«Angola é um mercado apetecível e interessante».
BnR: Aproveitando o embalo desta experiência no Sudão, propunha-lhe uma pequena viagem pelo estrangeiro e pelas suas experiências lá fora. Começamos pelo Al Khaleej, na Arábia Saudita, em 2007. Como foi esta primeira experiência no estrangeiro? Alguma história engraçada que queira partilhar connosco?
RF: Foi a primeira vez que saí de Portugal e foi difícil. Não tinha ninguém, fui sozinho: nem família, nem staff. Aprendi que não deveria ir para fora sem ninguém. Foi um momento interessante, mas não tinha a experiência que hoje tenho e, por isso, digo que que não me marcou positiva ou negativamente. Não me deixou grandes marcas. Nem boas, nem más.
BnR: Mas parece dar a ideia de que foi uma aventura dura…
RF: Sim, tinha vontade de chorar, queria vir-me embora. Estive lá três, quatro meses, e não conseguia mais pela distância e por estar sozinho. Tive de sair rápido.
BnR: Depois, em 2010 e 2011, surgem duas experiências no Vietname (Long Na e Becamex Binh Duong). Já estive a ler sobre estas o terem marcado, mas pela positiva. Como era a realidade futebolística neste país?
RF: Fantástica, adorei viver na cidade de Ho Chi Minh. Muito bom. Uma parte do país evoluída. Tivemos sucesso, as coisas correram bem. Aí já levei portugueses comigo. O primeiro ano correu bem, o segundo já não tão bem. Mas seguramente que, se tivesse a experiência que tenho hoje, já teria corrido melhor. As pessoas e a qualidade de vida marcaram-me pela positiva. Sobre o futebol, bom, na altura havia um bocadinho de batota. Das apostas e tal. E isso às vezes desvirtuava um bocado. Nunca vi, mas contaram-me coisas sobre isto que eram estranhas. E quando me falam de Vietname, tenho de falar de Henrique Calisto. Ele está para o Vietname como eu estou para o Sudão ou o Manuel José para o Egito. O Henrique Calisto sempre se preocupou comigo, foi de uma solidariedade enorme. Fiquei ainda mais amigo dele. Mas gostei de lá estar.
BnR: Voltava para lá?
RF: Bom, não era o ideal mas, para sustentar a família, sim. Para outros sítios não voltaria de certeza, mas para lá, se tivesse de voltar, voltava.
BnR: Depois, de Angola surge o convite do Recreativo da Caála para treinar no Girabola. O que nos pode dizer sobre essa experiência e como tem acompanhado a evolução do futebol angolano?
RF: Para nós, portugueses, há um ponto que é muito importante: a língua. Percebem bem o que dizemos, ao contrário do mundo árabe, onde até o inglês pode não garantir a facilidade na comunicação. O futebol em si, naquela época, não tinha muitas condições para se jogar. Havia dois, três campos bons, no máximo. Mas hoje tenho a consciência de que as coisas mudaram muito e digo que Angola é um mercado apetecível e interessante. Essencialmente porque confiam em nós e, claro, pela língua.
BnR: E sobre a experiência em si? Alguma história engraçada ou caricata?
RF: Tenho uma situação gira, vamos a ela. Lá havia o culto da “gasosa” – que eram pedidos de dinheiro por parte de funcionários para fechar os olhos a determinada infração. Ora, íamos numa rua e o nosso motorista vira à esquerda. O polícia manda-o parar e diz: “Está multado! Não viu o sinal de proibido?”. E ele responde: “Onde? Não está lá nada”. E o polícia diz isto: “Ah, não está hoje, mas estava ontem…”. Sem comentários…
BnR: Temos ainda mais dois países para visitar… Começamos por Kuala Lumpur, na Malásia, em 2015. A Malásia é um país com pouca história a nível futebolístico; que desafios encontrou neste projeto?
RF: Malásia… Adorei… Kuala Lumpur… Grande cidade, tudo em grande. Muito boa qualidade de vida. Se tiver oportunidade, deves visitar. Agora, o futebol, não. Muito amador. Puseram-me a treinar num campo sintético pequeno. Perguntei sempre quando é que iriam mudar esta situação e foram adiando. Foram quatro, cinco meses, nisto até que me fartei e decidi voltar para Portugal.
BnR: Foi o mais amador que encontrou?
RF: Sim, foi mesmo a Malásia.
BnR: Finalmente, queria ainda chegar à Tunísia para falarmos da experiência em 2014/15 no Espérance de Tunis, aqui como Coordenador Técnico. Que projeto tinha idealizado? Também lá esteve José Morais, João Cunha e Baltemar Brito…
RF: Uma experiência que correu bem. Adorei a Tunísia e ainda lá voltava para umas boas férias. Fui diretor-técnico da formação da Academia do Espérance de Tunis e havia sentimento de responsabilidade. Há grandes jogadores em África que vão para lá jogar, é apetecível. O jogador tunisino tem uma qualidade mental acima da média. São muito profissionais, são conceituados e têm um grande entendimento do jogo.