«Tive a felicidade de ser convidado por Azar Karadas, vai ter mais sucesso como treinador do que jogador» – Entrevista BnR com Guilherme Faria

    Na pré-eliminatória da Conference League desta temporada, o FC Arouca defrontou o SK Brann, da Noruega. Uma equipa composta, sobretudo, por nórdicos, tanto no plantel como na equipa técnica. No entanto, no meio do conjunto norueguês, há uma voz portuguesa, a representar Portugal. Guilherme Faria, treinador luso, é adjunto da equipa B do conjunto de Bergen e foi um dos presentes com a comitiva, visto até tratar-se de um jogo contra uma equipa do seu país. É nas circunstâncias menos expectáveis que se conhecem caras novas e, findada a época na Noruega, Guilherme aceitou conversar em exclusivo com o Bola na Rede sobre a sua experiência, com muito Portugal à mistura.

    «O meu maior objetivo é ouvir o hino da Liga dos Campeões e estar presente numa grande competição de seleções».

    Bola na Rede: Já acabou a temporada na Noruega e agora estás de férias aqui em Portugal. Como tem sido?

    Guilherme Faria: Cheguei a semana passada, o campeonato, no meu caso, acabou a meio de novembro. O Brann, a equipa principal, acabou por conseguir o segundo lugar no campeonato. Super importante, tendo em conta que subiram há pouco tempo para a Eliteserien. Há dois anos, foi um período algo conturbado na vida do clube, mas que, depois com algumas mudanças de fundo, permitiu que o clube desse uma volta por cima e agora é claramente um dos clubes mais excitantes da Noruega.

    Bola na Rede: Que está em ascensão, sobretudo se compararmos com o que era o clube há dois anos.

    Guilherme Faria: Sabes que aquilo que eu sinto é que o Brann, em termos de Noruega, tem um potencial brutal. Se compararmos com os feitos do Bodo Glimt…não podemos comparar Bergen [cidade onde joga o Brann] com Bodo, que é uma cidade muito mais pequena. Bergen é uma cidade muito maior, mas à escala norueguesa e não está tão próximo de nós enquanto isso em termos de dimensão, em termos densidade populacional, mas a verdade é que a forma como as pessoas vivem o clube é de uma forma muito intensa. Este ano, até porque as coisas acabaram por começar logo bem com a conquista da Taça, que este ano foi jogada em maio, a Taça de 2022 – só nessa altura por causa do Mundial – e quando o Brann ganhou a Taça criou-se ali uma dinâmica clube-cidade que foi incrível. O estádio esteve quase sempre cheio desde então e depois houve ali um período um bocadinho mais difícil, que foi imediatamente antes do jogo da eliminatória contra o Arouca. E após a passagem na primeira eliminatória da Conference League a verdade é que a equipa deu um salto qualitativo brutal e desde então só perdeu a última jornada.

    Bola na Rede: Antes de voltarmos à Noruega, vamos falar de Portugal. Mesmo estando longe, continuas a acompanhar o campeonato?

    Guilherme Faria: Continuo, claramente, aliás, eu em casa acabo por ter sempre ligado os canais portugueses para estar a par das notícias de uma forma geral e do futebol muito em particular.

    Fonte: Arquivo pessoal

    Bola na Rede: Alguma análise dentro do que observaste nesta primeira metade da época?

    Guilherme Faria: Acima de tudo, senti que o Benfica, numa fase muito inicial, passou por um período conturbado, de algumas mudanças, mas parece-me que já encaminhou, já está num ciclo de vitórias e uma dinâmica bastante positiva. O Sporting acho que acertou em cheio nas contratações e tem praticado um futebol muito, muito agradável, mas já tem sido apanágio desde o início da época da era Rúben Amorim. É o FC Porto, a verdade é que tem um bocadinho mais dificuldades, mas continua lá sempre o trabalho de Sérgio Conceição. Com os recursos que têm sido dados também tem sido extraordinário, portanto. Não, não poria as minhas fichas ainda em nenhum candidato. Os três clubes vivem fases diferentes da época, mas ainda muita água vai passar debaixo da ponte até ao final, parece-me a mim. E agora o mercado de janeiro, com algumas saídas, saídas ou baixas por causa das Taça Asiática, Taça das Nações Africanas, vamos ver como é que os clubes também reagem a isso em termos de entradas. Estou curioso e expectante.

    Bola na Rede: Como é que as pessoas na Noruega vêm o Campeonato Português? Há interesse?

    Guilherme Faria: Há muito pouco interesse. A verdade é que o Campeonato Português é pouco seguido. Ok, temos o Frederick Aursnes, tivemos a época passada também o Andreas Scheldjerup, mas não há assim tanto interesse. A verdade é que o campeonato que desperta maior interesse na Noruega é claramente o inglês, de longe, até por uma questão cultural. Muitas das pessoas e muitos dos adeptos de futebol na Noruega têm como primeiro clube um clube inglês e não o clube norueguês, para termos aqui uma ideia do impacto cultural que o futebol inglês tem na sociedade norueguesa e desportiva.

    Bola na Rede: Mas o futebol norueguês já vai tendo algum crescimento e já se vêm bases que vão sendo alicerçadas.

    Guilherme Faria: Sim, a verdade é que tem havido algum crescimento. Os clubes têm-se, aos poucos e poucos, tornado cada vez mais profissionais. Há recursos materiais para tal. Acredito que ainda é necessário recurso a um investimento maior em termos de recursos humanos. Também como é apanágio da sociedade, o futebol não é visto de uma forma tão intensa como em Portugal. Não há um investimento tão desenfreado no futebol como noutras sociedades como a portuguesa, por exemplo.

    Bola na Rede: Nesse sentido, começaste aqui a carreira em Portugal e tiveste várias experiências em Portugal, seja como adjunto ou como coordenador e depois vais para a Noruega. Como é que isso se sucede? Que diferenças é que sentiste?

    Guilherme Faria: Fui para a Noruega por intermédio de uma academia norueguesa com direção técnica portuguesa. Andava a realizar diversos programas de treino lá e até que chegou um período em que apreciaram o meu trabalho e convidaram-me a ficar. Comecei a colaborar com clubes locais e no ano passado, então, o Azar Karadas, ex-jogador do Benfica, uma lenda do Brann, convidou-me para integrar a equipa técnica dele no Brann 2 e juntei-me a ele com todo o gosto, e tem sido uma aventura.

    Fonte: Arquivo pessoal

    Bola na Rede: Referiste alguns pontos, como o investimento, e acredito que se calhar o futebol não seja vivido de uma forma tão apaixonante como aqui. Que diferenças é que vais sentindo?

    Guilherme Faria: Em termos de exigência, em termos de mentalidade nós portugueses temos uma mentalidade muito mais vencedora, somos muito mais exigentes. O futebol na Noruega até ao nível da formação é visto como um desporto para todos e em Portugal estratifica-se muito os melhores, muito cedo enquanto que na Noruega os clubes só podem começar a recrutar a partir dos 14, 15 anos. Até lá, isso não é permitido e é visto como uma forma de atividade física para os mais jovens. Vou dar um exemplo também do que é o futebol feminino. Tem uma base de praticantes muito, muito alargada. Isso depois resulta em maior qualidade a nível a nível sénior. O futebol masculino ainda precisa de evoluir mais a nível da formação. Não diria de profissionalizar um bocadinho mais, mas promover o talento, sendo que essa exigência não está tão incutida nos mais novos.

    Bola na Rede: Como é que foi a tua adaptação ao país, à cultura?

    Guilherme Faria: Correu bem, correu bem. O facto de eu já ter ido à Noruega várias vezes e conhecer a cultura, o contexto, permitiu uma adaptação mais fácil. Já sabia ao que ia exatamente. Sabia como é que a questão da formação era abordada, como é que a maior parte dos clubes atuava e o nível para o qual ia. A surpresa é que há ainda mais talento do que eu pensava. Há muitos jogadores talentosos e eu acredito que se houver um nível de preparação maior dos atletas ainda mais jogadores com qualidade vão surgir. Por isso, para mim foi fácil, tirando a questão do tempo, sobretudo os meses de novembro e dezembro. De resto, adaptei-me perfeitamente.

    Bola na Rede: Descreve-me um dia de trabalho no Brann.

    Guilherme Faria: Na segunda equipa a nossa rotina é simples. Geralmente chegamos às sete da manhã ao clube, ajustamos o treino, porque já está preparado do dia anterior. Iniciamos o treino pelas 9:15 até às 10:30/11, é normalmente a hora de treino. A seguir ao treino, a equipa técnica reúne-se, analisamos o treino, através de vídeo e preparámos o treino seguinte. Há também diálogo com a primeira equipa para perceber o que é necessário, no meu caso há também análise dos adversários e depois por volta das 16,17 da tarde damos o dia de trabalho por encerrado.

    «Tive a felicidade de ter sido convidado pelo Azar Karadas, com quem me identifiquei bastante. Acho que vai ter muito mais sucesso como treinador do que teve como jogador».

    Bola na Rede: Claro que depois do campo de treinos ainda há mais trabalho.

    Guilherme Faria: Exatamente, até porque, como disse, há muitos recursos materiais, nós temos acesso à camara para visualizar o treino, temos acesso a software para depois editar. Usámos o WyScout para observar os adversários, portanto tudo o que é componentes de apoio ao nosso trabalho nós temos, que facilita bastante e permite-nos também analisar o nosso próprio trabalho de uma forma mais profunda. Portanto, análise de treino, preparação, controlo do que foi o treino a nível fisiológico… e a preparação do dia a seguir há muito ainda para mais, tendo em consideração que somos uma segunda equipa. Temos de saber o que é que a primeira equipa vai necessitar para o dia a seguir, o que é que vai fazer para depois termos plano B, Plano C…para então ajustarmos o nosso plano de treino.

    Bola na Rede: Há 20 anos, presumo que estavas longe de imaginar que a tua carreira seria assim. Quais eram os teus sonhos, objetivos? Alguma vez pasasou por uma ambição como jogador ou sempre passou pelos bancos?

    Guilherme Faria: Eu rapidamente percebi que não tinha capacidade suficiente para jogar ou para chegar ao alto nível. É interessante e foi bastante cedo que percebi claramente e comecei a treinar bastante cedo. Fiz uma licenciatura em economia, mas claramente não era a minha paixão. Depois virei-me para o futebol e para o desporto, que é realmente a minha paixão. Passar por fora, pelo estrangeiro, foi sempre algo que ambicionei. Gosto de conhecer culturas novas, culturas diferentes, gosto de perceber diferentes dinâmicas e, nesse sentido, sempre me passou pela cabeça ir para o estrangeiro. No futebol, obviamente, o objetivo passa por chegar a um patamar de excelência. Em que função não sei, mas claramente dar passos seguros e sustentados para que isso um dia possa ser possível. Quando jogava não tinha posição, era mais ou menos onde fosse preciso. Não tinha muita qualidade. Tenho a consciência de reconhecer que não tinha qualidade.

    Fonte: Arquivo pessoal

    Bola na Rede: Fora de campo já teve vários papéis: treinador, coordenador, agora como adjunto. Como é que se lida com o papel de ser o número 2?

    Guilherme Faria: Tenho a felicidade, já tendo sido número 1, eu acho que acabou por ser uma vantagem. Até porque perceber o que é que o treinador principal pretende ou como é que ele pensa permite-me também ajustar o meu, o meu papel e as expectativas, a tive a felicidade de ter sido convidado pelo Azar Karadas, com quem me identifiquei bastante. Acho que vai ter muito mais sucesso como treinador do que teve como jogador. Quando existe este tipo de química e de relação, torna muito mais fácil o meu papel e permitiu-me focar naquilo que é realmente importante, mas no que realmente também me dá prazer, que é o treino, a análise do jogo e o desenvolvimento da própria equipa e dos jogadores.

    Bola na Rede: Disseste não saber ainda quais são os próximos passos, mas há alguma vontade em específico de voltar a ter o papel principal?

    Guilherme Faria: O meu primeiro objetivo é, claramente, chegar a um patamar superior. É isso que tenho na minha cabeça, que que gostaria de chegar lá, independentemente de ser como treinador adjunto. Se calhar é mais simples. Tenho também a humildade para reconhecer que ainda não tenha experiência para chegar a esse patamar como principal e sinto-me confortável neste momento como treinador adjunto.

    Bola na Rede: Às vezes se calhar não damos o devido valor aos treinadores adjuntos e a todo o staff que compõe uma equipa técnica. Não recebem a mesma notoriedade do que outros elementos estruturais.

    Guilherme Faria: Eu tive a felicidade de de trabalhar com alguém que me permitiu sentir sempre importante. E isso para mim é, é fundamental essa identificação com quem também está a liderar Oo processo e equipa. Quando há esta comunhão de ideias desta linha de pensamento comum um. Torna-se muito, muito mais fácil.

    Bola na Rede: Tem alguém na família ligada ao futebol?

    Guilherme Faria: Não tenho ninguém na família ligada ao futebol. Este tem sido um caminho basicamente feito a solo no sentido em que tenho procurado dar os passos por mim mesmo. Foi a paixão. Se calhar, a família nem achou assim tanta graça, mas a paixão falou mais alto. Acho que, atendendo ao facto de ter começado a treinar benjamins, infantis e ter procurado crescer, foi aperfeiçoar conhecimentos e capacidades. Olhando para trás já vai ser um percurso de 15 anos. Claramente que me sinto satisfeito com aquilo que tenho evoluído, consciente que ainda há muito para evoluir, sabendo que passo a passo tento ser melhor que no dia anterior.

    Bola na Rede: Nesse sentido, qual é o grande objetivo que tens?

    Guilherme Faria: Ouvir o hino da Liga dos Campeões e claramente estar numa grande competição de uma seleção.

    «Gostaria de um dia voltar a Portugal e ter a oportunidade de integrar um clube e uma estrutura forte e ambiciosa»

    Bola na Rede:  O Brann, ficando em segundo na equipa principal, apesar do ranking, fica mais perto de alimentar esse sonho de estar presente.

    Guilherme Faria: É verdade, passo a passo. Vai ser o segundo ano consecutivo que o Brann vai estar presente, pelo menos numa pré eliminatória de uma competição Europeia. Próximo ano igualmente na Conference League, oxalá possamos entrar na fase de grupos. Mas vamos passo a passo.

    Bola na Rede: O futuro vai continuar a passar pelo Brann e pelo projeto que estão a desenvolver?

    Guilherme Faria: Tenho mais um ano de contrato e sinto-me satisfeito no clube, sinto que há uma visão, filosofia de crescimento. Mas não escondo que não fecho portas.

    Bola na Rede: Está nos seus planos voltar a Portugal?

    Guilherme Faria: Gostaria de um dia voltar a Portugal e ter a oportunidade de integrar um clube e uma estrutura forte e ambiciosa. No entanto, em função de como a minha carreira tem vindo a evoluir, creio que o meu futuro passará a curto e médio prazo pelo estrangeiro, onde gostaria também de experienciar outros mercados.

    Bola na Rede: A curto prazo.

    Guilherme Faria: Bem, sei que me apresentarei dia 4 de janeiro para iniciar os trabalhos e vamos ver o que é que acontece. A verdade é que também o mercado da Noruega funciona em contraciclo com o resto dos campeonatos europeus, ou seja, a maioria dos campeonatos europeus estão agora a meio na Noruega. Vai iniciar a pré-época, longa três meses. Tenho um ano a cumprir. Vamos ver também quais é que são as ideias do clube em relação à minha pessoa e a forma como posso contribuir no futuro. Para já, estou satisfeito. Acho que há talento, identifico-me, acredito que o clube tem uma visão ambiciosa. Aguardo 2024 com expetativa.

    Bola na Rede: Na Noruega não há muitos portugueses.

    Guilherme Faria: Temos o Luís Pimenta, que é selecionador de sub 18 da Noruega. É o primeiro selecionador estrangeiro na Noruega. Temos o David Ribeiro, que está como adjunto do Valerenga, há também um português a trabalhar no Bryne, nos escalões de formação, outro a trabalhar no Rosenborg, na equipa feminina. Já começam a ser alguns.

    Bola na Rede: Achas que é uma tendência que vai continuar?

    Guilherme Faria: Acho que é um mercado que será tendencialmente cada vez mais difícil de entrar a nível de treinadores. Os treinadores noruegueses começam cada vez mais a formar-se e desenvolver-se, a desenvolver competências e não é fácil entrar neste mercado. Se formos a analisar a OBOS-ligaen (Segunda Divisão) e a Eliteserien (Primeira), creio que neste momento todos os treinadores são noruegueses. Posso errar por um ou por dois, mas serão porventura escandinavos. Ou seja, as duas primeiras ligas norueguesas só têm treinadores escandinavos. Acho que é um mercado difícil de entrar para um treinador latino e para assumir uma equipa. Fazer parte das equipas técnicas acho possível e acrescentam valor. A assumir projetos não é fácil.

    Bola na Rede: Achas que isso acaba por prejudicar a Liga e impedir que cresçam ainda mais pela falta de outras culturas?

    Guilherme Faria: Percebo a pergunta, acho que faz sentido, acho que poderá aportar coisas diferentes ao campeonato. Acho que poderá portar a pensamentos também diferentes e criar problemas táticos diferentes àquilo que eles estão habituados e acho que permitiria a todos os intervenientes evoluir.

    Bola na Rede: Viste o jogo com o Arouca, que acabou eliminado pela tua equipa. O Vitória também foi eliminado pelo Celje, de um campeonato modesto. Isso ajuda a acentuar a ideia de que em Portugal há um fosso entre os quatro primeiros e os restantes?

    Guilherme Faria: O fosso existe claramente, isso não há a mínima dúvida. Quer pela vertente financeira quer pela vertente da dimensão histórica, desportiva e tudo mais. A experiência a nível europeu faz diferença. Foi uma eliminatória em que o Arouca claramente foi melhor na primeira mão. A verdade é que o jogo ficou em aberto para a segunda e o Brann teve um desempenho muito, muito bom na primeira parte da segunda mão e aí conseguiu virar o jogo.  O Arouca tinha sido melhor, talvez faltasse um bocadinho de experiência Internacional, experiência Europeia. Foi uma eliminatória muito bem disputado e muito equilibrada.

    Bola na Rede: Como é que estas coisas se mudam? Há forma de mudar?

    Guilherme Faria: O que consigo analisar é a importância de haver consistência a nível de plantel a nível, de estrutura de um ano para o outro, para que não se comece sempre do zero. Às vezes há uma equipa que no ano anterior conseguiu fazer um campeonato muito bom, no ano a seguir já sabe que vai estar numa competição Europeia e o que se verifica é que muitas vezes é difícil compatibilizar com o campeonato. A competição Europeia, os jogos de três em três levam um grande desgaste. E se houver a possibilidade de haver consistência no plantel e não haver grandes mexidas, quer a nível de estrutura, quer a nível de plantel e permitir fazer apenas alguns ajustes, acho que isso será meio caminho andado.

    Bola na Rede: Em Portugal, há algum projeto que olhes e que sintas que as coisas estão a ser bem feitas e de forma coerente? Ou achas que não temos aqui?

    Guilherme Faria: Vejo, por exemplo, um Sporting com Rúben Amorim. Com ideias claras a nível de projeto, com uma filosofia muito bem identificada. Vejo um Braga a dar passos largos para se aproximar cada vez mais de uma candidatura ao título. Vejo um Benfica muito bem estruturado e o Porto com um grande treinador. Muito por aí.

    Bola na Rede: Acredito que tenhas referências a nível futebolístico, seja treinador ou jogadores. Podes partilhar?

    Guilherme Faria: Que tive com base de inspiração foi José Mourinho. Isso não tem qualquer dúvida e acho que se a grande maioria dos treinadores portugueses têm capacidade ou pode trabalhar no estrangeiro muito se deve à forma como ele abriu as portas para todos nós. A verdade é esta. Depois, gosto muito dum Klopp, da forma como ele lidera, do carisma dele. E é verdade, por muito que se diga, o Guardiola pode ter equipas de milhões, mas a verdade é que as equipas dele jogam sempre muito, muito bem. Acho que estas para mim são as minhas referências.

    Bola na Rede: A verdade é que, na Premier League, todas as equipas gastam muito dinheiro.

    Guilherme Faria: E as equipas dele jogam sempre bem, lutam sempre por títulos e o nível de consistência é incrível, portanto, chapeau [risos].

    Bola na Rede: Já estás na Noruega há alguns anos, imagino que já tenhas passado por alguma situação caricata ou alguma coisa assim engraçada. Podes partilhar connosco alguma história?

    Guilherme Faria: Por acaso tenho uma. Uma das coisas que a mim me fez confusão, numa fase inicial, quando eu cheguei à Noruega, na altura do Inverno, o treinador português vai para o treino e normalmente está de chuteira, quanto muito com ténis. E o que reparei na altura do Inverno era treinadores a ir para o treino ou com botas da montanha ou com galochas. Não percebia aquilo, estava-me a fazer confusão e achava aquilo muito pouco profissional. Tentei averiguar o que é que se passava e eles disseram-me «Guilherme, é para os pés não congelarem» e eu pensei que aquilo era muito pouco profissional no treinador, não pode ir para o treino de com as botas da montanha ou com as galochas. A verdade é que passado algum tempo, quando eu me apercebi de facto que os pés realmente congelavam com temperaturas de −5º, − 6º, − 7º. Não passei a usar galochas nem botas da montanha, mas efetivamente percebi o porquê de eles o fazerem e ser uma coisa cultural, porque para nós latinos, treinadores latinos, queremos também ter uma imagem de profissionalismo dentro do campo, de exigir essa esse mesmo profissionalismo aos jogadores. E não poderia ser o treinador o primeiro a ir com as botas da montanha ou com as galochas para dentro do campo. É cultural.

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    Fernando Coelho
    Fernando Coelho
    Jogador de futsal amador, treinador de bancada profissional. A aprender diariamente, acredita que o desporto pode ser diferente. Escreve com acordo ortográfico.