João Prates está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol, licenciado em Psicologia do Desporto e está no seu espaço de opinião no nosso site. O técnico de 52 anos já orientou o Dziugas da Lituânia, o Vaulen da Noruega e o Naft Maysan, do Iraque, e esteve na formação do Al Batin e Hajer Club da Arábia Saudita.
O problema não está no jogo no Benfica
Depois do desastre do Benfica em Newcastle, falou-se muito sobre o jogo, as nuances táticas e os erros individuais. Mas essa é só a superfície. A raiz do problema é outra, a construção do plantel.
Contexto ignorado
O contexto do campeonato é o mapa do terreno onde as batalhas se travam. Ignorá-lo é um erro estratégico, e o Benfica parece tê-lo feito. Num campeonato como o português, o Benfica tem a obrigação de lutar pelo título, dominar o jogo e impor o ritmo. Isso exige jogadores que decidam bem com bola, que entendam o jogo, e que o façam com intensidade. Sem esse perfil, não há identidade, e sem identidade, não há modelo de jogo.

Equilíbrio estrutural
Um plantel de um clube como o Benfica deve ter dois jogadores por posição, espaço para jovens da formação e critério na rotação. Quando um clube do tamanho do Benfica vive de adaptações, há falhas no planeamento e apenas uma substituição no jogo , demonstra isso mesmo. Um jogador adaptado nunca rende o seu máximo. Seja em Portugal ou na Lituânia, um padeiro pode desenrascar numa oficina, mas nunca será mecânico. Basta olhar para Aursnes, longe do nível do primeiro ano, pois tem sido bombeiro para apagar todos os fogos, só lhe falta ser guarda-redes, Ou Tomás Araujo, ora adapatdo a direita, ora a esquerda, o proprio Ivanovic.
Scouting: entre dados e pessoas
Um clube moderno tem de unir dados e observação humana. Os dados, minutos, intensidade, duelos, xG, perdas de bola, recuperações, filtram. O olhar técnico e psicológico decide. A mentalidade, a adaptação cultural e a leitura tática são determinantes. Um bom scouting não é só estatístico. Mas também não é só intuição.
O reflexo no campo
O jogo com o Newcastle mostrou tudo o que está errado: Um Benfica sem físico para jogos de alta intensidade, sem critério na posse e sem plantel à altura da Liga dos Campeões. Mesmo na liga nacional, a equipa sofre sempre que precisa de assumir o jogo contra blocos baixos. O problema não é de treinador, é de construção.
Janeiro: o momento da verdade
Janeiro será decisivo. Rui Costa, ou quem vier, precisa de corrigir o erro de base: redefinir o perfil do plantel. O Benfica não precisa de mais nomes. Precisa de uma ideia.