«O futebol grego não era um futebol atrativo, não era um futebol de todo, daquele que eu mais gostava»
Bola na Rede: Na época seguinte mudas-te para o futebol grego, para o Asteras Tripolis, o que motivou esta mudança de cenário?
Ricardo Esteves: Houve essa oportunidade pela época que fiz no Marítimo, como disse foi uma época boa, não só em termos pessoais, mas também em termos coletivos. Há a entrada do míster Caravalhal para treinar o Asteras Tripolis e foi o míster Carvalhal que me propôs a ida para o Asteras Tripolis. Era um contrato também que me aliciava e havendo essa oportunidade, lá está, eu nunca tive medo de fazer mudanças, sabendo sempre que poderia ser melhor, nunca tive esse receio, e por isso deu o trajeto da minha carreira, que nunca tive receio de poder jogar noutros campeonatos, campeonatos desconhecidos ou ir para algo desconhecido, sempre fui destemido nessa parte e havendo a oportunidade de poder jogar noutro campeonato, com um treinador que eu conhecia e depois também com a proposta de trabalho que tinha pela frente, optei por ir para a Grécia.
Bola na Rede: Como é que descreverias o futebol grego, comparando-o ao português, e como foi a tua adaptação a esse campeonato?
Ricardo Esteves: Não foi um campeonato onde eu, ou não foi um país … quer dizer em termos de país sim, um país com história e onde gostei de viver, em termos competitivos e pessoais não foi uma época onde eu mais gostasse de jogar. Não era um futebol atrativo, não era um futebol de todo, daquele que eu mais gostava, lá está, tive algumas dificuldades na adaptação, apesar de ter jogado, mas não foi um clube onde eu me senti bem para estar. E por isso também ter estado apenas uma época e meia no Asteras, e depois também com um problema com a direção (mais um com a direção) por causa do contrato que tinha, dos valores do contrato que tinha, fiz uma época e meia e saí do Asteras.
Bola na Rede: Falando agora dessa saída, foste para o Campeonato da Coreia do Sul, para o FC Seoul. A equipa era treinada por um português, Nelo Vingada, esse foi um fator decisivo que te convenceu a ir para este clube, aliado ao teu espírito de gostar de explorar outros campeonatos?
Ricardo Esteves: Sim, sem dúvida. Foi uma decisão fácil porque era um treinador que eu conhecia muito bem e lá está, apesar de ter jogado na Europa, saber mais ou menos como eram os campeonatos, quando fui para a Coreia fui propriamente para o desconhecido. Sabia que era um país desenvolvido, um país autónomo, de grande qualidade de vida, acima de tudo tinham feito um Campeonato do Mundo na Coreia, onde tinham praticamente estado excelentes. Mas depois era um campeonato que eu não sabia nada, em termos de futebol não tinha a noção daquilo que poderia encontrar e foi de facto uma surpresa enorme porque foi dos melhores sítios que eu estive até terminar a minha carreira, foi dos melhores sítios onde passei para jogar futebol e viver um futebol e uma vida que pensava que não poderia existir nesse país.
Bola na Rede: Nessa campeonato contribuíste para muitos golos, fizeste quatro golos e quatro assistências em 11 jogos no campeonato. Nesse ano, e depois de saíres do clube, o FC Seoul ainda conquistou esse mesmo campeonato. Como foi a tua adaptação, se puderes detalhar, não só ao futebol, mas também ao estilo de vida na Coreia do Sul?
Ricardo Esteves: A adaptação foi fácil porque tinha gente que conhecia, tinha um jogador brasileiro, tinha um jogador da Sérvia e que me ajudaram muito na adaptação. Mas acima de tudo também, os jogadores sul-coreanos também eram pessoas que se tornaram amigas e me trataram bastante bem, por isso a adaptação, nesse sentido em termos de clube, foi boa. Tive que me adaptar ao fuso-horário, porque era um fuso-horário de oito horas e que passado um mês e meio tive dificuldades em termos físicos por causa do jet-lag e tive de me adaptar nesse sentido. Passado um mês e meio sofri desse jet-lag que me deixou fisicamente em baixo. E depois tive de me adaptar a uma realidade diferente em termos de jogo porque eu fui para a Coreia com 30 anos, e em Portugal e nos outros sítios da Europa, considerava-me um jogador rápido e quando fui para a Coreia com 30 anos, eles eram todos mais rápidos que eu e o meu futebol, lá está, ganhava pela experiência que tinha, pela maturidade que tinha como jogador e tive de perceber que em termos de velocidade eu não conseguia ser melhor ou mais rápido que eles, então tive que me adaptar a um futebol mais maduro e menos de velocidade, que eu não ia tirar partido nenhum disso. Nesse sentido sim, tive que fazer a adaptação e tive que perceber aquilo que eu poderia melhorar para poder ter um melhor rendimento, mas sim a velocidade e a qualidade dos jogadores coreanos, eu não tinha noção e fiquei surpreendido pela qualidade que eles tinham.
Bola na Rede: A meio de 2010 voltas para o Marítimo e jogas as eliminatórias da Liga Europa; nunca tinhas jogado numa competição europeia e na altura, quando já tinhas 30 anos, era um objetivo que querias cumprir?
Ricardo Esteves: Sim, sem dúvida. Volto novamente para a Europa, também pensando no meu filho, que tinha estado sempre fora e esteve fora comigo, ele na altura ia completar seis anos e precisava de estar na escola e havendo novamente a oportunidade de voltar para o Marítimo e para a Europa, para perto de casa e o meu filho poder estudar, isso contribuiu para a minha vinda para o Marítimo. Tinha sido um clube onde eu tinha estado e onde as coisas me tinham corrido muito bem, optei por voltar ao Marítimo, ia fazer a qualificação para estar presente na Liga Europa e obviamente que isso também foi um fator de decisão para eu voltar ao Marítimo.
Bola na Rede: Nessa época ainda fazes 26 jogos pelo Marítimo, muitos deles a titular, mas depois acabas por sair do clube e no final da época fazes cada vez menos jogos. O que é que aconteceu a meio da época e porque é que acabaste por sair do clube?
Ricardo Esteves: Os jogadores são sempre os elos mais fracos no clube e tenho alguns problemas com a direção do clube e depois também venho a jogar menos. Lá está, digo sempre isto, o jogador deve pensar sempre em si e fazer sempre o seu melhor porque o jogador nunca pode estar à espera que o clube o proteja sempre. O jogador é como se fosse uma mercadoria, no momento em que estamos a jogar menos bem, os clubes normalmente não pensam no trajeto que o jogador teve, mas pensam em despachá-lo para ir buscar outro e naquela altura tive alguns problemas com o presidente do Marítimo e decidimos depois, no final da época, rescindir o contrato e segui a minha vida.