«Eu era mais forte e mais conhecido do que o Eto’o nos Camarões» – Entrevista BnR com Meyong

    – O tropeço de um grande –

    «Toda a gente vai para a frente, mas o clube vai para trás»

     

    Bola na Rede: Trabalhaste como treinador-adjunto no Vitória FC. Entre as várias equipas técnicas que entraram e saíram mantiveste-te sempre. Na época passada, numa equipa com tantos problemas, era importante existir um elemento de estabilidade?

    Meyong: Eu era treinador do clube, tinha contrato com o clube. Normalmente, os treinadores que vinham tinham uma equipa. Quando eles se iam embora eu ficava, porque era treinador da casa. O facto de termos tido tantos treinadores também não contribuiu muito, mas o Vitória FC tinha outros problemas que, se calhar, acabaram por meter o Vitória FC onde ele está. O Vitória FC não foi bem gerido.  Mesmo assim, continuo a acreditar que as coisas podem voltar ao normal. Tenho que acreditar. Um clube como o Vitória FC não pode morrer. Acreditamos que podemos voltar.

    Bola na Rede: Quando assumiste o cargo de forma interina, existia a possibilidade de, se as coisas corressem bem, continuares como treinador principal?

    Meyong: A direção nunca me pediu isso. Eu só fazia o que a direção me pedia. Nem tinha muita ajuda, porque, no jogo que fiz, tinha uma equipa técnica de cinco [elementos]. Era para ajudar enquanto eles decidiam o que iam fazer. Eu defendia os interesses do clube. Quem manda é o presidente. Não tive problema nenhum. Se ele me pedisse para ficar, eu também ficava. A direção achou que tinha que arranjar um treinador. Aliás, foram buscar o Lito Vidigal, mas não sei se havia necessidade, porque faltavam quatro jogos. O melhor, se calhar, era não deixar ir o Julio Velázquez. De qualquer maneira, acho que as decisões não foram boas, mas o mal já está feito.

    Bola na Rede: Também sofreste com os salários em atraso?

    Meyong: Tinha contrato com o Vitória, por isso, nos salários em atraso, estávamos todos juntos. Estivemos não sei quantos meses… Até hoje… Pensava que nunca mais ia ter esse tipo de problemas, que isso era uma coisa de antigamente. É muito mau para o jogador que ganha pouco e tem que treinar todos os dias. Ele é que sofre mais, mas acaba por sofrer toda a gente. Os empregados do clube também precisam de receber. A nova direção está a tentar arranjar solução, porque o clube precisa.

    Bola na Rede: Se ainda jogasses, eras capaz de fazer aquilo que o Nuno Pinto, o Zequinha e o José Semedo fizeram e acompanhar a equipa até aos escalões não profissionais?

    Meyong: Sim, jogava. Se eu pudesse ajudar, eu ajudaria. Estamos a falar de um clube que eu gosto. Estou sempre disponível para ajudar. O Zequinha e essa gente toda têm possibilidade de ajudar e isso é fantástico. Se eu tivesse essa oportunidade, era com alegria que ajudaria. Se calhar, por enquanto, não precisam da minha ajuda, mas tenho que apoiar quem está a ajudar. É dessa forma que eu penso as coisas.

    Bola na Rede: Que diferenças é que encontras entre o Vitória FC de hoje e o Vitória FC que encontraste quando chegaste pela primeira vez?

    Meyong: Quando cheguei, o Vitória FC estava na Primeira Divisão, não é? Agora, parece um clube um pouco abandonado, não tem nada a ver. No Braga, quando cheguei, era uma coisa. Agora, têm escolinhas, têm centro de formação… Está sempre a evoluir, mas no Vitória FC não. As coisas até vão para trás. Quando eu cheguei tínhamos um campo de treino. É que já nem campo de treino a gente tem agora. Não é normal. Toda a gente vai para a frente, mas o clube vai para trás. As pessoas que vão gerir o clube têm que pensar primeiro no clube e não nelas. Quando os sócios, como eu sou, começarem a ir para o Vitória FC para ajudar, as coisas vão mudar. Se a nova direção for com a intenção de ajudar, nem que seja um bocadinho, já é qualquer coisa. Se um vier e ajudar um pouco, o outro vier e ajudar um pouco, com muitas ajudas pequenas vai dar uma grande ajuda. Antes era: ninguém ajudava e ainda tiravam. Depois, é muita gente a tirar e pronto… o clube caiu. Se o pessoal começar a ir lá para servir o clube e não para se servir, vamos ter um Vitória FC que vai voltar e voltar mais forte.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.