Francisco Oliveira, “Chico” como é conhecido no mundo do futsal, é internacional pelas camadas jovens de Portugal. Formado pelo Leões de Porto Salvo, embarcou da capital para a cidade do Porto, onde representa, agora, o Caxinas. Naquela que é apenas a sua quarta época no mais alto escalão, Chico tem obtido os seus melhores números enquanto sénior. Já o Caxinas, por sua vez, tem também conseguido um arranque de época bastante positivo. O Bola na Rede fez uma entrevista exclusiva a Francisco Oliveira, que partilhou connosco como tem sido esta nova etapa da sua vida.
«Em termos de qualidade, nós conseguimos ver que não falta ao Caxinas. Nós temos um plantel até bastante recheado»
Bola na Rede: Como é que surgiu a oportunidade de ir para o Caxinas?
Francisco Oliveira: Aquilo foi um bocado já na parte final. Até bastante tarde. Acho que já estávamos nos playoffs. O Raul na altura mandou-me mensagem e depois falou com meu agente. Depois o meu agente conversou comigo. Esteve a explicar-me um bocado como é que era, como é que funcionava aqui, quais é que eram os objetivos e um bocado daquilo que ia acontecer caso viesse para cá. Discutimos também para perceber quem é que vinha e quem é que não vinha. E foi assim a cair um bocadinho do céu, por assim dizer.
Bola na Rede: Qual é que foi a reação dos teus pais a saíres da cidade?
Francisco Oliveira: Claro que primeiro falei com eles. Porque uma coisa é ficar ali ao pé e mudar de equipa, outra coisa é mudar para uma equipa a horas de viagem. Mas eles entenderam e até foram bastante tranquilos nisso. Perceberam que a decisão no final do dia acabava por ser minha. Compreenderam também que era o melhor para mim neste momento. Eles aceitaram isso. Claro que acredito que na altura possam ter sentido saudades, e agora ainda sintam. É normal.
Bola na Rede: Quais as maiores dificuldades que sentiste nesta nova mudança?
Francisco Oliveira: Acho que é mesmo o facto de ter de tratar de tudo. Isso foi assim a coisa mais difícil. Porque lá em baixo tinha ajuda dos meus pais. Qualquer problema ou situação falava com eles. É sempre mais fácil quando estamos com alguém que nos possa ajudar. No clube não senti tanta dificuldade a nível de treinos. Como era a primeira vez que estava fora de casa, isso poderia influenciar a performance nos treinos. Já tínhamos jogado todos uns contra os outros e o pessoal é todo muito tranquilo. Logo aí fica mais fácil para me adaptar e não ter problemas nos treinos. Também fiz uma reunião com o treinador antes de vir para cá. Queria dar uma palavrinha. O Raul e a Sílvia também me receberam a mim e aos outros todos de braços abertos. Quando assim é fica sempre mais fácil.
Bola na Rede: Sobre a tua rotina diária, estudas ou trabalhas?
Francisco Oliveira: Eu neste momento ainda não estou a estudar. Falta-me só uma cadeira para acabar a licenciatura e conseguir fazer a transferência cá para cima. Portanto, só no segundo semestre é que devo ter as aulas de manhã. Depois, nós treinamos todos os dias à noite. E por norma, terça e quinta-feira de manhã costumamos ter ginásio. E às vezes o ginásio pode variar se é quinta ou sexta. Costuma depender se jogamos ao sábado.
Bola na Rede: Em termos coletivos, o Caxinas tem surpreendido. Já estavam a contar com este início?
Francisco Oliveira: Sim. Em termos de qualidade, nós conseguimos ver que não falta. Nós temos um plantel até bastante recheado. Já sabíamos que em jogo jogado até podemos surpreender, mas sabíamos o que tínhamos aqui dentro do grupo.
Bola na Rede: Continuam a apostar na formação, mas foram buscar alguma experiência. Algo que não era tão habitual. O que mudou?
Francisco Oliveira: Eu sou sincero, não sei o porquê de este ano decidirem assim, mas uma coisa é certa: cada vez mais a Liga Placard está a ficar mais difícil de jogar. É normal que as equipas tenham cada vez mais de se reforçar para terem os planteis com mais qualidade. Acho que isso também possa ter sido um fator que fez com que o Caxinas tivesse de mudar aqui um bocadinho. Contrataram alguns que já tem muitos anos disto e também malta mais jovem. Foi o meu caso. É o caso do Milton e do Tiaguinho. Tentaram fazer aqui um misto de experiência e juventude com qualidade.
Bola na rede: Qual é que tu dirias que é o segredo ou pelo menos a grande força para estar a correr tão bem?
Francisco Oliveira: Eu acho que o facto de fora de campo darmo-nos todos bem. Isso depois é o que passa para dentro de campo e o que torna o nosso jogo mais fácil de jogar, por assim dizer. Essa é a parte importante: o fora de campo. O facto de eu já te conhecer, já saber como é que tu jogas, quais são as tuas características, onde é que tu gostas de receber a bola, os timings. Já sai com naturalidade. Logo aí pode ser um dos grandes fatores que influenciaram o facto de esta época ter começado da forma que começou.
Bola na rede: Qual foi o objetivo que estabeleceram no início da época? E, se por acaso, esse objetivo já mudou.
Francisco Oliveira: Não digo que é obrigatório, mas é quase como se fosse. O que eles nos propuseram é no mínimo fazer igual ao que o Caxinas fez o ano passado: oitavo lugar e terem ido terem ido aos playoffs. Esse é o objetivo. Não digo que já mudou de acordo com os resultados que temos obtido. Mas claramente que já começamos a pensar que se calhar este ano podemos aqui fazer alguma coisa engraçada. Já não é sonhar, porque acho que temos até bastantes hipóteses de conseguir fazer. Mas de começar já a pensar um bocadinho mais à frente. De conseguirmos até lutar por lugares mais acima na tabela. E, claramente, também irmos à final Eight Taça da Liga, e depois, a partir daí, Taça de Portugal.
Bola na rede: Tens um início da época individual muito bom: seis golos em oito jogos. O quê é que para ti mudou de uma época para a outra?
Francisco Oliveira: Eu acho que não mudou nada. Quer dizer, nada também não. Claro que alguma coisa deve ter mudado. Foi um bocado eu começar a ganhar mais confiança, porque também vou jogando mais tempo. No plantel dos Leões era normal eu poder ter algumas dificuldades em conseguir encontrar o meu espaço. Mas acho que o facto de vir para aqui este ano, de começar logo a jogar, de olhar para onde estou inserido e conseguir perceber que temos muita qualidade. Isso foi um fator determinante para ter este começo de época. Não só eu perceber que tenho qualidade, mas quem está à minha volta também perceber que eu posso ser um elemento que pode ajudar bastante.
Bola na Rede: Sentes que este é o teu melhor momento carreira?
Francisco Oliveira: É a nível de sénior de certeza, porque os três anos que tive de sénior foi nos Leões e nunca consegui jogar o tempo que gostaria de jogar. Por isso sim, posso dizer que é o meu melhor momento de carreira. Não só por ser já nos seniores, mas também por estar a correr bem e pelas coisas que já consegui fazer.
«Melhor momento da carreira? Claramente o golo do 3-2 ao SL Benfica»
Bola na Rede: Se tivesses de destacar pela positiva um momento até agora deste início da época, qual é que seria?
Francisco Oliveira: Claramente o golo do 3-2 contra o Benfica. Acho que isso é mais especial por ser contra uma equipa grande e pela forma de como ganhamos o jogo. Pelo facto de estarmos a perder 0-2 a faltarem cerca de três minutos ou quatro minutos. Já estava a acabar o jogo e conseguirmos virar para 3-2. É algo que não é fácil de fazer contra nenhuma equipa, especialmente contra o Benfica. Claramente até agora o momento mais marcante e positivo que tenho nesta época.
Bola na Rede: Vocês empataram 2-2 contra o Leões de Porto Salvo. Foi um jogo especial para ti por ser contra a tua antiga equipa?
Francisco Oliveira: Não vou dizer que era um jogo igual aos outros. Era especial pelo facto de ter estado lá muitos anos. Mas ia encarar como se fosse outro qualquer. Há sempre aquele nervosismo antes do jogo. Mas a partir do momento em que começa isso tudo sai. Claro que continuamos amigos, mas sempre me disseram que dentro de campo não há amigos. Continuo com o respeito que tenho por eles e eles de certeza que continuam a ter respeito por mim.
Bola na Rede: Tinhas algo a provar aos Leões de Porto Salvo?
Francisco Oliveira: Não. Acho que não. Não tinha de provar nada porque eu sabia da qualidade que tinha e daquilo que podia oferecer. O facto de não ter jogado lá não é só culpa de quem lá esteve ou da estrutura. Claro que é difícil jogando pouco tempo conseguir mostrar tudo aquilo que consigo. Mas não tinha esse sentimento de que tinha de mostrar que afinal estavam enganados em não dar oportunidade. O pensamento que fui para o jogo foi o de continuar a fazer aquilo que tenho vindo a fazer até aqui.
Bola na Rede: Chegaste inclusive a marcar um golo. Como é que foi esse momento?
Francisco Oliveira: Foi até engraçado. Aquilo foi um fora ao pé do banco deles. Acabo por trocar com o Bruninho. Eu estava cá de fora e fui para dentro de área. Coloco-me à frente do Ré. A bola entra e eu consigo rematar com o pé esquerdo. Não sei se foi entre as pernas dele ou se foi pelo lado, não dá muito bem para perceber. Acho que a bola passa também por baixo das pernas do Correia. Era um lance um bocado difícil porque estávamos muito em cima dele, quase em cima da baliza. E depois é normal festejar. Não fiz uma festa porque acho que não faria muito sentido, mas tenho todo o direito de festejar o golo.
Bola na Rede: Tens o desejo de representar algum grande? Seja cá em Portugal ou até no estrangeiro.
Francisco Oliveira: Sim, tenho. Também já pensei que gostava de ir para Espanha. Em Portugal, representar o Sporting, o Benfica, ou até mesmo o Braga, que cada vez mais vai se afirmando como uma equipa grande. Em Espanha, o Barcelona ou o Palma, que são as equipas que têm mostrado nestes últimos anos que são das melhores.
Bola na Rede: Ainda dentro dos objetivos. És internacional sub-18, sub-19 e sub-21. Sentes que a chamada à Seleção A pode estar aí à porta?
Francisco Oliveira: Sim, acho que é algo que é bastante difícil de lá chegar. Mas sinto que se continuar a apresentar o nível que tenho apresentado no início deste campeonato, que claramente é possível. Pode mal acontecer. No final do dia quem escolhe é o selecionador, mas que sinto que pelo menos uma oportunidade possa chegar. Sei que agora também há muita gente nova a entrar no lote de convocados e que possa ser um bocado mais difícil. Mas se continuar a mostrar que consigo dar cartas acho que, mais cedo ou mais tarde, acabarei por pelo menos ir pelo ir lá uma vez. Acho que tenho essa capacidade. E depois de me conseguir afirmar lá.
