«Eu era mais forte e mais conhecido do que o Eto’o nos Camarões» – Entrevista BnR com Meyong

– Jesus no céu e na terra –

«Se o Benfica jogasse o dobro já era bom»

 

Bola na Rede: Apesar de não ser a época em que fazes mais golos na tua carreira, em 2005/06, ao serviço do Belenenses, és o melhor marcador do Campeonato Português. Soube-te bem esse prémio?

Meyong: Sim. Havia um detalhe que poucos sabem. Quando jogava no Vitória FC, por exemplo, no ano com o [Jorge] Jesus, nunca fui ponta de lança, era segundo avançado. Com ele, às vezes, até jogava a extremo. Mesmo assim, marcava muitos golos. Com o Carlos Carvalhal [no Belenenses] jogava mesmo como ponta de lança. Sempre que me metiam a ponta de lança eu fazia muitos mais golos. Quando apanho o Jesus no Braga, jogo como segundo avançado. Vendo bem, faz diferença. O Jesus achava que eu era melhor naquela posição.

Bola na Rede: No Belenenses, cruzas-te com o Rúben Amorim, atual treinador do Sporting. Há pessoas que dizem que o Rúben Amorim está a transpor a inteligência que tinha enquanto jogador para o papel de treinador. Também sentes isso?

Meyong: É verdade. Se não és inteligente enquanto jogador, é quase impossível seres inteligente para treinares. O jogador tem que perceber o jogo, porque vais para o campo e tens que perceber o que é que vais fazer lá dentro. Se não percebes é muito difícil e como treinador ainda mais, porque aí tens que perceber de todas as posições e de todo o sistema. Enquanto jogador, basta concentrares-te nas tuas funções. É um pouco mais fácil. Ele como jogador já era inteligente, jogava no meio-campo. Apesar de no tempo do Belenenses ainda ser miúdo. Por isso, a mim não me surpreende nada.

Bola na Rede: Portanto, estás a gostar do trabalho que ele está a fazer no Sporting.

Meyong: Tenho que lhe dar os parabéns. Eu sabia que lá no Sporting ia ser mais difícil do que em Braga, porque a equipa do Braga tinha um bom plantel e a equipa estava mais unida. Era mais fácil gerir a equipa do Braga do que a do Sporting. No Sporting, ele construiu uma equipa quase toda nova e teve logo resultados. O campeonato português ganha com isso. Quantos mais candidatos tivermos melhor.

Bola na Rede: Depois de uma passagem por Espanha, regressas ao Belenenses e dá-se aquele que ficou conhecido como o “Caso Meyong”, em que jogaste por três clubes diferentes na mesma época, o que é contra as regras. Em algum momento te sentiste culpado pela situação?

Meyong: Não me senti culpado. Culpado, se calhar, de não saber todas as regras. Tenho a certeza que há poucos jogadores que conhecem as regras todas. Também não vale a pena. Se um jogador tem que saber as regras e essas coisas todas, para que servem os empresários e os diretores técnicos? Se cada um fizesse o seu trabalho, esse caso nem devia ter acontecido. O meu empresário devia saber dessas coisas. O diretor técnico, que contrata o jogador, também deve saber que não pode contratar um jogador que não pode jogar. A culpa não é do jogador, isso é trabalho dos empresários e das direções. Naquele momento, eu não sabia dessa regra. A lei é a lei. Acredito que isso nunca mais vai acontecer. O pessoal do Belenenses também foi correto comigo. Só é pena não ter jogado.

Bola na Rede: Segue-se o Braga, onde reencontras Jorge Jesus que já admitiste ser um treinador especial para ti.

Meyong: Aprendi muito com ele. Ajudou-me muito a melhorar o meu futebol. Com ele, como disse, joguei em muitas posições e em cada posição aprendia muito. Facilmente conseguia jogar, porque eu era atento quando me explicavam as coisas e se não percebia perguntava. No momento em que ele me convidou para ir para o Braga, disse logo que sim, apesar de ainda ter contrato com o Levante. Cada ano que eu passava com ele, era melhor para mim. Também fiz uma grande época com ele. Depois ele saiu.

Bola na Rede: Gostas do estilo de liderança dele?

Meyong: Sim. O Jesus já mudou muito. O Jesus que eu conheci no Vitória FC não é o mesmo Jesus que eu conheci em Braga. Seguramente, já não é o mesmo no Benfica. É um homem que evolui, como toda a gente. Uma vez disse-lhe: “Mister, em Setúbal não era assim”. Em Setúbal, a gente treinava mesmo muito. Corrida, muito trabalho físico… Em Braga já era mais bola, um pouco mais de tática… Em Setúbal, não tínhamos tanta qualidade, então a nossa força era correr atrás dela [da bola]. Em Braga, tínhamos uma equipa com muita qualidade. Apesar de já não ser com ele, não é por acaso que acabámos vice-campeões. Desde aí o Braga está sempre a subir. No Benfica, ele apanhou jogadores ainda mais evoluídos, o que quer dizer que o trabalho tem que ser feito de outra maneira.

Bola na Rede: Achas que ele vai mesmo pôr o Benfica a jogar o triplo?

Meyong: Se jogasse o dobro já era bom. A equipa ainda não arrancou. Ele vai andar em cima deles. Os jogos do Benfica parecem jogos de pré-época. Ainda não estão a jogar o que podem jogar. Eu acho que, em termos de individualidades, o Benfica tem muitos bons jogadores, o plantel está muito bom. Por isso, não se compreende o baixo rendimento, em termos de equipa. Quando vês o onze do Benfica, são só jogadores de qualidade. Eu acredito que se há alguém com capacidade de reverter a situação é ele.

Bola na Rede: Já referiste que chegaste a ser vice-campeão pelo Braga. No campeonato português, é um feito de assinalar.

Meyong: Foi um ano espetacular. Mérito do treinador, o Domingos Paciência, que fez um grande trabalho. Tínhamos um grupo muito forte. Para mim, um dos melhores plantéis que o Braga já teve. Praticávamos um bom futebol. Conseguimos pôr o Braga na Liga dos Campeões e fizemos história. Agora, o Braga é claramente candidato todos os anos [a ser campeão]. Para seres campeão tens que ser duro, mas também assim é que sabe bem. Neste momento, apostaram num treinador que também tem condições e que já provou que tem qualidade. Vamos ver o que vai acontecer este ano. O ano passado era o ano ideal para o Braga ser campeão, porque os dois primeiros perderam muitos pontos. Não me lembro de ter visto os candidatos ao título a perderem tantos pontos. O Braga pagou pelo mau início de campeonato.

Bola na Rede: Também tiveste a chegada à final da Liga Europa.

Meyong: Nós contribuímos muito para o crescimento do Braga. Fizemos um grande jogo contra o Porto. Perdemos 1-0, mas não nos podemos esquecer que o Porto tinha uma das melhores equipas naquele ano. Numa final, tudo o que podia acontecer, aconteceu. Fizemos uma competição brilhante. O Braga está a confirmar essa grandeza a nível Europeu. 

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Francisco Grácio Martins
Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.

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