«No Sporting os jogadores achavam que estávamos a curto prazo» – Entrevista BnR com Zé Pedro

– Zé Pedro e Silas, ídolos para JJ –

BnR: Jorge Jesus disse que tu e o Silas teriam sucesso de certeza absoluta como técnicos. Como recebeste na altura esta mensagem, ainda por cima vinda de um antigo treinador teu?

ZP: Eu e o Silas demo-nos muito bem com ele, algumas vezes ele liga-nos para irmos almoçar os três. Ele adorou-nos e nós adorámo-lo, no fundo foi isso. O Silas também foi treinado pelo Mourinho e diz que já teve os dois melhores portugueses da história, mas que mesmo assim continua a preferir o Jorge Jesus. Ele gostou muito de nós enquanto jogadores e enquanto seres humanos e nós adorámo-lo enquanto nosso líder, enquanto nosso treinador e enquanto nossa referência. Bebemos muito do conhecimento que ele nos deu e utilizamos em muita coisa nossa, juntando ideias nossas. Perante o grupo de trabalho do Belém ele idolatrava-nos. Ele era o treinador da tática e nessa entrevista em que ele disse isso de nós irmos dar treinadores e tal, ele disse também que nós enquanto jogadores já eramos taticamente muito fortes.

BnR: Tens algum episódio engraçado com ele?

ZP: Ele comigo dizia-me muitas vezes, aos gritos, para todos ouvirem “F******, tu treinas a 70% e já jogas assim, se tu treinasses a 100% imagina onde é que tu estavas!” Ehehe. Mas eu sempre tive consciência que treinava dentro das minhas capacidades, não sabia avaliar se era 70% ou 80%, ele achava que eu poderia dar mais.

BnR: Qual a sensação de regressar como treinador a uma casa onde representaste tanto como jogador?

ZP: Eu acho que foi essencial para o Belenenses ter sido o Silas e eu os treinadores de transfer do Restelo para o Jamor. Continuo a achar que, nos últimos 20 anos, não só pelo que as pessoas me transmitem mas pela avaliação que faço porque tenho acompanhado sempre o Belenenses, eu e o Silas fomos os dois melhores jogadores ou as duas maiores referências. Isto com provas dadas, eu não sou nada de me autoelogiar, são factos. A verdade é essa. Para o transfer, para as condições que tínhamos no Restelo e depois passámos a ter no Jamor, as confusões com o símbolo, com as cores, com o nome, com tudo, acho que fizemos um trabalho muito bom.

BnR: Inicialmente vocês iam era treinar a equipa B certo?

ZP: Sim, quando o convite nos foi feito a equipa B ia ser formada e nós já estávamos a trabalhar sobre isso. Para mim voltar àquela casa foi maravilhoso porque o Belenenses em termos desportivos deu-me muito. O Belenenses e o Vitória de Setúbal foram as duas equipas que me deram mais na carreira. Quando o Silas me ligou a dizer que o Rui Pedro Soares queria falar connosco para sermos os treinadores da equipa B que iam formar, eu fiquei encantado. Depois quando estive lá, voltei a estacionar o carro no parque do Restelo, entrei nas instalações, falei com o presidente, falei com o José Luís, o diretor desportivo… Voltar passados uns anos, noutro contexto, àquela instituição e àquele estádio foi muito importante para mim.

BnR: Que condições encontraste neste Belenenses?

ZP: As coisas já estavam um bocadinho atribuladas, porque na altura em que o Rui Pedro Soares nos convidou para treinar a equipa B eles podiam utilizar as instalações mas, por exemplo, em quatro treinos da semana o futebol profissional só podia utilizar as instalações do clube duas vezes. Nos outros dias iam ao Jamor. Já havia um valor anual ou mensal que a administração da SAD pagava à administração do clube para a SAD utilizar o espaço do clube. Só aí foi uma grande diferença em relação aos tempos de jogador, não apanhei nada disso na altura, as instalações eram nossas e de mais ninguém.

BnR: Entretanto, entram para substituir Domingos Paciência.

ZP: Exatamente, concluímos a época já como treinadores principais e aí já apanhámos isso de treinarmos no Jamor e no Restelo. Às vezes o treino estava marcado para o Restelo, de manhã ligava-nos o Zé Luís a dizer que o treino afinal já não era no Restelo e que tínhamos que ir para o Jamor. Depois na época seguinte transitámos definitivamente para o Jamor e foi uma confusão tremenda. O que valeu foi o grupo e o Silas e eu como treinadores de transfer do Restelo para o Jamor. Outro treinador qualquer… treinar em cima de folhas, campo seco, ninguém para regar o campo, fazeres uma caminhada de quase um quilómetro para ir treinar e depois do treino mais um quilómetro para vires para o balneário. Sinceramente, se não fôssemos nós não havia treinador que aguentasse uma época neste contexto.

BnR: E em termos de plantel?

ZP: Tínhamos muita qualidade nesse Belenenses: Bakic, Yebda, fomos buscar o Nathan, depois o Yazalde, o Licá, além dos jogadores que já tínhamos no plantel, como o Fredy. Aquele grupo de trabalho dava para lutarmos por mais qualquer coisa do que não só a manutenção. Depois o grupo foi um bocadinho desfeito quando transitámos do Restelo para o Jamor. O Nathan não ficou, o Yebda também não, queríamos que o Robert ficasse, que era um central canhoto, mas não chegou a acordo com o Belenenses, o Yazalde depois também teve uma lesão. Houve jogadores importantes que saíram e que era importantíssimo mantermos quando fizemos o transfer do Restelo para o Jamor. Mas conseguimos à mesma um grupo espetacular, como eu não via há muito tempo.

BnR: Qual a melhor lição que o futebol te ensinou?

ZP: Xiii, deu-me tanta coisa… O futebol deu-me tudo. Acho que o futebol apimentou a minha lealdade, já era da minha personalidade mas acho que o futebol deu-me tantas aprendizagens, a nível pessoal, a nível profissional.

Frederico Seruya
Frederico Seruya
"It's not who I am underneath, but what I do, that defines me" - Bruce Wayne/Batman.                                                                                                                                                O O Frederico escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Benfica emite comunicado a esclarecer possível processo relacionado com mudança de Germán Conti para a Rússia

O Benfica emitiu um comunicado a esclarecer a situação da transferência de Germán Conti, que pode colocar Rui Costa em maus lençóis.

Treinador do Boca Juniors luta pela vida e imprensa argentina fala em horas críticas

Miguel Ángel Russo encontra-se a lutar contra um cancro da próstata, que o levou a afastar-se do posto de treinador do Boca Juniors.

Benfica: Sobreviver enquanto candidato ao título

O Benfica saiu do Estádio do Dragão com um Satisfaz. No fundo, José Mourinho fez o essencial: sobreviveu enquanto candidato ao título.

Real Madrid: avançado custou 6 milhões de euros e espreita estreia na equipa principal nas próximas semanas

Rachad Fettal chegou ao Real Madrid no último mercado de verão, custando seis milhões de euros, depois de se ter destacado no Almería.

PUB

Mais Artigos Populares

FC Porto faz grande homenagem a Jorge Costa e dá ao Olival o nome do internacional português

O FC Porto anunciou durante esta segunda-feira que o Olival passará a ser chamado de Centro de Treinos e Formação Desportiva Jorge Costa.

Frankfurt prepara-se para pedir 80 milhões por um dos jogadores que prometem agitar o mercado

O Frankfurt tem pouco interesse em perder Can Uzun no próximo mercado de verão e quer receber 80 milhões de euros pelo jovem.

Rui Costa preparado para ser arguido em caso relacionado com dinheiro russo e a transferência de um jogador do Benfica

Rui Costa prepara-se para ser considerado arguido num caso que envolve a transferência de dinheiro com origem na Rússia.