Corria o minuto 72 e o SC Braga vencia o Sporting CP por um a zero, Nani apercebeu-se que ia ser substituído e, tal como as imagens comprovam, o internacional português não reagiu bem à decisão de José Peseiro. O capitão leonino barafustou, proferiu algumas palavras “entre dentes” pouco percetíveis, mas o seu desagrado, esse era bem notório. Confesso que na altura não me pareceu algo com demasiada importância, Nani via a sua equipa a perder num jogo importante frente a um rival e com o avistar do seu número na placa do quarto árbitro, a impotência e a frustração misturaram-se com o calor do jogo e o experiente jogador não conseguiu esconder o seu desagrado.
Mesmo assim e sendo fiéis ao que as câmaras captaram, o comportamento de Nani não foi algo de exagerado, um desagrado desmedido e exacerbado ou direcionado diretamente a alguém, nada disso, de todo. No entanto, Nani enverga a braçadeira de capitão e com a responsabilidade acrescida inerente esperar-se-ia outro controlo emocional por parte do experiente extremo. Nani deve primar pelo exemplo, para o bom e para o mau, e desta vez Peseiro não teve dúvidas na atitude a tomar. Como? Fazendo de Nani um exemplo, mas já lá vamos.
Após o jogo, ao que parece, o talentoso extremo retratou-se de forma privada perante o grupo e equipa técnica e, na minha opinião, José Peseiro e o plantel poderiam ter resolvido aí a questão, seja com uma repreensão ou com um castigo, pois parece-me que uma situação nestes moldes deve ser algo a gerir internamente, é algo que diz respeito ao grupo de trabalho e até para não dar azo a “folclore mediático” ou espaço ao “linchamento” público do jogador. Porém, o técnico coruchense optou por outra via para tratar o caso e viveu-se uma espécie de deja vu em Alvalade em matérias de comunicação, onde ao longo dos últimos anos, os conceitos de comunicação externa e interna têm sido constantemente mal empregues e pouco assertivos, trazendo sempre mais instabilidade do que ganhos.
Posto isto, na conferência de imprensa de antevisão à receção ao Marítimo SC, Peseiro não teve “papas na língua” e criticou de forma veemente a conduta do capitão leonino. Este para mim foi o erro garrafal do treinador da turma de Alvalade em todo o processo. Errou, principalmente, no canal que utilizou para passar a mensagem mas também no timing, fazendo uma reprimenda pública completamente evitável, reavivando um assunto que parecia morto e que deveria ter sido tratado “dentro de portas”. Assim, os holofotes viraram-se todos para a equipa e para o jogador em concreto, ofereceu-se terreno fértil para brotarem especulações e criou-se um alvoroço absolutamente desnecessário depois de uma derrota difícil de digerir.
Para além deste “puxão de orelhas” em praça pública, quando saiu a convocatória leonina para esse jogo, o nome de Nani não estava na lista, tinha sido afastado da partida como castigo pela sua saída a contragosto em Braga. Do meu ponto de vista, riscar Nani do jogo não só me pareceu manifestamente exagerado como arriscado, tendo em conta a importância de dar uma resposta depois do desaire no Minho. Porém, quando em relação a sanções e castigos é difícil tomar uma posição totalmente vincada, pois para conduzir estas situações é preciso estar dentro do balneário, ter sempre em conta toda a estrutura que está por detrás de uma equipa de futebol e o respetivo código de conduta do clube que guia todo o trabalho.
Desta feita, José Peseiro deixou transparecer ainda a ideia de querer manter a coerência na sua forma de liderar o plantel: com “mão pesada” e elevando sempre valores como a equipa e a união. Esta forma de atuar ficou bem patente desde o início da temporada com os casos de Matheus Pereira e Chico Geraldes e parece que essa vai mesmo ser a linha a seguir, porque nem o capitão leonino saiu incólume.
As reações a todo o processo não tardaram em surgir e não poderiam ser mais ambíguas. Quando o nome de José Peseiro foi anunciado nos altifalantes de Alvalade, os assobios fizeram-se sentir como forma de protesto pela forma como o técnico tratou o “caso Nani” (nome pomposo dado pela comunicação social). Contudo, durante o decorrer do encontro, a curva sul não hesitou em demonstrar o seu apoio ao técnico com uma tarja onde se podia ler “Muito bem, míster”, demonstrando como o conceito “zero ídolos” ganhou ainda mais força em Alvalade depois das rescisões que assolaram o clube no verão e agora, qualquer dose, ainda que mínima, de vedetismo é prontamente reprovada pelos adeptos organizados do Sporting CP. Falando de reações, a de Nani ao longo de todo o processo pareceu a correta, o capitão da equipa verde e branca não se escondeu, publicou diversas mensagens de apoio à equipa nas suas redes sociais, como tem sido seu apanágio e ainda deu “um saltinho” ao pavilhão João Rocha para ver a equipa de andebol leonina antes de se encaminhar para os camarotes do Estádio José de Alvalade XXI.
Ainda assim e para concluir, penso que todo este imbróglio teve uma visibilidade e uma repercussão desmedida, muito graças às palavras de José Peseiro, dispensáveis na minha opinião e muito provavelmente, sem elas esta questão nem teria relevância e teria passado de forma bem mais ligeira pela ordem do dia.
Mas tudo está bem quando acaba bem, não é? O Sporting CP, mesmo sem Nani, recebeu e venceu a equipa insular, aproveitou o deslize do SL Benfica e voltou a colar-se ao topo da tabela (o que ajuda a “limpar para debaixo do tapete” todo o imbróglio), Nani descansou para o jogo de Liga Europa a meio da semana e José Peseiro sai reforçado. Ao que tudo indica, a situação ficará enterrada no passado, Nani manterá a braçadeira e a mensagem do treinador continua a passar: o grupo está acima de tudo, a união é chave e não serão tolerados quaisquer desvios desse caminho.
Foto de Capa: Sporting CP
artigo revisto por: Ana Ferreira