«Hoje em dia prefere-se um jogador sem experiência de Primeira Liga a um experiente com provas dadas» – Entrevista BnR com Alex Soares

    «Só soube uns dias depois de contar ao meu irmão que ia ao Moreirense
    que ele ia jogar lá também».

    Bola na Rede: Em 2019, surge um convite para voltares a Portugal e vestires a camisola do Moreirense. Foi uma decisão fácil de tomar, o facto de voltares ao teu país?

    Alex Soares: A minha ideia era continuar no estrangeiro, na altura. Entretanto, a minha esposa estava grávida e, como o Moreirense é um bom clube, surgiu a oportunidade e optámos por voltar a Portugal, mas a ideia era continuar a jogar lá fora.

    Bola na Rede: Contudo, há uma diferença entre todos os outros clubes onde passaste. Pela primeira vez, ias poder jogar futebol profissional com o teu irmão (Filipe Soares). Foi como voltares atrás no tempo, nos momentos em que jogavas com ele em tua casa, em crianças?

    Alex Soares: Só soube uns dias depois de contar ao meu irmão que ia ao Moreirense que ele ia jogar lá também. Nunca pensei que acontecesse devido ao percurso dos dois, gostei que acontecesse, mas preferia que não tivesse acontecido porque esperava que ele já tivesse noutros patamares, mas foi uma experiência inesquecível. Já estava há muitos anos fora, tenho uma ligação forte com o Filipe, mas já não lidava com ele no dia a dia há muito tempo e foi uma coisa muito boa. Partilhámos coisas que, em circunstâncias normais, não aconteceriam. Assim, ambos tivemos um apoio importante nesse período.

    Bola na Rede: Jogaram muitas vezes como dupla. Até que ponto jogar com ele ao lado era mais fácil? É como se tivessem de olhos fechados?

    Alex Soares: Não é por ser meu irmão, mas facilitava-me a vida e aos outros jogadores todos. Na minha opinião, fazia a diferença em relação a todos os outros. Mas, da mesma maneira como o nervosinho desaparece depois do primeiro jogo, o facto de ele ser meu irmão desaparece e é só mais um colega de equipa, mas claro… na hora de festejar e no início e final do jogo, procurava-o sempre a ele, primeiro.

    Bola na Rede: Até tiveram um festejo peculiar num golo do Filipe Soares frente ao Boavista FC, na época passada…

    Alex Soares: Desde que surgiu a oportunidade de jogarmos juntos, tínhamos dito que íamos fazer esse festejo. Eu não faço golos (risos) e demorou um pouco para ele marcar, porque nos dois primeiros golos pelo Moreirense (frente ao Gil Vicente) acho que eu estava lesionado, mas depois acabou mesmo por acontecer. Queria ter feito mais festejos desses, mas não deu.

    Bola na Rede: O Filipe Soares é uma das maiores promessas do futebol nacional. Quais as qualidades que acreditas que ele tem para dar um passo em frente na carreira?

    Alex Soares: O percurso que ele fez nos clubes e seleções jovens diz tudo. Não tenho dúvidas de que em breve vai dar o salto. Acho que a pandemia dificultou a saída dele, porque os clubes estão com problemas financeiros e é claro que o Moreirense quer fazer um bom encaixe financeiro. Acho que o Filipe vai chegar ao topo, mas ele gosta de dar um passo seguro de cada vez e eu acho que, em breve, vai ter tudo o que ele merece. Como jogador, acho que ele é muito bom no transporte da bola e sabe se desenvencilhar no 1×1. Também é rápido e muito forte fisicamente, chega bem à área e percebe o jogo, acho que essas são as melhores qualidades que lhe posso apontar.

    Bola na Rede: Voltando à tua carreira, fizeste mais de 60 jogos em duas épocas no Moreirense. Consideras que fizeste das melhores temporadas da tua carreira em Moreira de Cónegos?

    Alex Soares: A minha experiência no Chipre deu-me mais confiança e conforto com a bola, algo que não tinha, por exemplo, no CS Marítimo. Apesar de ter ido para uma equipa onde as coisas não correram bem, o Omonia era considerado um grande. As outras equipas jogavam mais atrás da linha da bola e isso obrigou-me a mudar certas coisas que repliquei no Moreirense. Lá correu tudo bastante bem a nível coletivo e pessoal, foram duas épocas boas, apesar de alguma instabilidade. O objetivo do Moreirense é claramente a manutenção e fizemos duas épocas tranquilas e até estivemos perto de fazer algo inédito. Tive a oportunidade de voltar a Portugal, mostrei que evolui e que melhorei com bons jogadores e bons treinadores. Se foi a minha melhor fase da carreira, não sei, mas no futuro vamos ver. Este ano, apanhei a pré-época um pouco tarde e estou fora de forma, mas espero que tudo corra pelo melhor.

    Bola na Rede: Na última época, o Moreirense teve três treinadores diferentes. Como reage um jogador a tantas rotinas diferentes, é difícil, ou parece bastante pior para quem vê de fora, como é o caso dos adeptos?

    Alex Soares: É difícil porque são três treinadores com ideias diferentes. Já vínhamos com o Ricardo Soares há algum tempo e já estávamos super adaptados ao seu estilo e, de repente, vem o César Peixoto com um estilo completamente diferente. Não sei se era melhor ou pior, porque ele não teve tempo de o mostrar, mas gostei das ideias dos dois, cada um à sua maneira. Felizmente tínhamos um bom grupo que percebia rápido as ideias novas e, se tivéssemos mais tempo com o César Peixoto, tenho a certeza que íamos assimilar tudo. Depois, vem o Vasco Seabra, com novas ideias e com outras qualidades e defeitos, como tinham todos. Não se trata só da mudança de treinador, são mudanças na maneira de jogar e até a forma de bater cantos é diferente. Por isso se faz a pré-época, para sabermos o que o treinador quer, conhecer as ideias novas… e com três treinadores novos não podemos ter três pré-épocas diferentes. Portanto, acho que foi uma grande vitória do grupo ao conseguir dar resposta no campo, apesar disso tudo. Talvez não exista essa noção do lado de fora, mas a época teve outro sabor porque, mesmo com todas as alterações, todos acabaram por ficar com a ideia de que tínhamos um bom grupo.

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    Clara Maria Oliveira
    Clara Maria Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    A Clara percebeu que gostava muito de Desporto quando a família lhe dizia que estava há muito tempo no sofá a ver Curling. Para isso não se tornar uma prática sedentária, pegava na caneta e escrevia sobre o que via e agora continua a fazê-lo.                              A Clara escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.