«Cheguei a ter conversas com o SC Braga, mas foi com Vitória SC que as coisas andaram» – Entrevista BnR com Douglas

– O pendurar das luvas e o futuro como treinador de guarda-redes –

«Se eu fizesse esse anti-jogo que as pessoas falam, provavelmente teria mais cartões, não é?»

BnR: Depois de dez anos, o Douglas está fora da baliza do Vitória SC. Achas que já era preciso reformular a baliza?

Douglas: Se fores ver, não é só a baliza. Na baliza, ia chegar este momento… Quem me dera poder jogar até aos 100 anos. Acho que é um processo normal: o Miguel [Silva] é mais novo, podia ter ficado mas acho que era o momento para sair e foi fazer a vida dele. Se olhar para trás, joguei dez anos no clube, joguei 235 jogos. Tenho mais para agradecer que reclamar de alguma coisa. O meu papel hoje é torcer para que tudo dê certo no Vitória SC, que alcance os objetivos todos. Vai ser bom para todos.

O guarda-redes brasileiro representou o Vitória SC por dez anos e pendurou as botas. Contudo, tem muito para contar por terras vimaranenses

BnR: O Vitória SC surpreendeu ao contratar vários guarda-redes jovens. Que qualidades vês nesses jogadores?

Douglas: Conhecer, só conheço o [Bruno] Varela, de jogar contra ele, e o Celton [Biai], que treinava connosco. Os outros dois eu não conheço, nem vi um treino ainda, nem um vídeo. Mas tenho a certeza absoluta que, para serem contratados, é porque têm qualidade. O Carlos Freitas é uma pessoa que dispensa comentários na área, sabe tudo do futebol. Agora, é uma posição em que só joga um e espero que o mister tenha dores de cabeças porque significa que está a correr bem. Vai ter de escolher um e espero que, o que ele escolher, dê alegrias aos vitorianos.

BnR: São guarda-redes que estão a fazer o mesmo caminho que tu fizeste, a experimentar um país diferente. Que conselhos darias a eles?

Douglas: Olha, que trabalhem muito e foquem-se no trabalho porque, se for diferente, não vão conseguir. Se forem olhar para as dificuldades não conseguem, mas se focarem no trabalho e meterem na cabeça que vão conseguir com muito trabalho… Só acredito que, assim, é que um guarda-redes chega a um nível bom e hoje, com a qualidade que nos oferecem, só não aproveita quem não quer.

Douglas
Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

BnR: Por vezes, os adeptos dos adversários criticaram o Douglas por perder algum tempo. Porque é que os guarda-redes insistem em perder tempo e pedir assistência, que prejudica o espetáculo?

Douglas: Há alguns que exageram, mas outros não. Acho que eu era normal, mas vou-te dar um exemplo, porque as pessoas falam às vezes sem critério: o meu último cartão pelo Vitória SC foi na época do Peseiro (2017/2018) e foi uma expulsão estúpida em Portimão, tenho muita vergonha de ser expulso naquele dia, mas foi o meu último cartão. Já lá vão três épocas. Depois fiz mais de 50 jogos e não levei nenhum cartão. Se eu fizesse esse anti-jogo que as pessoas falam, provavelmente teria mais cartões, não é? Esta época joguei 38 jogos e não levei nenhum cartão. Se for preciso segurar o jogo, é claro que fazemos porque o resultado é o mais importante. «Ah mas isso é feio», mas no calor do jogo, às vezes, acontece. Agora, há guarda-redes que fazem, mas não sei se são instruídos a isso ou se é por quererem. Aí tem de se ver que orientação têm, mas às vezes é difícil estar a jogar com o FC Porto, por exemplo, e a dez minutos do fim ter levado cinco remates, aí se calhar vai-se tentar parar o jogo para poder respirar. Acho que o dia em que o campeonato estiver mais livre tecnicamente… Na Inglaterra não se vê isso porque o nível é muito igual, mas também vemos jogos da Liga dos Campeões em que equipas fazem isso. Não é fácil…

BnR: O que achas ser preciso mudar no futebol português para as equipas não estarem tão distantes umas das outras?

Douglas: Acho que tem a ver com a situação financeira, aquilo que os clubes recebem devia ser igual e aquilo que conseguiam extra era mérito de cada um.

BnR: Qual foi o teu melhor momento nas dez épocas no Vitória SC?

Douglas: Melhor? É uma boa pergunta. Normalmente falamos no melhor ligado ao resultado, a altura da Taça de Portugal acabou coroada com um troféu. Mas se fores ver números a época passada com o Luís Castro foi uma época top. Eu acho que ao longo destes anos, dentro do esquema em que as equipas eram montadas, sei que consegui ter um bom nível… E quão mais fortes eram as equipas, melhor para mim. Essa equipa do Luís Castro era muito forte a defender, acabou por ser boa para mim. Mas é claro que fica sempre a imagem da Taça.

BnR: E o pior momento?

Douglas: Foi uma lesão que tive no menisco em 2014, na última época do Rui [Vitória]. Começámos o campeonato bem, até chegámos a liderar nas primeiras jornadas, mas num jogo em casa com o Boavista FC eu magoei o joelho, precisei fazer uma artroscopia e durante a recuperação tive uma infeção. Tive de fazer outra, mas a infeção foi muito séria e não sabia se voltaria a jogar. Nunca se soube, tive de guardar para mim e foram dois ou três meses de recuperação e com muito medo de não poder voltar, mas graças a Deus consegui dar a volta. Foi o momento mais complicado porque teve a ver com saúde, mas dentro de campo sempre lidei bem com os jogos menos maus, ficava lixado, nervoso, mas dava sempre a volta. Agora uma lesão que não depende de mim… É complicado.

BnR: Qual foi o treinador que mais te marcou?

Douglas: Todos me marcaram um pouco, mas o Rui [Vitória], pelo facto da conquista da Taça nas condições que tinha… Não só o mister, mas a equipa técnica, que tinha o Luís Estevão como treinador de guarda-redes e ajudou-me a evoluir muito. Mas com todos aprendemos muito.

BnR: Com quem tiveste uma experiência negativa?

Douglas: É assim, graças a Deus nunca tive problemas com um treinador. Com quem joguei menos foi com o Sérgio Conceição, mas era por opção dele, nunca tive nenhum problema com ele. Sempre nos respeitamos.

Douglas no estádio D. Afonso Henriques, já com novas funções nos vimaranenses
Fonte: Facebook Douglas

BnR: Nunca lhe perguntaste porque não jogavas? 

Douglas: Não porque nas vezes que joguei também não perguntava o porquê de jogar. Não sou dessa linha de perguntar porque não jogo, sempre preferi treinar ao máximo, fazer o meu melhor e o mister que decidisse. Sempre respeitei muito as decisões

BnR: Se pudesses mudar uma coisa na tua carreira o que seria?

D: Não teria sido expulso em Portimão. Fiquei mesmo envergonhado…

BnR: Que clube gostavas de ter representado?

Douglas: Na verdade, pela minha carreira, donde saí, por tudo o que passei… Tenho mais a agradecer que a questionar alguma coisa. Acho que o que aconteceu na minha vida, foi o que tinha de ser e estou mesmo grato.

BnR: Qual jogador te criou mais problemas?

Douglas: Em Portugal, lembro-me que o Jackson [Martínez], na passagem pelo FC Porto, era muito difícil jogar contra ele. O Jonas também tinha um poder técnico muito apurado, eram jogadores que tínhamos de estar ligados o tempo todo, senão marcavam.

BnR: Para terminar, o que ambicionas da tua carreira fora dos relvados?

Douglas: Ah, quero ser tão bom treinador de guarda-redes quanto fui como jogador. Ou até muito melhor, vou trabalhar para isso. Agora é o início, ainda não como treinador de guarda-redes, apesar de estar sempre no campo com os miúdos a trocar experiência. Mas, claro, que o sonho é estar numa equipa profissional e vou trabalhar por isso.

Todas as fotografias usadas nesta entrevista foram retiradas das redes sociais do entrevistado Douglas de forma consentida.

Artigo revisto por Diogo Teixeira

João Reis Alves
João Reis Alveshttp://www.bolanarede.pt
Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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