«Sou mais conhecido em Portugal do que no próprio Brasil» – Entrevista BnR com Edmílson

    – FC Porto: a confirmação da afirmação –

    BnR: Depois da temporada brilhante em Vidal Pinheiro, chega a verdadeira coroação: o FC Porto. Em 2017, numa entrevista dada ao DN, admitiste que o Vitória de Guimarães também estava na corrida. Sentiste que estavas pronto para vestir a camisola azul e branca?

    E: Fiz a opção certa. Tinha sido o melhor marcador do Salgueiros e o terceiro melhor marcador do campeonato. Fiquei atrás do Hassan (ex-Farense) e do Marcelo (ex-Tirsense). É normal que os clubes demonstrassem interesse por mim. Em Guimarães, conversei com o Pimenta Machado, mas acabei por optar pelo FC Porto porque é uma equipa na qual qualquer jogador quer jogar. Surgiu, não olhei para trás e aceitei as condições que me deram.

    BnR: No FC Porto, quem foram as primeiras pessoas dispostas a ajudar-te? Os teus mentores? Que pessoas guardas com carinho?

    E: Ainda eu estava no Salgueiros e já tinha um convívio enorme com o Émerson, o Aloísio e o Zé Carlos, jogadores do clube, à data. A gente andava sempre junta, fazíamos muitos churrascos em minha casa ou na casa deles, já tínhamos uma conexão enorme. Cheguei ao FC Porto, eles receberam-me de braços abertos, assim como todo o plantel. Sem exceções. Fui bastante acarinhado.

    BnR: Duas épocas nas Antas, dois campeonatos. 30 golos e um enorme contributo no bicampeonato e tricampeonato. Tenho uma pergunta difícil para fazer, Edmílson. Gostaste mais de assistir o Jardel ou o Domingos? Ambos excecionais, na minha ótica…

    E: (risos). É difícil fazer uma comparação. São duas lendas do clube, dois jogadores fenomenais. Dois craques, dois goleadores. No primeiro ano, assisti o Domingos que fez a melhor época da sua carreira profissional. Na segunda, o Jardel chegou e é o que a história guarda. Garanto, somente, que são dois jogadores que qualquer clube gostava de ter nos seus quadros.

    Fonte: Facebook de Edmilson

    BnR: Durante os dois anos, foste treinado por dois técnicos distintos: António Oliveira e Bobby Robson. Com qual dos modelos táticos melhor te identificaste?

    E: Gostei de jogar sob o comando dos dois. Ambos apostaram muito em mim. O Bobby Robson foi buscar-me ao SC Salgueiros e apostou verdadeiramente em mim. Ajudou-me bastante, deu-me muita confiança e motivação para continuar a marcar golos. Dispunha a equipa e um dos propósitos era esse. Ajudava muito defensivamente o Secretário, o (Sérgio) Conceição e o João Pinto. Eles foram parte da chave do meu sucesso. E, com o (António) Oliveira também não foi diferente: nos primeiros jogos do ano do tri, o Oliveira mudava a equipa algumas vezes e foi dos únicos (senão o único) a não ser substituído, tanto na UEFA Champions League como no Campeonato. Foram duas épocas maravilhosas com dois grandes treinadores.

    BnR: Em 1996/1997, segunda época, o FC Porto é campeão. Mas, na minha análise, ocorrem dois acontecimentos para mais tarde recordar: a vitória por 0-5 na Luz, para a Supertaça Cândido de Oliveira, e a vitória em Milão (2-3). Qual deles guardas com maior nostalgia?

    E: Sem dúvida, são dois momentos que ficam na retina. Realmente, a vitória na Luz, por 0-5, foi incrível. Marquei o segundo golo. Tudo correu perfeitamente naquele jogo. Inclusive, como já falei noutras entrevistas, os próprios adeptos do SL Benfica aplaudiram-nos durante após o jogo. Nunca tinha visto tal coisa. Um momento muito especial. Além disto, a vitória em Milão, a contar para a Champions League: toda a equipa fez um jogo irrepreensível, uma vitória que fica para a História. Nesse ano, chegamos aos oitavos de final da competição.

    BnR: Nesse jogo, o Jorge Costa aponta o terceiro golo após um canto, sendo o único jogador portista na área defensiva das águias. Como é que explicas isso?

    E: Entramos para a segunda parte. Fomos para o intervalo com 0-2. A equipa estava tranquila. O Zahovic bateu o canto e o Jorge Costa apareceu com toda a sua força e esperteza. Cabeceou bem, colocou bem a bola. Era muito eficiente nesses lances. Aí, tivemos a certeza de que o jogo estava ganho.

    BnR: Para finalizar o capítulo do FC Porto, uma última questão. Jogaste com Sérgio Conceição, conhecias-o bem. Imaginaste, algum dia, que ele pudesse comandar o clube?

    E: Pelo jeito de ser do Sérgio, pela força, por aquela sua garra característica, eu sabia que estava ali algo a despontar. Estava consciente de que, mais tarde ou mais cedo, aquele jogador ia ser treinador. Podia não chegar a um grande clube, mas sabia que ia conseguir ser treinador. O Sérgio odiava perder e, quando empatava, era um verdadeiro problema. Tinha uma cara fechada. Nos jogos – e mesmo nos treinos – discutíamos algumas vezes, mas era pelo bem do grupo. Todos sabíamos que era a sua forma de ser.

    Fonte: Facebook de Edmilson

    BnR: Tiveste alguma desavença com ele?

    E: Com ele e com outros jogadores! Era normal. Os treinos nas Antas eram muito aguerridos, muito duros, com embates muito fortes. Havia muitas brigas: Émerson e Jorge Costa, Paulinho Santos e Émerson, entre mim e o Aloísio (risos) ainda tivemos algumas discussões. Eu e o Sérgio pertencíamos ao mesmo corredor e, quando um estava menos bem numa determinada jogada, o outro chamava a atenção. Era assim que funcionava.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.