Costuma-se dizer que o campeão da época anterior é quem parte à frente para a nova, mas nem sempre é assim. Tal pensamento tem de se confirmar no duelo que abre a temporada, pois se o clube que fez história na Taça de Portugal anterior bater o pé com um resultado positivo, o campeão tem de fazer soar os alarmes e subir o rendimento se quiser voltar a ganhar. Assim é a Supertaça Cândido de Oliveira, a competição que abre o apetite à nova temporada.
A competição entre os vencedores da Liga Portuguesa e Taça de Portugal tem servido, desde 1980, como o primeiro grande momento competitivo do futebol português antes do começo do campeonato. Ao longo das suas 44 edições, o troféu tem sido palco de encontros memoráveis, muitos deles protagonizados pelos “três grandes” que estiveram frente a frente em 22 dessas finais (esta será a 23ª). Trata-se de um jogo que simboliza a transição entre a época que terminou e a que agora começa, carregando a tensão, o orgulho e a ambição da equipa que quer marcar desde cedo uma posição dominante.
Na edição de 2025, será novamente o dérbi lisboeta a dar o pontapé de saída à temporada. Depois de um anterior que decidiu a Taça de Portugal e de um outro que praticamente sentenciou o campeão nacional, como não há duas sem três, Sporting e Benfica voltam a encontrar-se e agora para discutir a Supertaça. O jogo está marcado para quinta-feira e promete voltar a dividir o país em tons de vermelho e verde. Afinal, trata-se de um dos dois maiores clássicos do futebol português a abrir uma nova época oficial.
Esta será a quinta final da Supertaça entre os dois gigantes da segunda circular, que já se enfrentaram por seis vezes nesta competição, sempre com equilíbrio e intensidade máxima. O histórico entre ambos na prova é quase milimétrico: duas Supertaças para cada lado, três vitórias para o Sporting, duas para o Benfica e um empate. Nos golos, a diferença também é curta: 9 para o Benfica, 8 para o Sporting.
O primeiro confronto deu-se em 1980, com o Benfica a levantar o troféu. O Sporting respondeu em 1987, numa época de grande rivalidade. Mais recentemente, os dois voltaram a medir forças em finais que ficaram na memória: em 2015, o Sporting venceu com autoridade; em 2019, foi o Benfica a superiorizar-se, devolvendo a moeda ao rival.
Agora, em 2025, além de se assistir um desempate entre os dois no número de Supertaças que cada um tem no seu historial (nove cada) e entre si (duas para cada), continuará a tradição de um bom espetáculo a abrir a época, como se recorda nestes sete episódios anteriores.
7.
Supertaça Portuguesa: Benfica 5-0 Sporting – 2019/10
Em 2019 e apenas quatro anos depois, tinham sido os dois grandes da capital a vencer os principais troféus do futebol português. Em ambos os casos, o “carrasco” fora o FC Porto de Sérgio Conceição, que para atacar a nova época tinha feito um dos maiores investimentos da sua história. Mas águias e leões prometiam manter o nível alto que demonstraram (cada um à sua maneira e nível).
O Benfica tinha conquistado o 37º campeonato, com um futebol empolgante de ataque e uma autêntica máquina de fazer golos (140 golos em 60 jogos). Após a sucessão de Bruno Lage a Rui Vitória, a equipa encarnada ganhou uma nova vida com um quarteto de ataque demolidor: Pizzi, Rafa Silva, João Félix e Seferovic. Apesar de ter sido possível manter a “espinha dorsal” da equipa, o mercado de verão para 2019/20 levou da Luz a “revelação da época” para Madrid. João Félix transferiu-se para o Atlético de Madrid por cerca de 127 milhões de euros.
Para ocupar o vazio deixado pelo jovem viseense no ataque das águias, o Benfica reforçou-se no ataque com duas contratações caras. De Nápoles, chegou Carlos Vinícius (cerca de 17 milhões de euros) e da capital espanhola, veio Raul De Tomás (cerca de 20 milhões de euros). Contratado ao Real Madrid, RDT aparentava ser a nova referência do ataque encarnado. No embate do Algarve, os comandados de Bruno Lage procuravam a oitava Supertaça para o palmarés benfiquista e fazendo-o, igualavam o rival de Alvalade no histórico da competição.
Já o Sporting vinha de uma época historicamente positiva, para as condições de que vinha um ano antes. O ano de 2018 foi traumático para a turma de Alvalade: “Ataque” a Alcochete, fim problemático de uma presidência para uma nova, eleições para os órgãos sociais, quatro treinadores e saídas de jogadores importantes (Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia acabaram por permanecer). Com Marcel Keizer no comando da equipa, sucedendo a José Peseiro, o Sporting além de se ter ficado pelo terceiro posto no campeonato, cometeu a proeza de ter vencido duas competições. Com um futebol mais pragmático, de controlo, contra-ataque e a apostar no erro adversário, os leões venceram a Taça da Liga e a Taça de Portugal, ambas em finais contra o FC Porto e decididas em grandes penalidades.
Para a nova época, o plantel leonino manteve algumas as principais figuras por pouco tempo, pois Raphinha e Bas Dost saíram semanas após a Supertaça e muitas novas contratações foram realizadas. Vietto, Luís Neto, Eduardo Henrique, Bolasie, Rafael Camacho e Jesé Rodríguez chegaram a Alvalade, mas poucos dos novos recrutas acabaria por ser útil ao leão. Ao voltar a dar de caras com o rival de sempre, os leões procuravam a nona Supertaça do histórico e procuravam que fosse a terceira conquistada ao Benfica.
Pelo Benfica, o onze foi: Vlachodimos, Nuno Tavares, Rúben Dias, Ferro, Grimaldo, Florentino Luís, Gabriel Pires, Pizzi (C), Rafa Silva, Raúl De Tomás e Seferovic.
Pelo Sporting alinharam: Renan Ribeiro, Thierry Correia, Coates, Luís Neto, Jérémy Mathieu, Wendel, Doumbia , Bruno Fernandes (C), Raphinha, Marcos Acuña e Bas Dost.
Na primeira parte, os leões foram mais dominadores e criaram mais oportunidades para marcar. Tanto assim foi, que o Benfica demorou a entrar no ritmo do jogo e a assentar as ideias. Mas quando o fez e contra a corrente de jogo, a equipa de Bruno Lage acabou por chegar à vantagem cinco minutos antes do intervalo. Cruzamento de Pizzi para o lado esquerdo do ataque e Rafa aproveita uma lacuna na defesa leonina para fazer o 1-0.
O golo antes da pausa deitou abaixo moralmente a equipa do Sporting e no segundo tempo, o Benfica foi rei e senhor do jogo. Um bom entendimento entre os jogadores (dois golos de Pizzi e duas assistências de Rafa), o aproveitamento de bolas paradas (o terceiro golo foi de Grimaldo após a conversão de um livre-direto) e o espaço para novas surpresas (Chiquinho fez o quinto golo) por parte da equipa benfiquista, contrastou com a turma verde e branca que fora ineficaz no ataque e cheia de erros no setor defensivo. Foi a Supertaça mais desnivelada da história recente.
6.
Supertaça Portuguesa: Benfica 2-0 FC Porto – 2023/24
Após uma época 2022/23 dominada pelo vermelho e pelo azul, lá se cruzavam os dois rivais na Supertaça pela 13ª vez. Com Roger Schmidt no comando, o Benfica tinha reconquistado o título que já fugia há quatro anos. Com um futebol empolgante e também com uma campanha europeia onde só caiu aos pés do Inter de Milão nos quartos de final, brilhavam de águia ao peito jogadores como Aursnes, Rafa Silva, João Mário, David Neres, João Neves, Otamendi ou Florentino. Neste verão tinham saído Gonçalo Ramos para o PSG e Grimaldo para o Bayer Leverkusen, mas tinham ingressado na Luz, Orkun Kökçü vindo do Feyenoord e regressava a “casa” Ángel Di María, vindo da Juventus. As águias procuravam a nona Supertaça, embora o historial não as favorecesse.
Já o FC Porto partia para a nova época à procura de recuperar o que tinha perdido na época anterior (campeonato), embora tenha vencido tudo o resto (Supertaça, Taça da Liga e Taça de Portugal). A temporada 2022/23 foi mesmo das poucas exceções em que se pode dizer que o emblema azul e branco teve um excelente rendimento sem vencer o principal troféu.
Apesar de o desempenho portista deixasse muito a desejar, no que diz respeito à performance e qualidade de jogo. Para a nova época, Sérgio Conceição continuou a ter a maioria dos jogadores essenciais à sua disposição, tirando Otávio que sairia nos últimos dias antes do fecho do mercado. Embora o craque tenha jogado em Aveiro e na primeira jornada (Moreira de Cónegos) antes de partir para a Arábia Saudita. Tendo como objetivo voltar aos seus melhores dias em termos de exibições e reforçar os triunfos, o plantel portista foi reforçado com bastante qualidade: Nico González, Alan Varela, Iván Jaime, Fran Navarro e (o regressado) Francisco Conceição. Para o duelo com as águias no Municipal de Aveiro, os dragões tinham o historial do seu lado, mas tinha de se ser melhor no campo.
Pelos encarnados jogaram: Vlachodimos, Bah, Otamandi (C), António Silva, Ristic, João Neves, Kokçu, Aursnes, Di María, João Mário e Rafa Silva.
Já os titulares portistas foram: Diogo Costa, Pepê, Pepe (C), Marcano, Zaidu, Eustáquio, Grujic, Otávio, Wanderson Galeno, Danny Namaso e Taremi.
A primeira parte pertenceu maioritariamente ao FC Porto. Os dragões dominaram e criaram mais do dobro das oportunidades do Benfica, que criando algum perigo, demorou a entrar na dinâmica do jogo. Mas conseguiu estabilizar e manter a igualdade ao intervalo.
O segundo tempo foi bem diferente, pois o jogo inverteu-se. A equipa de Sérgio Conceição não conseguiu manter o domínio, embora tenha tido algumas oportunidades para abrir o seu marcador. No entanto, foi o Benfica que se começou a mostrar e a impor-se. Aos 61 minutos, Kokçu aproveitou um erro no meio-campo azul e branco e lançou Di María no lado direito do ataque, que já perseguido por Zaidu e Marcano atirou à baliza no momento certo. Diogo Costa bem se esticou, mas não evitou o regresso aos golos do astro argentino com a camisola das águias.
A partir daqui tudo se consolidou e o Benfica fica mais confortável, contrastando com o estado de espírito dos dragões. Mais uma vez, aproveitando uma lacuna no setor defensivo portista e um bom entendimento entre Rafa Silva e Musa, o português arranca pelo lado direito, cruza e estava lá o avançado croata, que de pé direito não perdoou. O jogo estava ganho com toda a justiça pela equipa de Roger Schmidt e o Benfica assegura a nona Supertaça Cândido de Oliveira da sua história. Um jogo que ficou marcado por aspetos disciplinares e nomeadamente pela recusa do técnico portista, Sérgio Conceição, em abandonar o terreno de jogo após ter recebido ordem de expulsão do árbitro Luís Godinho. Uma situação que se manteve por alguns minutos e por pouco, as autoridades não tiveram de intervir.
5.
Supertaça Portuguesa: FC Porto 0-2 Sporting – 2008/09
Após duas temporadas cujo domínio nacional se dividia em tons de azul e verde, a época 2008/09 iniciava-se com um duelo entre os dois rivais. Dos últimos nove troféus disputados no futebol português entre 2006 e 2008, nove tinham sido repartidos entre o FC Porto e o Sporting.
Os dragões eram tricampeões e eram os principais dominadores do futebol português. Apesar de terem perdido Bosingwa para o Chelsea, Paulo Assunção para o Atlético de Madrid e estarem quase a perder Quaresma para o Inter de Milão, Jesualdo Ferreira continuava a ter um conjunto competente e repeleto de qualidade para atacar o “tetra” e restantes competições (Lucho, Lisandro, Bruno Alves, Raúl Meireles, Helton, Farías e os recém-chegados Hulk, Cristián Rodríguez, Sapunaru, Rolando, Guarín ou Tomás Costa).
Após conquistar duas Taças de Portugal e uma Supertaça nos últimos dois anos, com Paulo Bento ao leme da equipa, o Sporting perseguia o principal objetivo que fugia há 6 anos: a reconquista do campeonato nacional. Apesar de nunca terem conseguido destronar o FC Porto do primeiro lugar da Liga, os verde-e-brancos tinham derrotado os dragões um ano antes na Supertaça de Leiria (1-0 com um golaço de Izmailov) e meses antes na final da Taça de Portugal 2007/08 (2-0 com um bis de Rodrigo Tiuí). Embora carecessem de investimento no plantel, os leões tinham ao dispor um conjunto competente (Liedson, João Moutinho, Izmailov, Polga, Derlei ou Vukcevic, entre outros) e ao qual se juntava três reforços relevantes (Rochemback, Caneira e Hélder Postiga).
O Sporting parecia mais forte no arranque da temporada, pela estabilidade na equipa e no comando técnico. Já o FC Porto procurava demonstrar que apesar das mundanças na equipa, mantinha o estatuto de favorito à conquista de troféus. Aqui a história não estava do lado dos portistas, pois em três finais com os leões (1995/96, 2000/2001 e 2007/08) tinham perdido sempre.
Pelos dragões, jogaram: Helton, Sapunaru, Pedro Emanuel (C), Bruno Alves, Benítez, Lucho González, Guarín, Raúl Meireles, Lisandro López, Ernesto Farías e Cristián Rodríguez.
Pelos leões, o onze foi: Rui Patrício, Abel, Tonel, Polga, Caneira, João Moutinho (C), Rochemback, Izmailov, Romagnoli, Yannick Djaló e Derlei.
Ao longo dos 90 minutos, o jogo foi bastante equilibrado e com oportunidades para ambos os lados. No entanto, o Sporting foi o conjunto mais seguro de si e mais eficaz, tanto no controlo do jogo como na concretização. Yannick Djaló bisou e decidiu a partida. O primeiro tento surgiu na primeira parte, onde foi descoberto na área por Romagnoli num passe perfeito e o segundo golo foi na segunda parte, após trabalho individual de Izmailov e um “brinde” de Sapunaru.
Já o FC Porto, tirando um remate no poste de Lucho na primeira parte e um penálti falhado pelo mesmo jogador na segunda, pouco mais conseguiu fazer. Um prémio justo para o conjunto de Paulo Bento, que conquistou a sétima Supertaça para o historial do Sporting.
4.
FC Porto 1-0 Benfica – 2004/05
Até então, o ano de 2004 estava a ser histórico e muito positivo para os dois emblemas que iam disputar a Supertaça de dia 20 de agosto. Além do estatuto de (bi) campeão nacional e de estar por direito na final da competição que tradicionalmente inicia a época, o FC Porto gozava também do estatuto de campeão europeu e de ter um grupo riquíssimo de novos jogadores (Ricardo Quaresma, Diego, Luís Fabiano, Seitaridis, Hélder Postiga, Hugo Leal, Pepe ou Raúl Meireles), juntando ao conjunto místico que já tinha (Vítor Baía, Jorge Costa, Costinha, Maniche, Benny McCharthy, Pedro Emanuel, Nuno Valente, Carlos Alberto ou Derlei).
Embora já tivesse perdido algumas “pedras vitais” do coletivo anterior (Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira saíram com Mourinho para o Chelsea, Deco saíra para Barcelona e Pedro Mendes para o Tottenham) e já estivesse no segundo treinador do pós-saída de José Mourinho. Víctor Fernández fora o escolhido de Pinto da Costa para suceder a Del Neri, que nem “aqueceu o banco”. O técnico espanhol chegou à Invicta após ter tido uma carreira de 12 anos no futebol espanhol, com destaque pela sua passagem pelo Celta de Vigo e pelo Real Zaragoza.
Já o Benfica, voltava a viver dias de esperança e alguma bonança. Após um início sofrível de 2003/04, a equipa então treinada por José Antonio Camacho terminara o campeonato no segundo lugar, após uma vitória em Alvalade (1-0 com um golaço de Geovanni). Além da (mais importante) conquista da Taça de Portugal, numa final ganha ao FC Porto (que dias depois se sagrava campeão europeu em Gesenlkirchen) por 2-1, após prolongamento. Uma vitória importantíssima e que levantava o moral das águias após oito anos (período “Vietnam”) sem qualquer troféu conquistado.
Após a saída Camacho para ir orientar os “galácticos” do Real Madrid, Luís Filipe Vieira e José Veiga aproveitaram o Euro 2004 em Portugal e foram buscar uma “velha raposa” ao comando da “Squadra Azurra”. Giovanni Trapattoni chegava a treiandor do Benfica após 30 anos de treinador e mais de 20 títulos conquistados, com passagens de sucesso pela Juventus, Inter de Milão ou Bayern de Munique. O conjunto encarnado já tinha um grupo interessante e com uma espinha dorsal estabilizada do ano anterior (Miguel, Luisão, Petit, Manuel Fernandes, Simão Sabrosa e Nuno Gomes, entre outros), a que se juntavam alguns reforços que prometiam (Quim, Karadas, Paulo Almeida, Dos Santos ou Alcides).
Os dois emblemas vencedores da época anterior, abriam 2004/05 com um duelo que prometia. O Benfica partia com esperança após um pré-temporada positiva e com um grupo coesa que parecia querer voltar a elevar o emblema encarnado ao topo. O FC Porto mantinha o grupo com a matéria-prima mais rica do futebol português. Embora tenha tido uma pré-época atribulada pela perda de jogadores e duas mudanças de treinador, os portistas prometiam manter a ambição de mais um ano de vitórias. Era a 11º final de Supertaça entre dragões e águias e historial era esmagador a favor dos azuis e brancos. Em dez finais, só por uma vez (1985) o Benfica saiu vencedor.
Pelos dragões, o onze foi: Vitor Baía (C), Seitaridis, Pedro Emanuel, Ricardo Costa, Nuno Valente, Costinha, Hugo Leal, Diego, Carlos Alberto, Ricardo Quaresma e Benny McCarthy.
De águia ao peito alinharam: Quim, Miguel, Luisão, Argel, Dos Santos, Petit, Paulo Almeida, João Pereira, Zahovic, Simão Sabrosa (C) e Tomo Sokota.
Em geral, o jogo foi algo equilibrado. O Benfica foi mais forte na primeira parte, exerceu domínio no conjunto portista e criou oportunidades, que acabou por não concretizar. De tal, beneficiou o FC Porto. A equipa de Fernández resistiu à pressão dos pupilos de Trapattoni e apareceu mais organizado e pressionante no segundo tempo.
Entre algumas chances de golo, a única que ficou para a história foi aos 55 minutos. Após fugir a Petit no meio-campo benfiquista, Carlos Alberto desmarcou “o feiticeiro” Ricardo Quaresma, que trocou as voltas a Argel e rematou cruzando para o fundo das redes de Quim. Um momento que sentenciou a final e a 14º Supertaça para o palmarés azul e branco. Um jogo que também ficou para a história, por ter sido no mesmo que Vítor Baía alcançara o seu 26º troféu da carreira e se tornava o jogador mais titulado do mundo.
3.
Supertaça Portuguesa: Sporting 3-4 FC Porto (A.P) – 2024/25
Após 16 anos, Sporting e FC Porto voltavam a cruzar-se numa final da Supertaça e pela primeira vez no Estádio Municipal de Aveiro. O coletivo de Ruben Amorim tinha reconquistado o campeonato em 2023/24 e procurava agora um bicampeonato que já fugia há mais de 70 anos. Os leões tinham “apenas” perdido dois líderes para a nova época. Luís Neto e Adán terminaram a carreira e “Seba” Coates tinha regressado à sua “terra natal” para representar o Nacional de Montevideu. De resto, a maioria do coletivo da proeza mantinha-se de leão ao peito: Viktor Gyökeres, Pedro Gonçalves, Hjulmand, Gonçalo Inácio, Francisco Trincão, Morita, Geny Catamo, Diomande, Daniel Bragança ou Eduardo Quaresma. Para 2024/25, Giovanny Quenda, Debast ou Vladan Kovačević entraram para as opções de Amorim. O historial estava do lado leonino, pois embora a maioria das Supertaças fossem azuis e brancas, o Sporting nunca tinha perdido uma final da competição para o FC Porto.
Os dragões tinham passado recentemente por muitas mudanças: Presidência (André Villas-Boas sucedeu a Jorge Nuno Pinto da Costa quatro meses antes) e equipa técnica (Sérgio Conceição saiu ao fim de sete anos no banco portista e era sucedido pelo ex-adjunto, Vítor Bruno). No plantel, tinham saído Taremi, Evanilson ou Francisco Conceição, e o “líder” Pepe tinha pendurado as chuteiras. No entanto, a maioria das principais opções do plantel manteve-se (Diogo Costa, Galeno, Pepê, Nico Gonzélez ou Alan Varela) e após a Supertaça, juntaram-se ao coletivo azul e branco jogadores como Samu, Fábio Veira, Francisco Moura, Neuhén Pérez ou Tiago Djaló. Num novo ciclo, além de continuar a ganhar, ficava o desafio de vencer os leões pela primeira vez numa final da Supertaça.
Pelos leões jogaram: Vladan Kovačević, Eduardo Quaresma, Debast, Gonçalo Inácio, Geovany Quenda, Hjulmand (C), Morita, Geny Catamo, Francisco Trincão, Pedro Gonçalves e Viktor Gyökeres.
Do lado azul e branco, os titulares foram: Diogo Costa (C), João Mário, Zé Pedro, Otávio, Martim Fernandes, Alan Varela, Grujic, Nico González, Gonçalo Borges, Wanderson Galeno e Danny Namaso.
Para um clássico, a primeira parte foi alucinante. Os primeiros 24 minutos do Sporting foram avassaladores e encostou completamente os dragões à parede, com três golos (Gonçalo Inácio de pontapé de canto, Pote e Quenda, ambos assistidos por Gyökeres) e podiam ter sido quatro (Se o “homem da máscara” tivesse cabeceado mais certeiramente aos 15 minutos, a cruzamento de Catamo), face a uma defesa portista sem andamento para tal ataque. Ou seja, bem antes da meia-hora, tudo parecia já estar sentenciado.
No entanto, a mudança de chip dos homens de Rúben Amorim para um cenário de alguma descontração e a crença dos pupilos de Vítor Bruno, começaram a mudar o desenvolvimento do encontro. Aos 27 minutos, Galeno aproveitou uma falha de Debast e uma saída em falso de Kovačević, para reduzir a diferença e abrir o jogo.
Após uma primeira parte mais pintada a verde e branco, a segunda teve mais tons de azul e branco. Embora o Sporting não estivesse apagado do jogo, a verdade é que o FC Porto foi aproveitando alguns erros que a equipa leonina ia cometendo. Aos 64 minutos, Gonçalo Borges foge pelo lado direito e lança Nico González, que encontrou um espaço na área leonina para fazer o 3-2. Três minutos mais tarde, Eustáquio aproveitou um mau alívio de Hjulmand para entrar na área e assistir Galeno para empatar a partida. Estava reposta a igualdade num jogo quando 40 minutos antes parecia impossível.
Até ao fim dos 90 minutos e no prolongamento, o jogo foi dividido e com os dragões a serem mais felizes, além de terem tido as melhores ocasiões (Kovačević fez a defesa do jogo aos 86 minutos a remate de Navarro e golo anulado ao espanhol um minuto depois). Por fim, veio a sentença. Aos 101 minutos, Vasco Sousa ganha uma bola a meio-campo e coloca-a em Iván Jaime, que fora da área arrisca o remate e ressaltando em Mateus Fernandes, entrou após o guardião sportinguista não reagir adequadamente. Terminando por ser um golo digno de registo e a sentenciar uma reviravolta histórica.
O FC Porto conquistou assim a 24ª Supertaça Cândido Oliveira, a primeira num duelo com os leões e num triunfo que permitiu aos dragões voltar a ser o clube mais titulado do futebol português (86 títulos).
2.
Supertaça Portuguesa: Benfica 0-2 FC Porto – 2010/11
O Benfica era campeão após quatro épocas de jejum, com uma equipa recheada de qualidade (Di María, David Luiz, Saviola, Aimar, Cardozo, Ramires, Luisão, Fábio Coentrão ou Javi García) e jogando um futebol que empolgava e satisfazia as bancadas. Ainda hoje conhecida pela equipa do “rolo compressor”. Após uma pré-época em que vencera quase todos os jogos, os encarnados eram favoritos a vencer a final da Supertaça em Aveiro.
O FC Porto não era campeão pela primeira vez após fazer o tetracampeonato em 2009. Com um conjunto ainda afetado pelo caso do “Túnel da Luz” (castigo longo a Hulk e Sapunaru após um Benfica-FC Porto), o grupo partia para 2010/11 com muita paixão e vontade de vencer novamente. No entanto, a pré-época foi fraca.
Em agosto, aquela equipa do FC Porto ainda era uma incógnita sob o comando do jovem técnico André Villas-Boas. Tendo apenas 32 anos, sucedeu a Jesualdo Ferreira e enfrentava um grande Benfica de Jorge Jesus, campeão nacional e com um rendimento dominador vindo da temporada anterior. Os dragões conquistaram apenas a Taça de Portugal em 2009/10 (além da Supertaça 2009, em Aveiro ao Paços de Ferreira por 2-0) e procuravam recuperar o domínio interno e iniciar uma nova era.
Existia talento de sobra: Falcao, Hulk, João Moutinho e Álvaro Pereira formavam a espinha dorsal da equipa. Do lado encarnado, Jorge Jesus mantinha um núcleo fortíssimo com Cardozo, Saviola, Aimar, Javi García, David Luiz, Luisão, Fábio Coentrão e um promissor Nico Gaitán, recém-chegado para substituir Di María. Ficava a dúvida de quem saiia por cima no duelo de Aveiro a 7 de agosto.
Pelas águias, o onze foi: Roberto, Rúben Amorim, Luisão (C), David Luiz, César Peixoto, Airton, Carlos Martins, Pablo Aimar, Fábio Coentrão, Saviola e Cardozo.
De dragão ao peito, os titulares foram: Helton (C), Sapunaru, Rolando, Maicon, Álvaro Pereira, Fernando, Belluschi, João Moutinho, Hulk, Silvestre Varela e Radamel Falcao.
Neste embate, o FC Porto foi simplesmente superior. Desde cedo impôs uma pressão alta, organização impecável, bloqueou a construção de jogo das águias e recuperando bolas em zonas essenciais. Num verdadeiro coletivo, vários jogadores se destacaram. Rolando, numa exibição excelente e onde mostrava ser o novo patrão da defesa, marcou o primeiro golo logo aos 3 minutos, através de um pontapé de canto de Belluschi e batendo Roberto (que ficara mal na fotografia) com um cabeceamento potente. O Benfica tentou responder só perto da meia hora, mas esbarrou quase sempre na organização portista e na segurança que Helton voltava a oferecer após uma época menos boa do guardião brasileiro.
A segunda parte consolidou a superioridade azul e branca, embora mais dividida. Aos 67 minutos, Radamel Falcao apareceu na área a finalizar com potência uma jogada bem-sucedida de Silvestre Varela e que terminara num cruzamento bem-sucedido, estabelecendo assim o 2-0 final. O Benfica mostrava algumas fragilidades, sobretudo no meio-campo (saídas de Ramires e Di María ainda se sentiam) e a nível defensivo (queda de rendimento de David Luiz era notório), além da baliza (aposta em Roberto era controversa pelas suas exibições).
André Villas-Boas começava ali uma caminhada memorável e com um plantel único na história azul e branca. Essa época terminaria com um triplete: Liga, Taça e Europa League. Esta Supertaça foi o primeiro aviso de uma das melhores temporadas portistas de sempre.
1.
Supertaça Portuguesa: Benfica 0-1 Sporting – 2015/16
Na segunda circular da capital portuguesa, foi o verão mais quente desde 1993. O Benfica era bicampeão após 31 anos (brilhavam Gaitán, Jonas, Lima, Salvio, Samaris, Pizzi ou Maxi Pereira) e o Sporting venceu o primeiro título em sete anos: a Taça de Portugal 2014/15 (davam nas vistas Carrillo, Adrien, João Mário, Rui Patrício, Slimani ou William Carvalho). Estava marcada uma Supertaça entre águias e leões para agosto, no entanto, o protagonista do final da época e da transição para a seguinte foi um treinador.
O jogo de abertura da época 2015/16 ficou marcado por um dos episódios mais dramáticos da rivalidade lisboeta. Jorge Jesus, depois de seis épocas nas águias, trocou a Luz por Alvalade, provocando um enorme abanão e ondas de choque no futebol português. O Sporting chegava à Supertaça como vencedor da Taça de Portugal (numa final caótica frente ao Braga decidida nos penáltis após um 2-2 em 120 minutos), enquanto o Benfica, já orientado por Rui Vitória, era o bicampeão nacional e procurava manter a onda vitoriosa. Era o primeiro duelo oficial entre Jesus e o clube que liderara até há bem pouco tempo. O ambiente estava ao rubro, intenso, pesado e o jogo estava carregado de um simbolismo especial.
De encarnado alinharam: Júlio César, Nélson Semedo, Lisandro López, Jardel, Sílvio, Fejsa, Samaris, Talisca, Ola John, Nico Gaitán (C) e Jonas.
Já o onze titular leonino foi: Rui Patrício, João Pereira, Paulo Oliveira, Naldo, Jefferson, Adrien Silva, João Mário, Carrillo, Bryan Ruiz, Teo Gutiérrez e Slimani.
No duelo do Estádio do Algarve, o Sporting apresentou-se mais coeso, intenso, determinado e com ideias mais trabalhadas. André Carrillo e Bryan Ruiz deram largura e critério ao plano de jogo leonino, João Mário foi dominante no meio-campo (Adrien recuou no terreno por ausência de William) e o recém-chegado Teo Gutiérrez teve uma exibição muito sólida no ataque ao lado de Slimani. No entanto, foi o extremo peruano o grande desequilibrador e homem do jogo.
Num bom entendimento com o mesmo, foi dos pés de Teo Gutiérrez que nasceu a jogada do único golo da partida. Numa troca de bola entre ambos, Carrillo rematou à baliza e desviou no avançado colombiano que marcou aos 53 minutos, numa finalização traiçoeira para Júlio César.
O Benfica, por sua vez, mostrou-se ainda algo receoso, em que não se refletia o dedo do novo treinador e ainda algo preso às ideias do técnico anterior, sem a fluidez habitual. Vários elementos estiveram bem ausentes do seu melhor. Jonas esteve mais discreto, Gaitán algo apagado e o coletivo encarnado ressentiu-se de tais rendimentos. A vitória do Sporting foi justa e marcou o arranque de uma época em que o leão disputaria o título até à última jornada taco a taco com o Benfica (o FC Porto teria época dececionante). Para Jorge Jesus, esta acabava por ser uma forma ideal de provar que continuava a ser um dos técnicos mais influentes do futebol português, em termos de impor uma ideia e a trabalhar mudando a realidade de uma equipa.