«Podia encaixar muito bem na tática do Sporting e também na do Benfica» – Hildeberto Pereira

    «Se fizer aqui 15 ou 16 golos e se estiver bem vou acabar por regressar para um grande clube em Portugal ou na Europa»

    Bola na Rede: Depois de duas épocas positivas em Setúbal foste para a China, para o Kunshan FC, da 2.ª divisão chinesa. Financeiramente deves hoje ter um bom contrato, mas não temes que estar na China pode-te tirar do radar dos grandes clubes portugueses e europeus – que é, como já me disseste, onde esperas chegar um dia?

    Hildeberto Pereira: Acho que não. Hoje em dia as grandes equipas da Europa também acompanham os campeonatos asiáticos e o chinês. O contrato aqui é, realmente, muito bom, mas não é só o contrato, é também o projeto do clube. O clube é novo, criado há pouco tempo, em 2018, e gostei muito daquilo que me apresentaram. O projeto é muito bom, eu e o [Bruno] Pirri [também ex-jogador do Vitória de Setúbal] já fizemos história no ano passado [o Kunshan FC terminou a época 2019/2020 no 3.º lugar, apenas a um lugar da subida de divisão] e agora queremos continuar a fazer história, queremos ajudar a levar o clube à Superliga chinesa, que é o grande objetivo. Por isso, não tenho receio. Na minha cabeça isso não existe. Estar na China só me dá ainda mais motivação para trabalhar, porque sei que todos os clubes estão a ver ou, pelo menos, estão atentos às estatísticas – se fizer aqui 15 ou 16 golos claro que vai haver interesse da Europa –,que interessa muito no futebol hoje em dia. Tenho a certeza que se estiver bem aqui vou acabar por regressar para um grande clube em Portugal ou na Europa. 

    Bola na Rede: A experiência na China está a correr bem, mas o início não foi assim. Quando chegaste ao país foste infetado com a covid-19 e estiveste um mês no hospital, longe da família e dos amigos… Como é que foi essa fase?

    Hildeberto Pereira: Na altura foi mesmo muito duro. Foi a primeira vez que saí para fora da Europa, para um país como a China, longe de tudo, e estar sozinho, ainda por cima com a covid… Tive momentos em que chorei, é verdade… Mas tive o apoio dos meus irmãos, da minha namorada na altura – que me apoiou em todos os momentos –, dos meus amigos de infância, que todos os dias e momentos me ligavam… Graças ao apoio de todos eles as coisas tornaram-se mais fáceis.

    Bola na Rede: Esse apoio da família e amigos foi dado sempre à distância…

    Hildeberto Pereira: Sim. Mas senti sempre que eles estavam perto de mim, que estavam ao meu lado, ali, comigo, e acho que isso foi muito importante para consegui ultrapassar essa fase. Foi isso que me deu ainda mais força e começar a jogar mais rapidamente. Cheguei ao clube muito bem fisicamente – trabalhei para isso com o preparador-físico Jaime Ramos, que me preparou muito bem – e as coisas começaram a correr-me bem… Apesar de não ter marcado muitos golos, quem viu os jogos sabe que estive muito bem, que as coisas saíram-me muito bem. A equipa esteve sempre a ganhar, o que é o mais importante, e acabámos por fazer história ao ficar em 3.º lugar. Agora, esta época, estamos focados em sermos campeões e subirmos à Superliga chinesa.

    Bola na Rede: E agora no Kunshan FC… Qual é o plano imediato?

    Hildeberto Pereira: O plano é marcar o máximo de golos pelo Kunshan FC. Tenho como objectivo marcar pelo menos dez golos… Até já coloquei essa fasquia nas minhas notas do telemóvel. Vou trabalhar e esforçar-me para isso… Fazer números, golos, assistências… Para depois poder voltar para um clube grande da Europa. Como extremo ou como lateral.

    Bola na Rede: No Notttigham Forest começaste a jogar em 3x5x2 ou 3x3x3. Destacaste-te como lateral mais adiantado, a fazer todo o corredor direito. Depois, no Vitória de Setúbal avançaste no terreno e jogaste, quase sempre, na posição de extremo… E hoje até temos o Sporting de Ruben Amorim e, por vezes, o Benfica de Jorge Jesus a jogar com três centrais. Qual é a posição em que te sentes mais confortável?

    Hildeberto Pereira: Adoro a tática do Sporting. Adoro atuar nesse esquema, como lateral, a fazer o corredor todo, como fazia no Nottignham Forest. E, nessa altura, as coisas estavam todas a sair bem. É verdade que também me sinto bem a extremo, mas acho que é nessa táctica e como lateral que me sinto melhor… Sou um jogador rápido, muito forte e bom no um contra um. Por isso, acho que na tática do Sporting e também na do Benfica, quando joga assim, podia encaixar muito bem.

    Bola na Rede: E tens acompanhado o futebol português à distância? Como é que tens visto a caminhada do Sporting, que, ao que tudo indica, vai conquistar o título de campeão nacional, 20 anos depois?

    Hildeberto Pereira: Eu tinha dado uma entrevista antes do campeonato português começar e, por acaso, tinha dito que, este ano, haveria surpresas. Sabia que os plantéis estavam a reforçar-se muito bem… Mas, de facto, está a haver uma surpresa. O Sporting, apesar de não ser campeão há muitos anos, é um clube grande e muito forte. E aquilo que o mister Ruben Amorim está a fazer é extraordinário, com os miúdos e com os jogadores que contratou. É magnífico como jogam. Claro que estão a aproveitar a má fase do Benfica e do FC Porto, mas não podemos olhar só para isso, temos de ver o futebol que o Sporting pratica e acho que está em 1.º lugar por mérito próprio.

    Bola na Rede: O que é, para ti, mais surpreendente? A boa época do Sporting ou a má do Benfica?

    Hildeberto Pereira: O futebol tem fases. Apesar de o Benfica ter gastado muito dinheiro, as coisas, às vezes, são assim… O Manchester City, uma equipa multimilionária, com jogadores extraordinários, teve uma má fase. O Liverpool, que foi campeão inglês, com jogadores extraordinários, está a ter uma má fase, o Barcelona, uma das melhores equipas do mundo, tem más fases… Porque é que o Benfica não pode também ter uma má fase? Sim, às vezes não é preciso gastar muito. Às vezes tem a ver com fases. O Sporting contratou jogadores e as coisas encaixaram. E quando numa equipa grande como o Sporting as coisas encaixam… É muito difícil as coisas saírem mal. No Benfica, aconteceu precisamente o contrário. Apesar do investimento feito, as coisas não encaixaram… Não está em causa a qualidade dos jogadores (que existe), mas creio que é uma má fase da equipa. O futebol é isto. Claro que para os adeptos do Benfica é muito frustrante, e para mim também, que sou benfiquista, mas o futebol é mesmo isto… Tem altos e baixos. O Sporting não ganhava um campeonato há 20 anos, não estava bem, e hoje está com uma mão na taça. Há que levantar a cabeça, tentar perceber o que está mal. Todos os adeptos do Sporting, FC Porto ou Benfica têm de compreender que as coisas são mesmo assim… O amor ao clube, esse, nunca acaba, por isso têm de continuar a apoiar… E no final, que ganhe a melhor equipa.

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    João Amaral Santos
    João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
    O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.