«Eu era mais forte e mais conhecido do que o Eto’o nos Camarões» – Entrevista BnR com Meyong

    – Um leão indomável –

    «Eu era mais forte e mais conhecido do que o Eto’o nos Camarões»

     

    Bola na Rede: Que tal foi a experiência na seleção dos Camarões?

    Meyong: Na seleção principal não consegui jogar tanto como gostava, mas fiz parte, por exemplo, da equipa que ganhou os Jogos Olímpicos e esse é um dos meus maiores feitos que os Camarões conseguiram a nível internacional. Fazer parte disso é notável. Também joguei jogos da CAN. Gostava de ter jogado o Campeonato do Mundo, mas não cheguei a jogar. De qualquer forma, estou satisfeito com a minha carreira. Quando eu jogava, os Camarões estavam muito fortes. Na minha posição, tinha o [Samuel] Eto’o e tinha o [Patrick] Mboma, não era fácil.

    Bola na Rede: Como foi partilhar a posição de avançado com o Eto’o?

    Meyong: O Eto’o era muito forte. Ele evoluiu muito. Quando estávamos nos Camarões, ele não era assim tão forte. Eu acho que era mais forte e mais conhecido do que ele nos Camarões, quando éramos miúdos. Eu cheguei a entrar em jogos da Primeira Divisão dos Camarões, mas ele nunca jogou. Quando jogámos a eliminatória dos Jogos Olímpicos é que eu vi que ele tinha melhorado. Não finalizava tão bem como eu, mas era muito rápido e isso era uma vantagem que ele tinha. Era um orgulho jogar com um jogador do nível dele. Não posso falar só no Eto’o. Tinha outro jogador muito bom, o Mboma. Tinha muita classe, muita qualidade, era muito bom na finalização. Tecnicamente, tinha um pé esquerdo…

    Bola na Rede: Se tivesses que escolher entre Roger Milla e Eto’o, quem é que escolhias?

    Meyong: Essa é muito difícil. Isso não se pergunta a um camaronês [risos]. Eu vou dizer Roger Milla. Eu vi-o jogar. Se calhar não era tão rápido como o Eto’o, mas, como finalizador, não sei se alguém finaliza como ele. Nunca vi nenhum jogador a finalizar ao nível dele. É incrível. Com 40 e tal anos conseguiu fazer golo no Mundial, isso quer dizer que ele tinha mesmo qualidade. São dois craques.

    Bola na Rede: Os Camarões continuam a ser uma das seleções africanas mais fortes mesmo depois da desilusão na última CAN e de terem falhado o Mundial?

    Meyong: Sim, os Camarões são uma das seleções mais fortes de África. Falhámos na última CAN, mas não nos podemos esquecer que éramos campeões. Isso pode acontecer. O mais doloroso foi falhar o Mundial. Nos Camarões, a ida ao Mundial é mais que tudo. Este ano, vão fazer tudo para irem. A equipa está boa, temos muitos jogadores de qualidade, mas a África é como a Europa agora, já não há equipas pequenas. Os países que ninguém conhecia já jogam bem. Apanhas Cabo Verde ou Moçambique e não penses que vais dar 4-0 a andar. Porquê? Por que é muito mais fácil os jogadores se tornarem profissionais, jogarem na Europa ou até jogarem na África do Norte, porque nos países do Magrebe o futebol é profissional, tal como na África do Sul. Chegas lá a pensar que eles não sabem jogar e estás enganado. É mais difícil, mas os Camarões vão ser sempre favoritos para essas coisas todas.

    Bola na Rede: Ainda assim, parecem estar num processo de renovação. O sucesso da seleção passa por garantir que jovens talentos que saíram do país muito cedo e que adquiriram outras nacionalidades vão jogar pelos Camarões?

    Meyong: Normalmente, os Camarões não têm esse tipo de problemas. Os jogadores que estão fora têm orgulho de ir para os Camarões, porque não é uma equipa qualquer. Os jogadores que estão aqui na Europa sabem que os Camarões não são uma equipa pequena e, por isso, eles vão lá. Depois, podem existir problemas de organização, como o caso que aconteceu com o [Joel] Matip. Os jogadores vão lá e podem não gostar do funcionamento da equipa e acharem que está desorganizado e não irem, como foi o caso do Matip e que ele não gostou muito. Até hoje, deixou de ir, mas qualquer dia pode regressar. Toda a gente sabe que ele é uma mais-valia. Depende também do treinador que tem que tentar convencê-lo e provar que as coisas estão no lugar. É preciso ir com calma. Os africanos têm outro ritmo em termos de mudança. Os Camarões estão a fazer de tudo para dar condições aos jogadores.

    Bola na Rede: Estava-me a lembrar do caso do Youssoufa Moukoko, do Borussia Dortmund, que tem nacionalidade camaronesa.

    Meyong: Imagina que a Alemanha o quer. Os Camarões não vão ter condições para competir com a Alemanha. O que é que os Camarões têm que ter? Têm que participar sempre no Mundial. Se assim não for, perde-se a força que têm em termos internacionais. Jogadores como esse querem jogar o Mundial. Estava a falar do Matip, a CAN não lhe interessa tanto, mas se fosse o Mundial ele ia. São essas coisas que tens que balancear.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.