«O jogador não passa pelas mãos do Jorge Jesus e continua o mesmo, é impossível» – Entrevista BnR com Filipe Oliveira

Sai pupilo de Portugal, e regressou depois de conquistar a Sua Majestade. A estadia em terras lusas não perdurou, e Filipe Oliveira foi um aventureiro no mundo do Futebol. Itália, Hungria, Chipre e Roménia fazem parte do currículo do lateral ofensivo, que agora joga do lado do scouting na Arábia Saudita. Foi orientado por treinadores como José Mourinho, Ranieri e Jesus, mas nenhum destes é a sua escolha para dirigente que o mais marcou. Apesar de assumir alguns erros de gestão na carreira, Filipe Oliveira diz que aprendeu com todos eles. 

Ao fim de ter uma carreira de 24 anos, alguns entres os grandes palcos europeus, teve uma experiência de três meses a lavar carros, e uma lição que tirou para a vida. Vencedor de um Torneio Toulon, uma Intertoto e um campeonato inglês e húngaro, o braguista nascido e criado analisa o percurso do SC Braga nos últimos anos, na mesma hora que recorda os balneários que partilhou com campeões mundiais, e ídolos, e ainda alguns momentos que perduram atravessados na garganta. Um analista sem sombra de dúvidas, o lateral não deixou de mostrar como vê o futebol português, e ainda algumas diferenças e surpresas que foi encontrando entre os campeonatos que calcou.

Acho que o passo errado foi voltar a Portugal”

Bola na Rede: Para começar pelo teu início de carreira. Fizeste formação no SC Braga e no FC Porto. Numa altura em que se fala tanto de formação, e com a tua ligação ao scouting, que principais diferenças encontras? Além disso, sentes que na tua altura havia falta de oportunidades? 

Filipe Oliveira: Não, no meu caso específico não posso dizer isso. Eu não saí em virtude de falta de oportunidades. Não foi de total maneira esse o caso. O que surgiu na minha altura com 17 anos foi que houve um processo que se estava a desenrolar a nível de formação, as coisas estavam a correr bem, de tal maneira, que se proporcionou ir para Inglaterra e seguir caminho. Tanto a oportunidade surgiu que eu quando saí de Inglaterra voltei com 20/21 anos para uma equipa da Primeira Liga, o Marítimo. Não posso dizer que no meu caso específico foi falta de oportunidade.

Bola na Rede: Aproveitando já a tua referência a Inglaterra, fazes a tua estreia como sénior no Chelsea FC, olhando agora para trás, arrependeste de ter dado esse passo?

Filipe Oliveira: Não, acho que o passo errado, e com todo o respeito e mesmo com muita humildade digo isto, mas é uma análise que tenho de fazer, e faço enquanto atleta que já terminou a sua carreira. Acho que o passo errado foi voltar a Portugal. Nunca foi ter saído para Inglaterra, eu com 18 anos tive a oportunidade de já poder-me estrear-me na equipa principal. O Chelsea, na altura da minha quarta época, estava num período de transição no próprio clube. Na altura havia um proprietário que era o Ken Bates que estava a estruturar o clube e estava com uma filosofia de poder proporcionar oportunidade aos jogadores da formação, porque o próprio clube precisava disso, precisava de rentabilizar, e eu tinha sido contratado muito nessa linha de pensamento. Entretanto chega o Abramovich, contratou o José Mourinho, e tudo mudou dentro do clube, houve uma mudança radical, não digo nos objetivos, porque o Chelsea FC já era uma equipa que lutava para ganhar títulos. Só para relembrar que no último ano do Ranieri o Chelsea FC ficou em segundo lugar no campeonato. Mas na primeira temporada de Mourinho, com todo o investimento, e com toda a qualidade do plantel, conseguiu-se chegar ao objetivo de ganhar o campeonato. Mas para nós jovens que estávamos numa fase de formação e afirmar-se na primeira equipa, tudo se tornou muito mais complicado.

Bola na Rede: Abordaste a qualidade do plantel. Na altura o Chelsea FC já tinha o Terry, o Gallas, o Petit, o Lampard, o Crespo, entre outros. Como foi para ti com 17/18 anos chegar ao balneário e ver aqueles craques? 

Filipe Oliveira: É muito curioso porque eu vinha de uma realidade portuguesa, onde nessa altura a distância da equipa de formação para a primeira equipa era muito grande. Havia a equipa B que era o meio termo, mas de juniores para a primeira equipa era uma diferença e distância muito grande. Quando chego a Inglaterra levo com esse embate. Isto porque, o edifício onde tanto a equipa de juniores, a equipa B e a equipa de seniores treinavam era o mesmo. Nós partilhávamos o mesmo edifício, ou seja, o que para um português causava alguma estranheza de poder conviver com a equipa principal, para os ingleses era algo muito natural, e isso foi muito enriquecedor a nível de crescimento. Eu chegava ao ponto de estar a trabalhar no ginásio junto dos atletas da primeira equipa. Chegava ao ponto de estar no pequeno-almoço e no almoço junto dos atletas da primeira equipa. Inclusive, nós tínhamos a tradição, comigo não aconteceu, possivelmente porque também cheguei alguns meses mais tarde a Inglaterra, mas os miúdos da equipa B e juniores tinham por tradição cuidar das botas de um dos atletas da equipa principal. Isto são tudo estratégias que os ingleses têm, muito bem na minha opinião, de encurtar distâncias e dar a visão de que é possível atingir e alcançar grandes patamares. Foi muito interessante, porque tínhamos jogadores de classe mundial, só para relembrar, o Desailly tinha acabado de ser campeão do Mundo pela França, era o capitão da seleção, mas com uma simplicidade e de uma naturalidade enorme, de convivência, diálogo, abertura, extraordinário, adorei.

Bola na Rede: No Chelsea FC ainda apanhas uma comitiva portuguesa, se assim podemos chamar, o Ricardo Carvalho, o Paulo Ferreira, o Tiago, o Nuno Morais e o Filipe Morais. Isso ajudou-te de alguma forma a estares melhor e mais preparado?

Filipe Oliveira: A nível de adaptação não teve influência nenhuma, até acho que foi mais ao contrário. Isto porque, salvo erro, a comitiva portuguesa chegou na minha quarta temporada, foi mais eu poder auxiliá-los, sobre a cidade, onde são os locais, essas coisas, do que verdadeiramente mais eles a mim. O que eu senti, e estou muito grato a quem me ajudou foi facto de falarmos a mesma língua fez com que tivéssemos uma maior proximidade, e o facto de podermos estar em convivência diária, vai-nos tornando mais próximos um dos outros. E isto a nível futebolístico, tive a oportunidade de evoluir com o Paulo Ferreira, com o Tiago, com o Ricardo Carvalho, com o Nuno Morais e o Filipe, e toda a restante equipa técnica, porque era o Mourinho, o André Vilas Boas, o Rui Faria, o Silvino.

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João Pedro Gonçalves
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