«O FC Shakhtar lutava para ser campeão em Portugal» – Entrevista a Luís Castro (Parte I)

– O Futebol de Formação –

«O problema é que há clubes que querem a mensalidade do miúdo e não querem criar regras para os pais».

BnR: Luís, falar da sua carreira é também falar da sua passagem pelo FC Porto. Esteve em vários escalões de formação dos dragões e foi inclusivamente campeão no FC Porto B. Será esta a melhor fase da equipa azul e branca, ao nível da formação?

LC: Não quero vincular as minhas palavras a um clube. Quero falar de forma geral. Os clubes de maior dimensão devem sempre formar a tentar ganhar. Não é formar a ganhar porque se dissermos isso, pensa-se que é para ganhar a qualquer custo e isso não é assim. O jogador tem de criar condições para ganhar e nós temos de ajudar a fazer o mesmo. Alguns clubes em Portugal, como FC Porto ou SL Benfica, conseguiram alguns títulos interessantes e que dão maior sentido à sua formação. O que quer dizer que as vitórias são conquistadas com qualidade. Ninguém ganha uma Champions, uma Liga Europa ou um campeonato sem qualidade. Tem qualidade os seus treinadores, a sua administração, os seus jogadores, os seus adeptos conseguiram dar conforto à equipa… Toda a gente tem qualidade quando há vitórias.

BnR: Continuando ainda a falar sobre o futebol de formação em Portugal, um dos grandes problemas desta área continua a ser o facto de alguns pais de jogadores serem mais adeptos do próprio filho do que da equipa que ele representa. Como é que se lida com esse problema?

LC: Isso é um facto. Mas, quando há factos e essas realidades existem, tem de se criar regras para esses factos. Não se consegue a mente. O telefone existe. Quer-se retirar o telefone da mão dos miúdos? Não. O computador existe. Quer-se retirar o computador da mão dos miúdos? Não. Temos é de criar regras para que a existência desta tecnologia coabite diariamente com eles. Isto é como os pais. Alguns pais têm estas características agressivas. E reforço, alguns, porque coabitei com pais enquanto estive no FC Porto e alguns deles eram deliciosos na forma como entendiam o jogo dentro do clube. Depois, há outros que não entendem. E como existe isto, vamos criar regras para que eles não influenciem de forma direta a vida do clube. E isso é fácil de criar. O problema é que os clubes, como querem a mensalidade do miúdo, não querem criar regras que vão contra a vivência dos pais nos clubes. E então, pronto, nunca vamos ter uma boa formação. Porque existem sempre estes problemas. Os clubes de maior dimensão não têm esses problemas por isto mesmo: os pais não vêem os treinos. Têm um conjunto de regras instituídas e transpiram “saúde” no seio dos clubes. É só isto. Mas vamos querer o quê? Educar os pais? Eles já estão educados, têm 30 e tal ou 40 anos. Quem é que os vai querer educar? Agora, criar regras é o melhor a fazer.

A experiência de Luís Castro no FC Porto B
Fonte: FC Porto

BnR: Falando ainda do seu feito ao serviço do FC Porto B, quais é que foram os segredos para conquistar esse título e quais é que foram os maiores obstáculos nessa caminhada?

LC: Competência e qualidade. Embora muita gente não quisesse dizer isso. Aliás, vou-lhe dizer mais: dentro da formação do FC Porto trabalhava Vítor Severino, João Brandão, Vítor Matos e Luís Castro, que estiveram este ano na Champions. Portanto, um clube que tem cinco recursos humanos que agora estão na Champions League claramente tinha de ter qualidade. E as coisas não acontecem por acaso. Além destes de que falei, havia um conjunto de jogadores do FC Porto que tinham uma qualidade fantástica, que cresceram e desenvolveram as suas competências, e muitos deles agora estão no futebol com carreiras profissionais muito interessantes. Para mim, é uma satisfação muito grande vê-los a jogar.

BnR: Falando aí pela sua passagem pelo FC Porto, o Luís substituía, curiosamente, o Paulo Fonseca. Na altura, falou-se muito de que tinha feito um bom trabalho, mas acabou por não ficar como técnico principal e voltou à equipa B. Acha que tinha capacidade para ficar como treinador principal?

LC: Se eu tivesse feito bons resultados e conquistado títulos, naturalmente a vida seguiria. Vou contextualizar: tudo tem timings e isso também tem um timing. Eu tinha estado fora do futebol e do treino durante sete anos. Eu tinha nesse ano voltado ao futebol e estava com a equipa B. Com sete, oito meses de trabalho, não foi o melhor timing. Para o FC Porto, a missão foi cumprida e houve ali a transição para a época seguinte. Desenvolvi o trabalho como podia desenvolver, mas tenho a consciência de que o timing não foi o melhor para eu ter essa oportunidade.

Redação BnR
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