«Equipa atual do Benfica? Nenhum teria lugar no plantel em que estive com Jorge Jesus» – Entrevista BnR com David Simão

    – Vaivém –

    “Isto que estamos a fazer fascina-me”

    BnR: Sais para o estrangeiro em 2016, para representar o CSKA Sofia. Mais do que a proposta, foi o clima do futebol português que te levou a fazer as malas?

    DS: Nessa altura saí porque queria experimentar o estrangeiro, ir à aventura. Não fui ganhar muito mais do que ganhava em Portugal, na verdade. Arrependo-me dessa opção; pesou bastante o facto de já lá estarem portugueses – o Arsénio e o Diogo Viana iam trocar o Litex pelo CSKA e eu já sabia disso de antemão. Mas nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos: se hoje ganho dez, amanhã quero ganhar 20 e quando ganhar 20 acho que já é pouco e quero ganhar 30. Apesar disso, passei dos melhores anos com a minha família, porque estávamos quase sempre sozinhos e apoiámo-nos muito. Esse ano culmina com o derby CSKA x Levski, em que ganhámos 3-0 e eu marquei dois golos. Na temporada seguinte apareci com uma imagem mais forte juntos dos adeptos, mas o entendimento com o treinador não era o melhor e surgiu a oportunidade de ir para o Boavista.

    BnR: Já lá vamos. Foi na Bulgária fora que percebeste que o nível por cá não era assim tão baixo?

    DS: Já tinha essa noção, para ser sincero. Sou apaixonado por futebol e vejo muitos jogos. Há jogadores que não veem futebol e respeito; a nossa vida profissional consome-nos tanto que, quando chegas a casa, queres desligar. Eu gosto de ver futebol, falar sobre futebol – isto que estamos a fazer fascina-me. Tive sempre a noção de que em Portugal se jogava bom futebol e que havia bons jogadores, ainda para mais tendo em conta as dificuldades que os clubes têm. As pessoas são apaixonadas e percebem de futebol (…) quer dizer, algumas. Não percebo como é que os comentadores de televisão opinam tanto e nunca foram treinadores; já nem digo jogadores porque isso é uma questão física, às vezes. O curso está acessível a toda a gente… é tirá-lo e ir lá para dentro. Uma coisa é comentar aquilo que se vê, outra é a crítica gratuita.

    BnR: Por exemplo?

    DS: O Bruno Lage, quando estava a perder, metia três avançados e eu dizia “Não faz sentido”, sou livre; não posso é dizer que o Bruno Lage não percebe nada e tem de ser despedido. Nós não estamos lá, não sabemos como foi a semana de trabalho. Toda a gente fala de um jogador em específico no Benfica: por que é que não joga, desapareceu e não sei quê; nós não sabemos se é bom elemento de grupo, se destrói um balneário… há jogadores, os denominados puxa-saco, que sabem exatamente como viver dentro do futebol. Isto num grupo (…) nós percebemos, mas para fora, quem vê umas imagens de meia hora, pensa assim “Aquele, que fica chateado quando a equipa perde, não joga” e aquilo é uma máscara, porque quando não há câmaras, aquele jogador não é nada disso: entra a rir quando a equipa perde e de cara fechada quando a equipa ganha.

    BnR: Falamos de um jogador natural de um país onde já tenhas jogado?

    DS: Não vou dizer o nome.

    BnR: O bom filho a casa torna e a meio da segunda época no estrangeiro, ingressas no Boavista, onde ficas ano e meio. Foi o casamento perfeito?

    DS: Foi o melhor ano desde que jogo à bola. Fiz coisas que não achava que conseguisse fazer. Senti-me num nível tão elevado… lá está, pelo casamento que foi. Não posso dissociar disto do treinador, que foi fulcral: o Jorge Simão. O próprio grupo – ainda há pouco estive a falar com o Vítor [Bruno], podia falar do Fábio Espinho, Rui Pedro, Kuca, o próprio Renato Santos… tínhamos uma equipa muito engraçada. O Jorge fez-me crescer, marcou-me muito e considero-o como um pai. O Pedro Emanuel e o Rui Vitória também foram muito importantes, mas o Jorge levou-me para um nível muito alto. Tenho-lhe um agradecimento profundo.

    BnR: Resististe à primeira janela de transferências, mas acabaste por sair para a Bélgica, a que se seguiu a Grécia. Quais as principais diferenças que encontras do nosso campeonato para aqueles onde já estiveste?

    DS: O campeonato grego é o mais semelhante ao nosso. O belga é muito forte, muito competitivo, muito físico, muito rápido e com uma intensidade muito alta… gostei muito da Bélgica. Fui treinado pelo mister Laszlo Boloni, cuja imagem de marca é ser um treinador muito defensivo, e isso não beneficiava o meu estilo de jogo, apesar de ter excelentes resultados. Seis meses também foram pouco para me ambientar: dois são de “pré-época” e de repente passou meio ano. Não fui muitas vezes titular no Antuérpia, mas entrava quase sempre. Então quando entrámos na fase final… Genk, Gent, Brugge e Standard de Liège: equipas muito fortes! Top-5 em Portugal. A Bulgária é o campeonato mais fraco.

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    Miguel Ferreira de Araújo
    Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
    Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.