João Prates está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol, licenciado em Psicologia do Desporto e está no seu espaço de opinião no nosso site. O técnico de 52 anos já orientou o Dziugas da Lituânia, o Vaulen da Noruega e o Naft Maysan, do Iraque, e esteve na formação do Al Batin e Hajer Club da Arábia Saudita.
O futebol sempre conviveu com o erro. Árbitros erram, treinadores erram, jogadores erram. Faz parte do jogo. O que já não pode fazer parte do futebol moderno é a indecisão prolongada e a sensação de que ninguém assume responsabilidade.
O episódio recente no jogo Santa Clara x Sporting, em que o jogo esteve doze minutos parado à espera de uma decisão do VAR, para no final se assinalar um penálti, ultrapassa o erro pontual. Entra no território do surreal. Para quem vê de fora, é apenas mais um lance polémico. Para quem está dentro, não é.
Um jogo decide pontos, confiança, estabilidade interna e, muitas vezes, empregos. Quando uma decisão demora doze minutos, a mensagem é clara: há falta de controlo do processo. No alto rendimento, a perceção de justiça é fundamental. Longos minutos sem explicação geram ansiedade, frustração e desconfiança. O VAR existe para corrigir erros claros; quando se torna lento e opaco, amplifica-os.


Há contextos em que um resultado define o futuro imediato de um treinador. Decisões desta natureza podem precipitar despedimentos, minar a autoridade técnica e quebrar a confiança de um grupo, tudo isto sem que alguém assuma responsabilidade. Portugal exporta talento de topo: jogadores, treinadores e diretores.
Mas internamente continua a permitir episódios que fragilizam a credibilidade da competição e do produto “futebol português”. Quando estas situações se repetem de forma assimétrica, a perceção pública deteriora-se. E no futebol profissional, a perceção pode ser quase tão destrutiva como o erro. O VAR é uma ferramenta.
Sem protocolos claros, tempos de decisão definidos e comunicação transparente, transforma-se em ruído. E o ruído destrói confiança. Este texto não é um ataque aos árbitros. É um alerta ao sistema. O futebol português precisa de mais clareza, liderança e coragem decisional. Sem isso, a tecnologia não resolve, apenas expõe o problema.

