«Os polacos pensavam que ir buscar jogadores a Portugal era mais difícil e não é» – Entrevista BnR com Tomás Podstawski

    -A Polónia como uma terra de oportunidades –

    «Se surgisse essa oportunidade, no momento decidiria se gostava de representar a Seleção Polaca»

     

    Bola na Rede: A pergunta que provavelmente toda gente te pergunta numa entrevista, tens nacionalidade polaca, o selecionador polaco neste momento é o português Paulo Sousa, já tiveste algum contacto particular com ele?

    Tomás Podstawski: Não, e neste ano, como já falámos, eu nem estava a ser opção regular por isso não justificava uma chamada à Seleção Polaca.

    Bola na Rede: Mas deixas a porta aberta a uma possível chamada da Seleção Polaca?

    Tomás Podstawski: Se surgisse essa oportunidade, no momento decidiria se gostava de representar a Seleção Polaca, mas são oportunidades para estar ao mais alto nível do futebol europeu que dificilmente se negam.

    Bola na Rede: Olhemos para a opção da Federação Polaca em contratar o Paulo Sousa para selecionador nacional. Achas que a combinação do técnico português com o futebol polaco é boa? Achas que o Paulo Sousa tem todas as condições para fazer um bom trabalho na Polónia?

    Tomás Podstawski: De certeza que ele vai conseguir fazer um grande trabalho. A questão tem só a ver com o espaço de tempo que tem para trabalhar, apanhando a Seleção já agora numa fase de Europeu, que não teve muitos meses para preparar. Talvez seja mais de observação, de análise e de tentar incutir algumas ideias que tenha em campo. Porque a Polónia é uma seleção jovem, não é tão fácil fazer uma alteração completa do modelo de jogo e do plantel. Espero que as coisas lhe corram bem. De certeza que os jogadores ficaram muito agradados com a escolha dele. O que não quer dizer que os resultados apareçam logo. Espero que os jogadores tenham capacidade para se adaptar rápido e para ouvir o que ele tem a dizer porque podem ganhar muito com isso.

    Bola na Rede: A Polónia tem capacidade de repetir um Euro como o de 2016?

    Tomás Podstawski: É difícil de dizer. Acho que os jogadores estão com uma grande confiança. Não é fácil de trabalhar o coletivo porque têm de apostar em defenderem bem e em saírem para o ataque na maneira que o mister Paulo Sousa tentar incutir neles. Pelo o que eu tenho ouvido, o mister Paulo Sousa gosta de jogar em posse, mas é difícil de dizer o que podem almejar neste Euro.

    Bola na Rede: Sentes que o facto de teres nascido e passado grande parte da tua vida em Portugal, falando polaco fluentemente, despertou o interesse dos polacos em aproveitarem a tua experiência para saberem um pouco mais do futebol português?

    Tomás Podstawski: Acho que sim, é uma boa pergunta. Acho que com a minha vinda, eles também descobriram que o mercado português é muito bom, porque conseguem ir buscar jogadores tecnicamente muito evoluídos, a valores que eles conseguem pagar. Oferecendo um nível que em Portugal não conseguem oferecer. Mesmo os impostos em Portugal são muito mais elevados. Na Polónia, um clube como o Pogon, que está ao nível de 10/12 equipas em Portugal, consegue oferecer melhores contratos e assim motivarem jogadores a virem para a Polónia. Acho que eles não tinham essa noção porque Portugal está num ranking elevado na UEFA, mas depois não consegue acompanhar em grande parte por vários clubes para conseguirem competir com muitos clubes na Europa, muito por culpa dos orçamentos. O facto de eu ter estado lá e ter transmitido ao longo destes três anos através de algumas entrevistas, até ao próprio clube [Pogon] que está agora muito direcionado para o mercado em Portugal. E têm vindo muitos jogadores, veio o André Martins, o Pedro Tiba, que está a fazer uma grande prestação no Lech Poznań, o Rafa Lopes agora está no Legia, mas ganhou uma taça no ano passado pelo Crácovia. São grandes jogadores que nunca conseguiram em Portugal as condições que estão a ter nestes clubes. Eles pensavam que ir buscar jogadores a Portugal era mais difícil e não é.

    Bola na Rede: Falaste desse fluxo de portugueses que estão a ir para a Polónia. E do lado contrário, o que falta para que mais polacos se aventurem na Liga Portuguesa?

    Tomás Podstawski: Não acho que os clubes portugueses tenham que procurar jogadores na Polónia por alguma razão especial. Pelo scouting que os clubes portugueses fazem, se virem algum jogador com potencial claro que devem contratar. Mas não me parece que os clubes portugueses devam procurar jogadores na Polónia porque sim. Por que razão? Porque são jogadores com um grande talento natural e porque na Polónia trabalham muito bem as Academias? Na minha opinião, não. E como não trabalham muito bem as academias o jogador polaco não vai sair com grandes bases. Pode haver um ou outro talento, que existe, mas o problema na Polónia é exatamente a formação, as ideias da formação, as ideias técnico-táticas que são mesmo muito fracas ainda. Precisam de muita mais formação e de muitos bons treinadores para poderem potenciar.

    Bola na Rede: O que falta exatamente?

    Tomás Podstawski: Eu acho que eles querem muito, mas não estão a fazer da melhor forma. Ou seja, estamos a falar de exercícios técnicos com bola, exercícios táticos, de saber ter a bola, de criar oportunidades, de automatizar alguns movimentos, posicionamento dentro de campo em diferentes estruturas. Os jogadores polacos andam muito perdidos dentro de campo, principalmente os jogadores jovens de 16/17 anos que vêm treinar connosco e eu vejo isso. Eles não têm noções táticas, de colocação de apoios, de receber a bola por dentro ou por fora, etc. Há mesmo muitas lacunas no aspeto tático. Acho que é isso que falta na Polónia, boa formação e boa qualidade de treinadores. Podiam estar melhores nas competições europeias. Serem uma presença mais regular nos grupos da Liga Europa. Eles estão sempre muito concentrados em vertentes físicas que é extremamente importante, mas não pode ser o principal.

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    Rui Pedro Cipriano
    Rui Pedro Ciprianohttp://www.bolanarede.pt
    Nascido e criado no interior, na Covilhã, é estudante de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. É apaixonado pelo futebol, principalmente pelas ligas mais desconhecidas, onde ainda perdura a sua essência e paixão.                                                                                                                                                 O Rui escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.