«Se pudesse, tinha evitado sair em litígio com o Benfica» – Entrevista BnR com Hugo Leal

Durante vários anos, foi considerado o “menino bonito” do SL Benfica. Anos mais tarde acabou por sair da Luz, debaixo de insultos. Não se acanhou e seguiu a sua carreira, passando por clubes como o Atlético de Madrid, Paris Saint-Germain e FC Porto. Não fossem as malditas lesões e poderia muito bem ter sido um dos maiores nomes no passado recente do futebol português. Hoje, continua ligado ao desporto pelo qual se apaixonou e admite que é mesmo o futebol que mantém viva a criança que há sim. Sempre muito ligado à família, nunca diz que não a um momento de boa disposição e está sempre pronto a soltar um sorriso. Estes e muitos mais pormenores para ler nesta entrevista, em que Hugo Leal abriu o livro ao Bola na Rede e contou tudo o que havia para contar.

«Tinha o desejo de chegar à equipa principal do SL Benfica. Tê-lo conseguido com 16 anos só torna a coisa mais especial»

Bola na Rede: Bom dia, Hugo! Entraste no mundo do futebol, com sete anos, graças a um tio que jogava na equipa sénior da Sociedade Recreativa Albarraque. Na altura, já era um sonho teu vir a ser profissional de futebol ou o Hugo Leal de sete anos tinha outros objetivos?

Hugo Leal: O Hugo Leal de sete anos gostava muito de jogar à bola. Jogava mesmo por prazer. Na altura, jogava-se muito na rua e, depois, esta oportunidade de jogar federado veio, como disseste e bem, por um tio que jogava no Albarraque. Portanto, essa foi a minha primeira experiência no futebol federado, no mundo do futebol organizado e depois foi passo a passo, porque, na realidade, o que eu queria era jogar à bola, fosse na rua ou no campo, por isso, naquele momento, o único objetivo era desfrutar do jogo. Claro que todos queríamos imitar os nossos ídolos e ambicionávamos chegar onde eles chegavam, mas, acima de tudo, acho que a grande vantagem que tive na vida desportiva foi viver o momento.

Bola na Rede: Estiveste seis meses no Albarraque, saíste para o Grupo União Desportiva de Alcabideche, depois mudaste-te para o Estoril Praia, foste considerado o melhor jogador de um torneio em Ponte Frielas e acabaste por receber um convite para o SL Benfica, aos 12 anos de idade. Naquela altura, estavas consciente da evolução que a tua carreira estava a ter e já tinhas noção que podias de facto ser um jogador bem-sucedido?

Hugo Leal: Não tinha essa noção. Tinha era a noção de que era bom de bola. Isso via-se na escola, quando era escolhido primeiro, quando solucionava problemas que pareciam difíceis, quando me via livre de um, ou dois, ou três opositores, por isso fui percebendo que tinha jeito para o futebol. Só mais tarde é que vais percebendo que tens muito jeito, quando já estás nos grupos de elite e, ainda assim, continuas a ter destaque. No entanto, isso nunca me subiu muito à cabeça, nunca me alterou a perspetiva daquilo que era o gosto por jogar, mas fui reconhecendo aquilo que te disse e isso ainda te traz mais força para continuar.

Bola na Rede: És, até aos dias de hoje, o jogador mais novo de sempre a estrear-se pelo Sport Lisboa e Benfica. Estreaste-te com 16 anos de idade. Quão gratificante é, para ti, carregares um recorde desta importância numa das maiores instituições desportivas deste país?

Hugo Leal: Mais do que isso, era o desejo de chegar à equipa principal do SL Benfica. A partir do momento que entro nas equipas de formação do Benfica, esse era um objetivo natural. Tê-lo conseguido com 16 anos só torna a coisa mais especial, mas se não fosse recorde também não era por aí. O mais importante foi, sem dúvida, a satisfação do primeiro momento como profissional, em campo, na instituição, como dizes e bem, de referência nacional. Os momentos vivem-se e esse foi mais um dos que eu tive a sorte de viver.

Bola na Rede: Sentes que essa tua estreia foi apressada, face a um momento menos bom que o Benfica estava a atravessar?

Hugo Leal: Provavelmente. Se as coisas estivessem muito bem no Benfica, se calhar, um atleta jovem como eu era, não teria tantas oportunidades. Isto é como tudo, são oportunidades que surgem. Também a verdade é que eu acho que estava bem preparado, quer desportivamente como mentalmente. Estava com o ego em altas, sentia-me capaz de tudo, capaz de enfrentar o mundo, até um pouco naquela base da inocência, mas acho que acabou por correr bem.

Bola na Rede: Fazendo apenas um pequeno aparte, sempre foste presença regular nas camadas jovens da seleção, exemplo disso mesmo é o facto de seres o quinto jogador português de sempre com mais internacionalizações no escalão de sub-18. Posto isto e independentemente do escalão, explica-me qual é a sensação de entrar em campo com a camisola de Portugal vestida.

Hugo Leal: O meu primeiro jogo foi no Algarve (sub-15) e, como aquilo não era para todos, torna a coisa ainda mais extraordinária, o facto de ser algo tão seletivo poder jogar pela seleção. Depois, é obviamente o orgulho de representar um país. É muito gratificante representar Portugal. Cada jogo que fiz, sentia emoções diferentes. Não era o mesmo que jogar por um clube, por mais paixão que tivesse por determinado clube que jogasse, jogar pela seleção era algo sempre muito especial.

Fonte: FPF

Bola na Rede: Curiosamente, por seres muito novo, oscilaste muito entre os escalões em que jogavas na seleção. Ora estavas nos sub-18, como depois ias aos sub-21 e a seguir vinhas aos sub-20, por exemplo. Era difícil para ti estar sempre a mudar de grupo de trabalho ou só querias jogar e nada mais importava?

Hugo Leal: Só queria jogar. (risos) O objetivo era sempre jogar. Tenho de dar muito mérito aos treinadores da seleção nacional e aos treinadores do Benfica, que me guiavam e orientavam a interpretar este tipo de sinais, ou seja, quando estás nos sub-21 e depois és convocado para os sub-18, eles souberam preparar-me para perceber a importância disso e o que representava para cada processo. Hoje, como treinador e responsável pela formação, percebo que a intenção ali era fazer-me entender que cada momento tinha o seu propósito e que eu tinha de me adaptar aos diferentes momentos, por isso nunca tive problemas em ir saltitando de escalões. Isso foi me dando muitas experiências de vida, muitas internacionalizações e muitas amizades.

Alexandre Sequeira Ribeiro
Alexandre Sequeira Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
Nascido e criado na ilha Terceira, nascido e criado para o futebol. Desde cedo aprendeu, viveu e vibrou com o desporto rei. Com o futebol e a escrita espero proporcionar um espetáculo fora das quatro linhas para todos aqueles que partilhem o gosto pela bola e pelos seus artistas.

Subscreve!

Artigos Populares

Irmãos Deus fazem história e alcançam o top-40 do ranking mundial de Padel

Portugal tem, pela primeira, dois jogadores no top-40 do ranking mundial de Padel. Os irmãos Deus estão no 39.º lugar.

Horas decisivas e 5 milhões de euros de distância: o que separa Viktor Gyokeres da mudança do Sporting para o Arsenal?

Viktor Gyokeres está muito perto de uma transferência para o Arsenal. Gunners querem fechar o acordo com o Sporting esta semana.

A festa de Patrícia Morais com os adeptos depois do empate entre Portugal e Itália

Patrícia Morais guiou a festa de Portugal após o empate diante da Itália. Guarda-redes portuguesa celebrou junto dos adeptos.

Orkun Kokçu pressiona Benfica e já escolheu o próximo clube na carreira

Orkun Kokçu quer rumar ao Besiktas. O médio turco pressiona o Benfica a aceitar a proposta do clube do seu país natal.

PUB

Mais Artigos Populares

Fechado: Pedro Russiano vai ser o novo treinador do Penafiel, sabe o Bola na Rede

As negociações entre o treinador Pedro Russiano e o Penafiel foram concluídas com o sucesso e o técnico assume a equipa da Segunda Liga.

José Boto pode apresentar demissão no Flamengo: eis o motivo

O futuro de José Boto no Flamengo pode estar a chegar ao fim. Em causa está uma contratação cancelada pelo clube brasileiro.

Alvo do Benfica falha apresentação aos trabalhos no Lyon

Thiago Almada não se apresentou aos trabalhos junto do Lyon. Médio não integra lista divulgada pelo conjunto francês.