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O Torreense e uma lição de estabilidade e organização para o futebol português

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São os blaugrana da Segunda Liga e a sua ligação a Espanha vai muito além da utilização das mesmas cores do Barcelona. É no Estádio Manuel Marques, célebre terreno onde o som do comboio a passar se mistura com os gritos dos adeptos, que atua um dos destaques do futebol nacional na presente temporada. O Torreense segue na batalha da subida ao principal escalão, um dos objetivos do seu projeto, que se apresenta como sólido e duradouro.

Sim, em Torres Vedras criaram-se condições para a existência de um projeto que pense além de um ou dois anos, uma raridade nos tempos de hoje. Estamos habituados a equipas que olhem para o imediato, concentrando-se na sobrevivência ou num all in, que não pode correr bem a todos. Pouco se vê tal ponto intermédio e o crescimento sustentado que o Torreense tem demonstrado nos últimos anos, que ganhou outros contornos desde a chegada de Nuno Carvalho, homem forte do projeto e principal investiro. A saída de Mário Miranda e a entrada de José Sebastião para a presidência dos azul-grená também marca esta fase.

Foi em 2021/22 que o Torreense conseguiu ser promovido à Segunda Liga, sagrando-se campeão da Liga 3, ao bater a Oliveirense nas grandes penalidades, encontro que transportou Torres Vedras para o Jamor. Guilherme Oliveira foi lançado por Nuno Manta Santos para ser o herói, e conseguiu-o. Apesar do sucesso, a equipa de hoje em dia pouco ou nada tem de vestígios dessa época de glória, nem mesmo os pilares em que foi montada. Em 2023/24 assistimos a um câmbio radical, o começo do projeto que vemos em 2025/26. Várias figuras mudaram e o Torreense começou a olhar para o futebol de uma maneira distinta, diferenciada para o lado positivo.

Os resultados são fruto da mudança. Verifiquemos as últimas classificações do Torreense, desde a sua chegada à Segunda Liga:

  • 2022/23- 9.º lugar
  • 2023/24- 7º. lugar
  • 2024/25- 5.º lugar

O SCUT nunca esteve perto de um regresso às competições não profissionais e a cada ano que passa dá um passo em frente, mantendo uma ideia, por muito que peças fundamentais deixem o clube, geralmente para assumirem desafios maiores.

Javi Vázquez Torreense
Fonte: Edmilson Monteiro/Bola na Rede

André Sabino chegou a Torres Vedras no verão de 2023, provocando grande parte das mudanças existentes. Depois de coordenar os Sub-23 do Estoril Praia, subiu ao norte da região da Extremadura para controlar o futebol profissional do Torreense, que tinha em João Tomás o seu diretor desportivo. O sucessor do antigo avançado trazia no bolso duas Ligas Revelação e duas Taça Revelação, sendo um especialista num escalão que o emblema azul-grená não tinha até então. A sua criação foi fundamental para os resultados que vemos aos dias de hoje. Hoje em dia, o Torreense é uma referência nos Sub-23, mas já aprofundaremos tal questão. As mudanças não ficaram por aqui.

O conjunto de Torres Vedras transformou-se nos últimos anos num modelo no que ao mercado de transferências diz respeito, sem gastar qualquer cêntimo em contratações. Há uma linha de pensamento clara, com o foco em 4/5 mercados, com um conhecimento profundo, sem deixar de lado os restantes países. Afinal, o talento pode surgir de qualquer parte do globo. A importância dada a Espanha é de enaltecer, sendo o Torreense um especialista em contratações de atletas de escalões inferiores, algo cada vez mais comum em Portugal, mas nem sempre bem feito. Fran González e Jonny Arriba foram as primeiras apostas. Se a passagem do primeiro foi tímida, o segundo ainda sonha com triunfar em Portugal. Atualmente está cedido ao Feirense, mas na época passada foi um dos pontos positivos da temporada do Unionistas de Salamanca, que se viu surpreendentemente envolvida na luta pela despromoção e o extremo conseguiu agitar em vários encontros, sendo aposta tanto de Dani Llàcer como de José Luis Acciari.

Manuel Pozo Torreense
Fonte: Edmilson Monteiro/Bola na Rede

2024/25 trouxe os dois grandes nomes desta política de aposta em elementos do país vizinho: Javi Vázquez e Manu Pozo. O primeiro atua como lateral esquerdo, enquanto que o segundo faz a posição de extremo.

Javi Vázquez destacou-se na formação do Sevilha, mas foi longe da Andaluzia que alcançou o sucesso no futebol profissional. Em 2022/23 assumiu-se como titular no Ibiza, que não resistiu à descida à Primera RFEF, sendo aposta do Lugo para a temporada seguinte, onde captou a atenção do emblema do Manuel Marques. O seu impacto foi imediato, com 36 encontros, quatro golos e seis assistências em 2024/25. Esta época tambéme stá a fazer a diferença. levando para já 11 jogos, um tento e cinco assistências. Em suma, é um lateral sem medo de participar em todas as fases do jogo, com uma capacidade de atuação na zona ofensiva bem acima da média, algo positivo para equipas que procuram assumir o jogo e disputar os três pontos, não se limitando a defender em bloco.

Já Manu Pozo viu-se sem espaço na equipa principal do Real Valladolid, que subira à La Liga em 2023/24, numa fase em que os B’s já eram curtos para a sua qualidade (30 partidas, 10 golos e três assistências). O extremo está habituado a fazer o gosto ao pé e na sua época de estreia no Torreense provou o ponto, com 16 participações em golo em 36 jogos, atuando geralmente como extremo direito, com Tiago Fernandes a aproveitar da melhor maneira o pé esquerdo do andaluz (que, por curiosidade, fez parte da sua formação no Real Bétis, rival do Sevilha Javi Vázquez).

Na mesma época assinou em janeiro Ethyan González, nome conhecido para muitos no futebol espanhol. Outrora estrela em ascensão da famosa cantera do Tenerife, que o levou ao Atlético Madrid, o avançado tentou dar um novo rumo à sua carreira e viajou até Torres Vedras, de maneira a fazer 14 jogos e quatro golos, partindo para o Catar no último verão.

Arnau Casas Torreense
Fonte: Bernardo Benjamim/Bola na Rede

André Sabino e a equipa de scouting voltou a concentrar-se em Espanha, de modo a identificar reforços para 2025/26 e a aposta foi ainda mais forte, dado o sucesso dos três últimos nomes. Foram contratados sete atletas:

  • Unai Pérez (ex-Barakaldo)
  • Arnau Casas (ex-Cambuur, com passagem de vários anos no Barcelona)
  • Aritz Muguruza (emprestado pelo Eibar)
  • Alex Carbonell (ex-Amorebieta)
  • Alejandro Alfaro (ex-Deportivo de La Coruña- era aposta na B)
  • Musa Drameh (ex-Hearts, com passagem de vários anos no Sevilha)
  • Javirro (ex-Cádiz)

Há uma atenção especial do scouting do Torreense em elementos da Primera e Segunda RFEF (especialmente a norte), campeonatos recheados de talentos e marcados pela alta competitividade. É cedo para avaliar de maneira conclusiva o sucesso ou insucesso destes nomes (pese embora alguns tenham chegado para os Sub-23), mas a relevância de Arnau Casas e Alejandro Alfaro no onze leva-nos a acreditar que a aposta é para continuar.

Sendo assim, é praticamente seguro afirmar que em 2026 vão chegar mais nomes, não necessariamente em jogadores de conjuntos que estejam no topo da classificação (o Amorebieta, por exemplo, desceu de divisão) e até novembro já é possível distinguir alguns dos craques dos escalões.

Stopira Torreense
Fonte: Bernardo Benjamim/Bola na Rede

Contudo, o mercado do Torreense vai mais além dos nuestros hermanos. Desde França, passando por Brasil. até aos países nórdicos houve uma análise de vários nomes, com alguns a serem contratados. Os resultados estão à vista, com o lucro obtido em três operações:

  • Marvin Elimbi: vendido ao Gil Vicente por 500 mil euros, mais 500 mil euros em variáveis e uma percentagem de 50% de uma futura venda
  • Dani Bolt: vendido ao Qarabag por 400 mil euros
  • N’Tamon Elie: vendido ao Stade Reims por dois milhões de euros, mais quinhentos mil euros em variáveis e 20% de uma futura venda (além da cedência do passe de Mohamed Ali-Diadié, em definitivo).

Porém, o Torreense também está atento ao mercado nacional, ao que existe dentro de portas. Ainda assim, aposta na vertente da experiência, trazendo nomes mais ‘batidos’. David Bruno (33 anos), Stopira (37 anos), Pité (31 anos) e João Costinha (33 anos) fazem parte do projeto em 2025/26 e são os líderes de um balneário jovem (tem uma das médias de idade mais baixas da Segunda Liga). Claro que existem exceções à regra e uma delas ‘encheu os bolsos’ ao Torreense. Vando Félix chegou aos azul-grená no verão de 2024 e bastou meia temporada para mostrar a sua qualidade. Saído das escolas do Sporting, fez pela Extremadura 13 jogos, marcando quatro golos e dando uma assistência (estava na outra banda do ataque que contava com Manu Pozo), o que levou ao Vitória SC decidir-se por investir um milhão de euros fixos no guineense (600 mil euros em variáveis, mais 25% de uma futura transferência.

João Costinha Torreense
Fonte: Bernardo Benjamim/Bola na Rede

Os mercados do Torreense ficaram marcados pelo sucesso, principalmente porque não existe uma mudança radical de política quando um ou outro atleta não produzem o esperado (como o caso de Fran González, hoje em dia no Atlético CP). Todavia, há margem para os críticos, devido à falta de jogadores nacionais no plantel. São somente seis atletas portugueses fixos na equipa, embora este número possa aumentar, se forem promovidas as referências dos Sub-23: Rodrigo Marquês, Gonçalo Queda, Guilherme Cascalheira, Nilton Cardoso ou Ricardo Canário.

A instituição também segue uma linha na hora de eleger treinadores, evitando mudanças a 100%. A política é clara: são desejados treinadores promissores (não olhemos a idades, mas sim à experiência) e que possam vir a dar o salto no futuro. Rui Ferreira foi a primeira aposta da estrutura do futebol, que ainda não era liderada na altura por André Sabino, que apenas chegou semanas depois. O treinador já conseguiu chegar à Primeira Liga, pelas mãos do AVS SAD, e chefiou a equipa técnica em 18 jogos, somando oito triunfos. Manuel Tulipa (possivelmente o único nome que destoa em termos de longevidade de carreira) foi o seu sucessor. O técnico hoje em dia lidera o projeto do Ararat, que disputa o título na Arménia.

A linha da continuidade comprova-se com a escolha de Tiago Fernandes, promovido dos Sub-23. O filho de Manuel Fernandes foi alvo de críticas em outras fases da sua carreira, mas no Torreense atingiu o que foi o seu apogeu até ao momento, acabando por assinar pelo Portimonense no último verão. Para o substituir chegou mais um treinador com relativo conhecimento da Segunda Liga, mas que ainda é considerado uma promessa, com aceitáveis ambições de atingir a Primeira Liga. Vítor Martins assinou até ao final da época, depois de voltar a ganhar o crédito que tinha ao serviço do Feirense. Se a passagem anterior pelo Académico de Viseu ficou aquém, nos ‘fogaceiros’ realizou uma época bem tranquila, como era pedido, com um oitavo posto. Em Torres Vedras leva sete vitórias, três empates e duas derrotas, não sabendo o que é perder desde o final de agosto.

Vítor Martins Torreense
Fonte: Bernardo Benjamim/Bola na Rede

O projeto do Torreense vai mais além do futebol sénior. Quando se pensa a longo prazo, os Sub-23 e os Sub-19 passam a ser partes importantes do projeto, diria até, fundamentais. E os resultados estão à vista de todos. Depois de um quarto lugar na Liga Revelação 2023/24 (pelas mãos de Tiago Fernandes), o conjunto de Luís Tralhão venceu o troféu em 2024/25. O emblema transformou-se numa referência de como trabalhar o escalão, absolutamente chave para equipas que não possuem equipa B ou então, com a mesma em divisões muito inferiores.

Já nos juniores, o Torreense conseguiu pela primeira vez a qualificação para a fase de Apuramento de Campeão em 2024/25, deixando o Sporting de fora da decisão. Financeiramente, a aposta firme nestes dois estratos já deu igualmente frutos. N’Tamon Elie, referido anteriormente, chegou à Extremadura para reforçar os Sub-19 e fez o seu crescimento próximo à equipa A, mas atuando nos outros escalões, antes da sua afirmação pela como central.

Torreense jogadores
Fonte: Bernardo Benjamim/Bola na Rede

Há uma ligação íntima entre todos os jogadores, o que fortalece o grupo. São dadas as condições necessárias aos atletas como a criação de um Mini-Hotel para albergar os Sub-23 e os Sub-19. Foi também construído um refeitório disponível para todos os jogadores, fomentando as relações. André Sabino (e a restante estrutura) tratou também de criar um Departamento de Alta Performance com equipas de Fisiologia, Fisioterapia, Psicologia, Nutrição e Desenvolvimento de Treino Individual. Há igualmente uma docente de Português, de maneira a adaptar de forma mais fácil os jogadores oriundos dos estrangeiros, inserida no Gabinete de Apoio ao Jogador.

Não é garantido que o Torrense vá alcançar a promoção nesta temporada, objetivo que conta com claros candidatos, que possuem inclusivamente orçamentos superiores. Porém, há um caminho que está a ser seguido e não existe perspetiva de uma mudança radical. A equipa já perdeu treinadores e jogadores que eram chave e nunca se desviou do seu plano. Ainda que possua uma boa saúde financeira, a equipa optou por manter as contratações sem custos, quando poderia apostar por arriscar em ‘nomes de luxo’, que pediriam outro tipo de salários e que estariam presos por contratos a outras instituições. Cair na tentação era fácil, mas em Torres Vedras não se olha somente para o hoje. Um projeto a acompanhar e que possivelmente pode servir de referência para outros.

Atletas do Torreense
Fonte: Edmilson Monteiro/Bola na Rede
Ricardo João Lopes
Ricardo João Lopeshttp://www.bolanarede.pt
O Ricardo João Lopes realizou a sua formação na área da História, mas é um apaixonado pelo desporto (especialmente pelo futebol) desde criança, procurando estar sempre a par da atualidade.

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