«Foi mais o concretizar de um sonho poder jogar na Serie A, com nomes como Maldini, Costacurta, Rui Costa, Kaká, Shevchenko»
Bola na Rede: Em 2004 vais para o futebol italiano, para o Reggina, que na altura estava na Serie A. O que esteve por trás dessa decisão?
Ricardo Esteves: O Reggina já era um clube que me andava a seguir já há algum tempo, enquanto eu estava ligado ao Benfica, e surgiu a oportunidade de eu ir para Itália quando o Reggina me contactou, eu estava livre e obviamente que aceito logo a proposta porque Itália naquela altura (e o futebol italiano está neste momento a voltar a ser um dos grandes campeonatos), era dos melhores campeonatos do mundo, onde tinham os melhores jogadores do mundo. Apesar de eu ter o sonho de jogar no Benfica, enquanto jogador jovem sempre tive o sonho de jogar em Itália e lá está, foi mais o concretizar de um sonho poder jogar no futebol italiano, na Serie A, com nomes, por exemplo do AC Milan, como Maldini, Costacurta, Rui Costa, Kaká, Shevchenko, Inzaghi, Seedorf, entre outros de outros clubes. Era um orgulho enorme e um jogador de 24 anos, português, onde poucos jogadores portugueses tinham passado em Itália, era um orgulho enorme poder estar no futebol italiano.
Bola na Rede: Quando estiveste em Itália, onde jogaste dois anos na Serie A, pelo Reggina, e um na Serie B, pelo Vincenza Calcio, eras sempre o único português do plantel; achas que isso afetou a tua integração nas equipas, ou sempre sentiste que foste recebido de braços abertos?
Ricardo Esteves: Sempre fui recebido de braços abertos, sempre fui muito bem tratado, sempre acreditaram em mim e nas minhas qualidades, e apesar de ser o único português tinha colegas brasileiros, pelos menos no Reggina tinha. Carlos Paredes jogou comigo no Reggina, um jogador que esteve no FC Porto, depois passou pelo Sporting CP. Mas acima de tudo fui muito bem acolhido em Itália e nos clubes por onde passei porque, lá está, acreditavam nas minhas qualidades e quando assim é, sabemos que temos o apoio de todos eles.
Bola na Rede: Os adeptos italianos são conhecidos pela forma como demonstram a sua paixão pelo futebol, quer seja de modo positivo ou negativo. Achas que os italianos vivem o futebol duma forma mais intensa do que os portugueses, e já agora recordas-te de alguma história caricata dos teus anos em Itália?
Ricardo Esteves: Sem dúvida, os adeptos italianos, como são apelidados, os tifosi, sem dúvida que notei uma diferença muito grande, no sentido de ver os estádios todos cheios. Em Portugal as equipas grandes enchem os estádios, mas as equipas pequenas não enchem os estádios e acho que qualquer jogador gosta de ver o estádio cheio e uma grande diferença eu vi foi que qualquer equipa a jogar no campeonato italiano tinha o estádio cheio. E para além do estádio cheio, tínhamos os tifosi e a claque, a que chamam a curva, sempre a cantar o jogo todo, qualquer equipa tinha a sua claque e com grandes coreografias. E isso para um jogador que não estava habituado a ver, ainda me incentivava mais para jogar, porque de facto aquilo era diferente para mim naquela altura e estar a viver aquilo era um sonho. Uma história caricata, que acaba por não ser caricata, mas que foi muito conhecida foi, na minha altura, ter passado o Calciopoli, que foi quando a Juventus FC desceu de divisão e alguns clubes começaram o campeonato com pontos negativos, nomeadamente o Reggina começou o campeonato com menos 11 pontos e isso sim foi uma altura caricata porque nunca tinha visto uma equipa começar um campeonato com menos 11 pontos e de facto foi diferente. Foi um problema que se gerou em Itália e onde acaba por, nessa altura, o futebol italiano cair muito na reputação e depois também muitos jogadores conhecidos que saíram de Itália. De facto, foi um problema que houve em Itália e que coincidiu com a altura em que jogava lá.
Bola na Rede: Em 2007 despedes-te do futebol italiano e voltas para o português para representares o Marítimo, o que motivou este teu regresso ao futebol nacional?
Ricardo Esteves: Eu acabava contrato com o Reggina, havia o interesse de um clube inglês na minha contratação, que depois acaba por não dar certo por algumas ideias em que não estávamos de acordo e depois tive a oportunidade de vir para Portugal porque tive o convite do Marítimo para jogar lá. O meu filho tinha nascido em Itália e achei que era uma boa oportunidade de voltar a Portugal para também o meu filho poder estudar, poder ir para o colégio e assim eu também estava ao pé da família. O Marítimo naquela altura era um clube que estava sempre nos seis primeiros lugares, tinha um treinador brasileiro que tinha sido treinador da Seleção do Brasil, que era o míster Lazaroni. Estavam a fazer uma equipa que me dava garantias de fazer uma boa época e achei que, tudo junto, poderia ser uma boa oportunidade voltar a Portugal, pensando no clube, pensando na família, achei por bem voltar a Portugal.
Hoje termina a jornada 25 com 3 encontros. Num deles, #Benfica recebe o @MaritimoMadeira. Vamos recordar um antigo lateral dos 2 clubes: Ricardo Esteves pic.twitter.com/akioTGLd47
— onzexonze (@onzexonze1) April 5, 2021
Bola na Rede: Nessa época de 2007/2008 és titular em 25 jogos do campeonato, fazes 6 assistências e o Marítimo termina no 5º lugar. Como recordas esta época, tanto a nível pessoal como a nível coletivo?
Ricardo Esteves: Foi uma grande época, tanto a nível coletivo como a nível pessoal. Até àquele momento, o Marítimo tinha feito a melhor época de sempre no campeonato, tínhamo-nos apurado para a Liga Europa, tínhamos chegado ao quinto lugar. Em termos pessoais, foi um campeonato onde estive muito bem, com muitas assistências, recordo que fui o terceiro melhor assistente da época, atrás de Lucho González e de Di María, por isso posso dizer que foi uma época muito conseguida da minha parte, mas também pela equipa que nós tínhamos, conduzidos por um grande homem, um grande treinador, que era o míster Lazaroni, que foi de facto importante para toda a época do Marítimo.