«Chegará o dia em que vamos trazer a Águia Dourada para casa» – Entrevista BnR com Martin Schmitt

    Professor Neca entrevista À BnR

    Entre 1997 e 2014 Martin Schmitt conquistou o ouro por quatro vezes nos Campeonatos Mundiais, a Taça do Mundo por duas vezes e uma medalha de Ouro nas Olimpiadas de Inverno em Salt Lake City (2002). Uma carreira recheada de sucessos, mas que ao longo do tempo foi também marcada por algumas lesões.

    Martin Schmitt é, em suma, um dos nomes mais ouvidos nos palcos mais efémeros dos Desportos de Inverno, nomeadamente na modalidade dos Saltos de Esqui. O saltador alemão que, outrora, aqueceu as pistas geladas e distantes das pistas de Saltos de Esqui, falou com o Bola na Rede (em colaboração com o Eurosport).

    Desde como se tornou profissional nos Saltos de Esqui, aos anos áureos da sua carreira e ainda em vista à antevisão ao Mundiais de Esqui Nórdico, eis o que falamos com o ex-atleta germânico.

    Bola na Rede: Começando, antes demais, por agradecer a possibilidade de entrevistar uma das minhas referências no plano desportivo, gostaria de saber se sempre pensou ser saltador de esqui ou anteriormente acreditava que o seu futuro passaria por outra área?

    Martin Schmitt: Em criança, desde os seis anos, sonhava em ser saltador de esqui na Taça do Mundo. Rapidamente percebi que era a minha paixão. Eu amava este desporto. Sonhava ser um dia um saltador de esqui de nível mundial e quando o sonho se tornou realidade foi algo surreal.

    Bola na Rede: Nunca pensaste em mais nada?

    Martin Schmitt: O futebol teria sido uma boa escolha. Não creio que chegasse à Bundesliga. Seria mais realista com os saltos de esqui.

    Bola na Rede: Com uma brilhante carreira, de cerca de duas décadas ao mais alto nível e com títulos que nunca mais acabam, como se preparou para o fim de carreira?

    Martin Schmitt: Sabes que um dia chegará a hora de fazer algo diferente e retirar-te do desporto que amas. Sabes que a tua vida vai mudar. Mas eu preparei-me. Tirei um curso de treinador. Fui fazendo outras coisas externas ao desporto profissional. Quando me retirei já tinha um plano com o que queria fazer a seguir. Tinha os meus objetivos. É muito importante ter objetivos, apesar de já estares retirado, e persegui-los. A vida também é agradável não sendo um atleta profissional.

    Bola na Rede: Que memórias tens da tua última competição?

    Martin Schmitt: As minhas últimas provas da Taça do Mundo não foram fáceis. Na minha última temporada não estava na minha melhor forma. Sabia que até podia resultar, mas exigiu mais de mim para estar ao melhor nível. Foi bastante difícil a preparação. Nas últimas provas até estava em boa forma, mas não fui capaz de o mostrar. Fiquei próximo, mas não no melhor nível. No fim, acabei com sentimentos contraditórios, a pensar que podia ter corrido melhor, mas foi bom poder terminar a carreira em frente ao meu público em casa, em Garmisch-Partenkirchen, na Alemanha. Olhando para trás estou muito feliz com a minha carreira. 

    Bola na Rede: Ainda sentes o bicho da competição?

    Martin Schmitt: Sim, por vezes ainda penso nos saltos de esqui, mas já não salto há 8 anos. Acho que não vou encontrar o meu caminho para os trampolins. De tempos a tempos ainda penso. As memórias ainda estão bastante presentes. Penso em grandes provas. É bom. Mas, neste momento, estou mais interessado em ver o que fazem os outros atletas.

    Bola na Rede: Se o Noriaki Kasai te encontrasse se calhar diria que ainda és um miúdo. 

    Martin Schmitt: O Noriaki é muito simpático. Quando me retirei, ele disse que tinha de voltar. Talvez possamos fazer algum Masters, ou torneio de veteranos. Uma vez que te retiras perdes um pouco o ‘feeling’ com os saltos. Creio que seria possível voltar a saltar, mas teria um pouco de medo.

    Bola na Rede: Longe de cumprir as espectativas depositadas pela, entusiasta, nação alemã que com frequência enche os trampolins de Oberstdorf e Garmisch como se de ambiente de jogo de Bundesliga se tratasse e com os atletas bávaros a desiludir ano após ano, crê que se pode falar de falta de qualidade na formação, de um bloqueio mental, ou da maldição de Sven Hannawald, após fazer o póquer? Aproveito para lhe perguntar se acredita, realisticamente, que a curto prazo o seu país poderá voltar a conquistar grandes títulos, particularmente a águia dourada, por todos desejada e sonhada.

    Martin Schmitt: [Risos]…Não creio que o Sven [Hannawald] seja responsável pelos rapazes não conseguirem bons resultados. Eles estiveram bem em quase todas as provas. Nos últimos anos, as coisas não têm corrido bem nos Quatro Trampolins, mas é uma questão de tentarem de novo. A Alemanha tem uma boa equipa. Acredito que um dia um atleta alemão vai ganhar o Torneio dos Quatro Trampolins. Neste momento, estão a debater-se com algumas dificuldades. É certamente um bloqueio mental coletivo. Não ganhar, não atingir o pico, ano após ano, vai ficando mais difícil e a pressão acumula-se. Mas, chegará o dia em que vamos trazer a Águia Dourada para casa. É uma situação igual à da seleção de futebol da Inglaterra que está à espera de trazer o Campeonato do Mundo para casa há ainda mais tempo.

    Fonte: Eurosport

    Bola na Rede: Já com mais de metade da Taça do Mundo de Saltos de Esqui transcorrida e dado que Granerud concretizou o que vinha ameaçando de algumas provas a esta parte e tendo em conta toda a experiência acumulada tanto da parte de fora como estando lá dentro, acredita que Kubacki ainda poderá recuperar forma e “roubar” o colete ao viking, ou dada a forma por este ostentada já será bastante complicado alguém evitar o segundo grande globo da carreira do nórdico?

    Martin Schmitt: O Granerud parece estar tão forte e numa forma tão estável que será muito difícil ao Kubacki apanhá-lo. Ainda temos mais alguns eventos de voos de esqui e isso favorece o Granerud. Acho que para os Mundiais vai ser uma corrida em aberto, o Kubacki tem a oportunidade de ganhar uma medalha de ouro, mas para a Taça do Mundo, na minha opinião, será o Granerud a ganhar.

    Bola na Rede: Qual a razão para alguns atletas de excelência em trampolins K90 e K120 não conseguirem ser felizes em estruturas de Ski Flying? É algo psicológico, morfológico, menos horas de treino em “monstros” destes ou falta de feeling?

    Martin Schmitt: É mais a tua técnica de salto, o estilo, a forma como aprendes a saltar em criança. É como uma impressão digital. Tu podes mudar um pouco, mas é muito difícil. Olhando para o Kubacki ele é fortíssimo na descolagem, o salto apoia-se muito na sua força física, na potência, mas depois perde muita velocidade na primeira fase do voo. Apesar de ter melhorado muito a sua técnica de voo da temporada passada para esta, ele ainda perde muita velocidade na primeira fase do voo, na transição, depois da descolagem, por isso, não tem tanto êxito nos voos de esqui.

    Bola na Rede: Para terminar, e estando nós na antecâmara dos mundiais de Esqui Nórdico em Planica, quem são para si os maiores favoritos aos metais? Acredita que os momentos vividos atualmente na geral da Taça do Mundo poderão ser transpostos para esta competição ou são de esperar surpresas com atletas fora de forma a assinar um dia glorioso saindo de medalha ao pescoço?

    Martin Schmitt: Num dia de competição único qualquer coisa pode acontecer. É o que têm os Campeonatos do Mundo. Mas, o Granerud é o grande favorito! Há dois anos, apanhou Covid-19 antes dos Mundiais de Oberstdorf. Teve azar. Este ano já ganhou o Torneio dos Quatro Trampolins, por isso já não tem tanta pressão. Já tem o troféu mais importante ‘no bolso’. Agora é a próxima grande conquista, mas há outros que o podem bater num trampolim normal como o Kubacki, com as suas descolagens poderosas, ou o Ryoyu Kobayashi que está a ficar mais forte. Nos Mundiais há sempre que ter em conta o austríaco Stefan Kraft. Ele está sempre no seu melhor neste tipo de competições. Temos ainda o esloveno Anze Lanisek que salta em casa motivado pelo seu público e num trampolim que conhece muito bem. Os trampolins são especiais em Planica, podem dar essa vantagem. 

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    Diogo Rodrigues
    Diogo Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Lusófona do Porto. É desde cedo que descobre a sua vocação para opinar e relatar tudo o que se relaciona com o mundo do desporto. Foram muitas horas a ouvir as emissões desportivas na rádio e serões em família a comentar os últimos acontecimentos/eventos desportivos. Sonha poder um dia realizar comentário desportivo e ser uma lufada de ar fresco no jornalismo. Proatividade, curiosidade e espírito crítico são caraterísticas que o definem pessoal e profissionalmente.