Roberto Martínez deu uma larga entrevista ao jornal espanhol MARCA. Fica com as principais declarações do Selecionador Nacional.
Roberto Martínez deu uma larga entrevista ao jornal MARCA, na qual falou sobre vários temas. O técnico de 52 anos abordou o facto de Portugal ter tido, na história, poucos selecionadores estrangeiros e o desejo de aprender o idioma o quanto antes.
«É curioso. Só houve dois treinadores estrangeiros e ambos eram de língua portuguesa, brasileiros, mas sempre me senti muito bem acolhido, com muito carinho. Não só como treinador. No dia a dia, com a minha família, sentimo-nos em casa. Compreendia que pudessem existir dúvidas: por que precisamos de um treinador estrangeiro quando os portugueses são dos mais requisitados? Por isso, a minha proposta foi aprender a língua o mais rápido possível. Se eu fosse adepto, gostaria que o treinador falasse português».
Roberto Martínez faz o balanço da sua experiência à frente da Seleção Nacional:
«Gosto de trabalhar sempre com a ideia de tomar decisões válidas para os próximos 20 anos. É uma responsabilidade que temos. Jogámos 36 partidas e conseguimos um equilíbrio muito bom e uma grande consistência. Ao nível das seleções, temos três dias para preparar um jogo. Não faz sentido mudar os 23 jogadores em cada lista, porque se perdem os conceitos. Mantivemos o compromisso de jogadores com muita experiência que adoram estar na seleção: Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Rúben Neves, Rúben Dias, Cristiano Ronaldo… Além disso, conseguimos abrir caminho para novos talentos que chegaram para ganhar jogos: Vitinha, João Neves, Chico Conceição, Pedro Neto, Renato Veiga… O futebol de formação em Portugal é incrível e constitui um exemplo para outros países. Gosto sempre de salientar isso. Com 11 milhões de habitantes, consegue todos os anos ter 3-4 jogadores de altíssimo nível».
Roberto Martínez falou sobre o sorteio de Portugal no Mundial 2026:
«Aprendi que os sorteios devem deixar-nos com respeito pelo adversário… mas nenhuma emoção. As equipas que chegam ao Mundial não são as que realmente disputam o torneio, elas vão-se formando. O que nos deixou muito satisfeitos foi o que isso nos permitiu em termos de preparação. Ao jogarmos a primeira partida a 17 de junho, podemos ajustar muito bem os tempos desde a final da Champions (30 de maio) para trabalhar o jogador de forma mais individual».
Roberto Martínez falou sobre o novo formato do Mundial, com 48 seleções:
«Eu adoro. O Mundial é para todos e os adeptos e jogadores deveriam ter mais facilidade para chegar ao Mundial. O que eu não gosto é do formato. Há muitos jogos e todos eles deveriam ter a mesma importância. Por isso, gostaria que os líderes de grupo, como acontece na Champions, avançassem automaticamente para a fase seguinte. Assim, evitaríamos situações em que o terceiro jogo da fase de grupos se torna uma oportunidade para ver qual o caminho mais apetecível em termos de logística ou adversários. Acho que isso não está de acordo com o espírito do futebol, que seria ganhar todos os jogos».
Roberto Martínez não coloca Portugal como favorito a ganhar o Mundial 2026 e explica:
«É aqui que se vê a diferença entre ser favorito e candidato. Acho que só aqueles que já ganharam um Mundial podem ser considerados favoritos. A nível psicológico, saber que uma geração anterior ganhou esse torneio dá uma força especial, mas, mesmo assim, tenho uma confiança incrível neste grupo de jogadores pela forma como vivem a seleção. A referência de Eusébio, que terminou em terceiro lugar no Mundial de 1966, é a coisa mais bonita que eles podem ter. É um estímulo e o grupo está preparado para um desafio como esse, embora saibamos da dificuldade que isso implica».
«Agora, posso dizer que vejo seleções que chegam muito bem preparadas, como a Espanha. A Alemanha também chega preparada pelo que aconteceu em casa na Nations… Além disso, é a única seleção europeia que ganhou um Mundial na América (Brasil’14). A França, na minha opinião, é feita para grandes torneios e também, por proximidade, o Brasil e a Argentina», disse ainda Roberto Martínez.
Roberto Martínez foi questionado sobre se assinaria ganhar a final do Mundial contra a Espanha:
«Jogar oito partidas seria um sucesso. Todas as seleções europeias têm uma desvantagem maior e não se fala muito sobre isso: três países, adaptar-nos à logística, à altitude, ao clima… Viemos de uma Copa do Mundo (Catar 2022) que foi o oposto: mesmo local de concentração, jogada no meio da temporada…»
«Adoraria disputar uma final. Em termos emocionais, temos de respeitar muito as nossas origens, mas em termos profissionais, o trabalho está sempre centrado no que podemos alcançar. Se pudermos disputar outra final, como fizemos na Nations, seria fantástico. Sabemos que a Espanha vai chegar longe e disputar uma final seria uma prova de um trabalho muito bem feito», disse depois.
Roberto Martínez destaca a maior fortaleza da Seleção Nacional:
«Flexibilidade tática. Experimentar diferentes aspetos táticos é fácil, mas executá-los bem é muito difícil. Isso tem a ver com a formação dos jogadores portugueses: eles são competitivos e adoram informações táticas. Essa combinação permite usar diferentes formas de jogar, dependendo do que for necessário».
Sente que tem em mãos a geração de ouro do futebol português?
«A melhor geração do futebol português é a de 66. Quando falamos em premiar uma geração, deve ser um grupo que conquiste um título, um aspecto que os diferencie. Temos jogadores excepcionais com uma competitividade tremenda. O desafio é esse. Este balneário merece ser a melhor geração de sempre, mas isso não se dá. Isso tem de ser conquistado em campo».
Roberto Martínez falou sobre a conquista da Liga das Nações:
«A Liga das Nações tem vindo a melhorar até chegar a um ponto em que se tornou o torneio de seleções com o maior número de jogos (10). Além disso, é disputada ao longo de 10 meses, o que implica exigência e consistência. Na final four, Portugal venceu a Alemanha na Alemanha 25 anos depois e depois enfrentou a Espanha, campeã europeia, pela primeira vez numa final. Não há jogos mais difíceis do que estes. Não tem o prestígio de um Europeu ou de um Mundial, mas o grau de dificuldade é muito elevado».
«Seja a nível de clube ou de seleção, bloqueia muito o adversário. O foco está no aspecto tático e naquilo em que podemos ajudar os nossos jogadores. Esquece-se totalmente da parte emocional. Isso vem com a experiência. Não senti que estava a jogar contra a Espanha. Só depois, quando olhas para trás, percebes que a seleção que enfrentámos era a do país onde nasci», recordou assim a final contra a Espanha.
Roberto Martínez falou sobre Cristiano Ronaldo, com vários elogios à mistura:
«A atitude. Há três pilares que analisamos constantemente: o talento, a experiência e a atitude que ele pode trazer para a Seleção. Essa exigência máxima que ele tem consigo mesmo para estar presente e ajudar é o que permite ao capitão da seleção estar sempre na lista dos convocados. Essa vontade de ser o melhor transmite-se em campo. É contagiante. 25 golos em 30 jogos a jogar como «9» demonstra que o que ele faz em campo gera muito para a seleção».
«A percentagem de que falas tem muito a ver com a mudança de posição dele. Estamos a falar de um jogador que começou por ser um extremo muito habilidoso e agora é mais um jogador de referência dentro da área. Nós vemos isso: Cristiano condiciona o adversário. Quando ele está em campo, abre-se outro espaço porque há dois jogadores que vão estar atentos à sua marcação», acrescenta.
Roberto Martínez foi questionado sobre a possibilidade de Cristiano Ronaldo chegar aos 1000 golos:
«Ele está num momento muito bom da sua carreira. E conseguiu isso porque vive o dia a dia. Quando fala das suas metas, ele afasta-se muito do longo prazo: chegar aos 1.000, jogar um determinado número de partidas… O seu segredo é ser o melhor hoje e aproveitar o dia a dia. Então, o número será uma consequência do dia em que ele decidir parar. Não acho que seja um objetivo».
Roberto Martínez recordou a morte de Diogo Jota:
«Foi uma tragédia a nível humano, social, que transcende o desporto. É gerida com naturalidade, respeitando o facto de que todos temos de passar pelo luto de uma forma diferente. No nosso caso, o balneário geriu-a com um sentido de responsabilidade. O Diogo era uma fonte de positivismo, sempre pronto para lutar. E um virtuoso: trazia intensidade, versatilidade, tinha gol… Era um jogador insubstituível».
«Ganhámos juntos a Nations League e todos sabíamos que o seu sonho era ganhar o Mundial. Tivemos de aceitar isso. Ele deixou-nos a ideia de que na vida temos de aproveitar ao máximo e viver o presente. Essa mensagem é muito forte e já houve muitos sinais: no primeiro jogo na Arménia, marcámos aos 21 minutos, houve mais um minuto de aplausos aos 21 minutos e a Hungria marcou… Queríamos retirar o seu número, mas Rúben Neves, o seu amigo mais próximo, aceitou-o a pedido da família e, após 60 internacionalizações, marcou o seu primeiro golo. Levamos o Diogo como mais uma força. É aquela luz que nos faz lembrar que temos de dar tudo e aproveitar, porque há coisas que não podemos controlar», disse ainda Roberto Martínez.
Roberto Martínez elogia Vitinha:
«Ele é capaz de executar o que nós, treinadores, pensamos a qualquer momento. Tem capacidade técnica para antecipar o que vai acontecer no jogo. A sua leitura do jogo e controlo da bola são difíceis de encontrar. Concordo com as palavras de Luis Enrique».
Roberto Martínez elogia também Nuno Mendes:
«É o que tem o melhor registo. Quando falamos de um lateral esquerdo, esperamos que ele seja rápido, recupere a bola, defenda um contra um, seja bom no jogo aéreo… O Nuno pode jogar pela lateral ou pelo meio, pode jogar mais como um 10 do que como lateral, sabe chegar à área, pode atuar como terceiro zagueiro… Nunca vi um lateral esquerdo tão bom em tantas funções diferentes».
Roberto Martínez foi questionado sobre ser um dia Selecionador de Espanha:
«Sou uma pessoa muito estranha nesse sentido. Não me vejo em nenhum outro lugar que não seja a seleção de Portugal. Agora, a nossa preocupação é a preparação para o Mundial. Depois, depende muito do projeto e de com quem se trabalha, porque acredito muito nas relações pessoais e nas pessoas que realmente acreditam no seu trabalho. Mas, insisto, hoje em dia não me vejo em nenhum outro lugar que não seja Portugal».

