«Os polacos pensavam que ir buscar jogadores a Portugal era mais difícil e não é» – Entrevista BnR com Tomás Podstawski

    Tomás Podstawski é daqueles casos em que o nome não engana. Filho de mãe portuguesa, é do seu pai polaco que herda o apelido mais “estranho”. É um dos mais internacionais de sempre pelas camadas jovens da Seleção portuguesa, mas é na Polónia, terra do pai, que tenta elevar o seu patamar futebolístico. Neste momento, encontra-se sem clube e ainda não sabe aquilo que o futuro lhe reserva.

    -Os dilemas da dupla nacionalidade-

    «Portugal acaba por ser a minha primeira casa»

     

    Bola na Rede: Olá, Tomás. A época na Polónia terminou na semana passada, já voltaste a Portugal?

    Tomás Podstawski: Sim, voltei logo a seguir. Vim para o Porto, a minha família mais próxima está toda cá, a família da minha namorada também está cá. Estamos em casa, já não vinha ao Porto desde Março 2020, então regressar é um sentimento muito bom.

    Bola na Rede: Deduzo que as saudades já apertassem?

    Tomás Podstawski: Já tinha saudades. Sentia falta das rotinas de estar no Porto. É sempre bom chegar e ir explorar aquilo que de novo há na cidade. Revisitar os amigos que já não via há muito tempo. Fiquei muito contente com este regresso.

    Bola na Rede: A Polónia ficou então para trás, sentes que também deixaste uma segunda casa ou não tens um sentimento particular em relação ao país do teu pai?

    Tomás Podstawski: Sim claro, olho para a Polónia como sendo casa também. Falo a língua e sou cidadão polaco. Além disso, toda a minha família paterna é polaca e vive na Polónia. Quando era mais jovem passava muitos verões na Polónia, sinto-me bem lá, como em casa, gosto muito do país. Não é como se estivesse a viver num país estrangeiro, embora Portugal seja sempre o sítio onde nasci e tenho cá grande parte dos meus amigos, então naturalmente Portugal acaba por ser a minha primeira casa.

    Bola na Rede: És luso-polaco, nasceste e cresceste no Porto. Quais as principais diferenças entre um jovem que nasce e cresce num país tendo metade do seu sangue noutro lugar e um jovem que tem os dois pais da mesma nacionalidade? Há diferenças?

    Tomás Podstawski: Sim, há diferenças e faz diferença no teu crescimento. Ficamos bem cedo com uma perspetiva e uma noção daquilo que são diferentes culturas. No meu caso fiquei por dentro da cultura portuguesa e polaca e acho que isso me enriqueceu muito, porque além de conhecer e saber falar fluentemente o polaco, também fiquei a perceber a história e as pessoas. As pessoas muitas vezes não têm noção daquilo que é o outro país, para mim pessoalmente acho que é uma grande vantagem poder crescer com duas culturas diferentes. Mas claro, o choque poderia ser maior, estamos a falar de duas culturas europeias.

    Bola na Rede: Somos da mesma geração, por isso partilhas da mesma experiência futebolística que eu. Portugal e Polónia neste século têm-se defrontado várias vezes, a tua primeira memória provavelmente será o confronto no Mundial 2002. Como é que se viviam esses encontros aí em casa?

    Tomás Podstawski: Sim, de facto lembro-me desse jogo. Eu olhava para esses jogos sempre de uma forma especial. Ficava triste por ter que dividir, não conseguia puxar a 100% por Portugal, porque ficava sempre com alguma tristeza por a Polónia perder. Nunca vivi um Portugal x Polónia na Polónia, com o ambiente polaco, que seria certamente diferente. Mas também ficava triste por um dia e depois acabou e passava [risos]. Vá, tirando ali nos quartos de final do Euro 2016. Esse jogo eu já era mais velho e foi mais difícil ainda no sentido de ser um jogo a eliminar e com toda aquela emoção das grandes penalidades. Foi o mais difícil, mas eu sempre representei a seleção portuguesa e sempre que qualquer uma das seleções jovem joga eu estou sempre a apoiar as duas.

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    Rui Pedro Cipriano
    Rui Pedro Ciprianohttp://www.bolanarede.pt
    Nascido e criado no interior, na Covilhã, é estudante de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. É apaixonado pelo futebol, principalmente pelas ligas mais desconhecidas, onde ainda perdura a sua essência e paixão.                                                                                                                                                 O Rui escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.