Já lá vão pouco mais de seis meses desde que Bruno Lage voltou ao comando técnico encarnado. Apesar do Benfica ter como base o 4-3-3, o treinador setubalense é conhecido por se adaptar ao adversário seguinte, pelo que é comum o Benfica deambular entre sistemas. Contudo, desde o regresso de Lage que o Benfica pressiona os seus adversários quase sempre da mesma forma.
Pressão e saída de pressão são dois dos processos táticos mais importantes no futebol moderno e são exercícios, sobretudo, de números e figuras geométricas: quantos são, onde estão e que figura estão a formar. Por norma, o Benfica pressiona em 4-4-2/ 4-2-4, sendo que o posicionamento dos seus extremos depende do quão avançados no terreno estiverem (ou não) os laterais adversários. Este é um sistema de pressão comum no futebol e muitas equipas, como o Arsenal e o Real Madrid, também o utilizam.
No entanto, este sistema encontra dificuldades quando enfrenta adversários que coloquem um #6 nas costas dos avançados, cabe então a estes bloquearem aquela linha de passe, sendo necessária coordenação e timings bem afinados para os dois jogadores que constituem a linha de pressão perceberem quem e quando pressionam.

Aursnes é um jogador com um grande sentido de inteligência tática e capaz de coordenar a pressão vermelha e branca e, por isso, a pressão do Benfica até é competente quando o norueguês se junta a Pavlidis na primeira linha de pressão. Mais eficaz ainda é quando Kokçu toma a decisão de subir e pressionar o tal #6 adversário – esta situação aconteceu várias vezes na primeira parte do jogo em Vila do Conde, o que permitiu ao Benfica encurralar o Rio Ave durante maior parte do jogo.
No entanto, o posicionamento dos médios adversários, muitas vezes, causam dúvidas ao médio turco e este acaba, naturalmente, por não subir tanto. Nessas alturas, caso o adversário encontre uma linha de passe para o seu médio defensivo, a primeira linha de pressão é ultrapassada, há inferioridade numérica no miolo e o adversário tem oportunidade para criar perigo ao Benfica.
Parecem pequenos detalhes, mas são estes fatores que também contribuíram para que Moreirense, Vitória SC, SC Braga e Estoril tivessem posse de bola e criassem ocasiões de golo durante largos períodos de tempo, esta época, no Estádio da Luz. Claro, a maior parte das equipas portuguesas não belisca o Benfica em qualidade individual, é também por isso que o Benfica apenas perdeu um dos jogos referidos acima.
No entanto, quando o patamar sobe, esta lacuna tática torna-se mais evidente: nos Oitavos de Final da Champions League, em casa do Benfica, quantas vezes recebeu De Jong ou Pedri sem pressão atrás de Aursnes e Pavlidis? Especialmente antes da expulsão de Cubarsí, o fraco condicionamento do #6 era algo que o Barcelona estava a usar e abusar para criar desconforto ao Benfica.

Barreiro não tem a mesma preocupação tática que Aursnes e, quando é o médio luxemburguês a juntar-se a Pavlidis, o quadrado do Benfica (Florentino-Kokçu-Barreiro-Pavlidis) é mais vezes exposto por um simples triângulo (centrais + médio defensivo) adversário. Ainda assim, fica a ideia de que Barreiro poderia ser mais útil num papel de pressão homem-a-homem, dado o elevado trabalho ao qual está predisposto dentro de campo.
Não é que o Benfica pressione propriamente mal, mas, pela inteligência tática de Aursnes, pela capacidade física de Barreiro, pelo elevado raio de ação de Florentino e pela qualidade individual geral do plantel das águias, fica a ideia de que outras soluções poderiam ser testadas, de modo a que o conjunto de Bruno Lage tivesse controlo do jogo durante mais tempo.
É curioso que Bruno Lage seja um treinador conhecido por se adaptar constantemente ao adversário, mas que não adapte a sua forma de pressionar.