«Equipa atual do Benfica? Nenhum teria lugar no plantel em que estive com Jorge Jesus» – Entrevista BnR com David Simão

– Missão Impossível –

Jorge Jesus achava que eu era como o Witsel”

BnR: Na época 11/12 regressas finalmente à casa mãe, mas fazes apenas duas partidas antes de seres emprestado. Era missão impossível ganhar lugar naquele meio-campo?

DS: Era muito difícil. Não sei se o Matic, até dezembro, fez mais jogos do que eu; era sempre o Javi [García] que jogava. Aliás, quando jogava o Matic, dizia-se que ele era a gasóleo, que não corria… quando um jogador destes não joga, está apresentada a qualidade do plantel. O Nolito, que era suplente, fez 15 golos…

BnR: Há umas semanas, Fábio Faria dizia-me que nunca tinha visto tanta qualidade num plantel.

DS: É difícil pegares em alguém do plantel atual para entrar de caras nesse Benfica. Tens o Javi García e o Matic, tens o Axel, tens o Nico, o Pablo Aimar, o Saviola, o Cardozo, o Rodrigo, o Nolito, o Garay, o Luisão… vais trocar quem? É impossível.

BnR: Eventualmente o Grimaldo.

DS: Sim, também é o nome que me vem logo à cabeça. O Pizzi podia intervalar com o Bruno César, que não era superior ao português no seu melhor… a memória no futebol é curta. O Pizzi foi considerado o melhor jogador da Liga; há dois anos que carrega o Benfica às costas com golos e assistências que não são sequer vulgares num médio. Ele é muito meu amigo e tenho a plena convicção de que ele sabe que não atravessa o melhor momento de forma, mas como a equipa toda. Portanto, ele cabe nessa equipa; o Vinícius pode caber, mas não eram titulares indiscutíveis como são hoje.

BnR: Um dos homens dessa equipa era Rúben Amorim. O ex-médio já dava ares de poder vir a ser treinador?

DS: Acho que nem ele tinha bem definido que o futuro passaria por ser treinador. O Rúben sempre foi um excelente elemento de grupo, para além de um bom jogador: não era um craque, mas era super inteligente, por isso é que conseguia a jogar a defesa-direito, médio-direito, médio-defensivo. Se calhar, está aqui umas das principais características enquanto treinador. Não era o mais rápido, não era o mais técnico, o que batia melhor na bola, mas foi muito útil para vários treinadores desde o tempo do Quique Flores. Eu acho (…)

BnR: [David hesita]

DS: Nós mantemos contacto. Aliás, ainda ontem à noite estivemos a falar. O Rúben tem uma história com a minha família: é padrinho da filha do meu irmão, com quem jogou nas camadas jovens do Benfica. Naqueles três meses de férias da escola, ele passou muito tempo na casa dos meus pais. A minha relação com o Rúben vai muito para além do futebol. É um amigo, que na pré-época que fiz com a equipa principal pediu para ser meu colega de quarto – no ano anterior tinha andado muito tempo com o David Luiz, precisamente porque eles eram melhores amigos.

BnR: Que também deve ser um excelente elemento de grupo.

DS: O David?

BnR: Sim.

DS: Fantástico. Um palhaço [risos]. Esses jogadores fazem sempre falta, porque a época é sempre desgastante. Por muito bem que corra, há muita pressão diária para conquistares um lugar, para seres melhor, porque o teu colega está bem e se quiseres ganhar melhor que ele tens de jogar… mentalmente, mais do que fisicamente, é muito desgastante. Mas quando tens alguém assim, que te consegue passar boa energia e fazer com que aquilo pareça menos sério, é muito importante. No entanto, nos treinos, quando fazíamos com o mister Jorge Jesus os 4 km em 16 minutos, o David Luiz ia sempre à frente e encarava aquilo com um profissionalismo incrível.

[Mais uma pausa, desta feita para atender uma chamada do filho, a quem diz que já devolve a chamada porque está a dar uma entrevista]

BnR: A meio da época és emprestado à Académica, onde encontras Cédric, Adrien e… Éder. O golo frente à França foi um merecido reconhecimento do talento de alguém que nem sempre foi valorizado?

DS: Nem sempre foi valorizado por quem? Por pessoas que percebem de futebol o que eu percebo de política? Não era valorizado, mas continuava a ser chamado; alguma coisa tinha que ter. É claro que eu não dizia que ia ser o Éder a marcar aquele golo, e quem disser o contrário está a mentor, por mais amigo do Éder que seja. Fiquei muito feliz por Portugal ganhar – sou muito patriota e orgulhoso do meu país, apesar de não ter nascido em Portugal [David nasceu em Versalhes, França] – e por ser o Éder a marcar aquele golo; apesar de não ter jogado com ele – foi afastado da equipa por forçar a saída -, ainda estivemos juntos em diversos treinos e é um ser humano fantástico. Mais do que o jogador, que está aos olhos de toda gente, é um ser humano incrível.

BnR: Terminas a temporada com dois troféus conquistados, um por cada equipa. Qual deles teve o sabor mais especial?

DS: Pela Académica. Quando fui para Coimbra, foi por minha vontade. O mister Jorge Jesus não queria que eu saísse e disse-me que percebia a minha vontade, mas que crescia mais a treinar todos os dias com aqueles jogadores do que a jogar em qualquer outra equipa da Primeira Liga. Era feliz, mas não era: chegar ao fim-de-semana e já nem ter o entusiasmo de ir ver se o meu nome estava na lista ou não… estava a viver um sonho por estar no plantel do Benfica, um orgulho imenso dos meus pais, mas queria jogar. A Académica já estava na meia-final da Taça de Portugal, tinha grandes probabilidades de ir à final e era uma competição que me dizia muito. Tudo isto pesou e essa final foi, sem dúvida, o melhor dia da minha carreira.

BnR: Como era a tua relação com Jorge Jesus?

DS: Eu era um miúdo (…) parece-me que, hoje em dia, tem uma personalidade um pouco diferente, começou a perceber que o discurso dele, por vezes, podia não ser o melhor. Tínhamos uma relação normal, sem grande intimidade, porque nunca fui opção. Era mais um jogador do plantel, que estava ali para aprender. Chegou a dizer-me – e deu-me alguma graça, para ser sincero – que achava que eu era como o Axel [Witsel]; que quando o belga chegou ao Benfica era muito a gasóleo e que eu também era assim “Tu, com bola… o meu problema não é esse… mas precisas de desenvolver”. E eu pensava que se precisava de desenvolver, precisava de jogo. “Tens uma batida na bola muita boa, dos melhores que tenho aqui, jogas bem, mas andas a gasóleo”, dizia-me. E eu “Ok, percebo isso”, mas estar-me a comparar com o Witsel era demasiado. Como já falámos acabei por sair e, como precisavam de um português para preencher a vaga que ficou em aberto por causa da Liga dos Campeões, acabam por ir buscar o André Almeida.

BnR: Em Arouca ficas pela primeira vez como sénior num clube por mais de uma temporada. Estar ligado contratualmente a uma equipa grande condiciona a estabilidade e consequente afirmação de um jogador?

DS: O problema de alguns empréstimos é que, se o clube a quem és emprestado não tem ambições, podes começar a ficar de parte, porque não lhes vais trazer retorno. É mais por aqui, porque se és empresado e jogas, a ideia é essa: estas a mostrar-te, a valorizar-te e a crescer. O que eu não gostei, enquanto tive contrato com o Benfica, foi ser emprestado todos os anos: para um lado, depois para o outro… mesmo para a minha família não foi fácil. Hoje em dia utiliza-se muito o 50/50, como foi o caso do Chiquinho para o Moreirense, em que o Benfica teve de recomprar os 50% do passe; na minha altura isso não existia e as decisões acabam por nem ser tuas. Quando fui para o Arouca, não era para onde queria ir; não tinha uma proposta ainda no papel, mas tinha já uma coisa apalavrada a ganhar cinco vezes mais em comparação com o que fui ganhar.

BnR: De que clube?

DS: Um clube russo. No entanto, pelos timings, fui para o Arouca, que nunca tinha estado na primeira divisão, depois de na época anterior ter jogado a Liga Europa pelo Marítimo.

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