade de Lopetegui no comando técnico dos dragões na prossecução do título nacional), jogo após jogo, e os objectivos que, paulatinamente, vai deixando cair.

O primeiro lugar está a dois pontos de distância, e até pode ser recuperado na próxima quarta-feira, mas dado o desnível de investimento e de qualidade do plantel do FC Porto face aos rivais, exigia-se muito, mas muito mais. Só não vê Lopetegui, cegado pelo vício.

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Pedro Machado
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Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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