«Pizzi teve a sorte de eu me lesionar. Ganhou a titularidade e atirou-me para o banco de suplentes» – Entrevista BnR com Caetano

    -Mundial Sub-20, a regularidade e a UEFA Champions League-

    «As pessoas diziam “Caetano! Caetano! Caetano!”, eu estava a cumprimentá-las e tal… mal chego ao hotel, cheguei ao elevador, subi até ao piso do quarto e vomitei o corredor todo»

    Bola na Rede: Há bocadinho, tocaste aí num ponto muito precioso. Parece que tens aí fotografias do nosso rascunho. As convocatórias para as seleções são sempre especiais e tu já andavas nessas andanças há algum tempo, não era novidade para ti. Porém, a chamada para o Mundial de Sub-20 deve ter sido, certamente, especial. Onde estavas, com quem estavas, o que estavas a fazer e qual foi a primeira reação?

    Caetano: Já não me lembro (risos). Já foi há muitos anos (risos). Sei que estava a fazer uma época tremenda e já estava a contar com a chamada para o Mundial. Acho que, nesse Mundial, só eu, o Nélson Oliveira e o Pelé é que jogávamos na Primeira Liga. Humildade à parte, estava mesmo a contar com a convocatória. Agora, quanto a essas particularidades, não me recordo de nada. Mas é um orgulho imenso representar a Seleção! E acho que o Mundial foi o momento mais alto da minha carreira, digo-o sem pudores… jogar de três em três dias, com os estádios com 40, 50, 60 mil pessoas, numa final do campeonato do mundo da FIFA – que é a segunda competição mais importante – na Colômbia, com os estádios sempre cheios, os adeptos loucos a torcer por Portugal… foi maravilhoso! Fomos muito bem tratados na Colômbia! Ainda por cima não gostavam da Argentina e nós, como os apanhámos nos quartos-de-final, eles apoiaram-nos. Foram momentos únicos que recordo com muita satisfação.

    Bola na Rede: Nessa competição, tu não jogas o primeiro jogo da fase de grupos, foste titular a partir do segundo até aos quartos (vs. Argentina), falhaste o jogo das meias-finais e jogaste ainda 38 minutos na final (vs. Brasil).

    Caetano: No final do jogo contra a Argentina. tive uma gastroenterite. Eu fui ao controlo anti-doping e sei que estava acompanhado por um colega meu, não me lembro quem… Da Argentina estavam dois, o Lamela e o Iturbe. Então, estivemos ali à conversa e tal… depois do jogo, é sempre complicado urinar (risos)… eu bebia água, bebia Powerade, bebia cerveja, bebia tudo… depois, o autocarro foi embora e só consegui fazer passadas duas horas. Para chegar ao hotel, entramos numa carrinha que tinha os bancos dispostos ao contrário… ainda por cima a estrada estava cheia de curvas… fiquei completamente enjoado! Cheguei ao hotel naquele misto de emoções e adrenalina, aquilo estava repleto de jornalistas e eu com uma vontade de vomitar que vocês não imaginam… as pessoas diziam “Caetano! Caetano! Caetano!”, eu estava a cumprimentá-las e tal… mal chego ao hotel, cheguei ao elevador, subi até ao piso do quarto e vomitei o corredor todo (risos). Vomitei tudo! Estava todo lixado, até me deitei um bocado no chão! (risos). Não consegui jantar, fiquei com uma gastroenterite. No dia seguinte, fomos numa avioneta pequenita e eu disse “Deus me livre! Eu não vou nesta avioneta pequenita!”. Acabei por ir, todo cagado (risos). Pá, a má disposição voltou durante dois, três dias. Foi por isso que não consegui jogar com a França. Para o Maisfutebol, deram uma entrevista engraçada porque diziam que eu estava sempre no posto médico para tratar do joelho (risos). Uma vez chegaram lá e não me encontraram: estava era a pôr soro, numa salinha ao lado (risos). Depois, treinei no último dia antes do Brasil e ainda entrei nesse jogo…

    Bola na Rede: (risos). Nunca tinha ouvido falar dessa história. Que tesouro! Fala-me lá dessa caminhada quase celestial…

    Caetano: Éramos uma equipa muito forte e, dentro de campo, muito unidos. Às vezes, não é assim tão importante sermos unidos fora de campo. Já tive grupos muito melhores a nível de brincadeira. Mas aquele dentro de campo, dava tudo por toda a gente. O mister Ilídio Vale penso que conduziu muito bem as coisas. Por essa razão é que fomos considerados a geração coragem. Éramos muito corajosos! Jogamos contra a França do Griezmann e do Lacazette e isso não nos intimidou! Contra a Argentina do Lamela e do Iturbe a mesma coisa! E contra o Brasil, a mesma coisa, cheio de estrelas: Danilos, Alexs Sandros, Philippes Coutinhos, etc. Não era pela qualidade, mas sim pela intensidade, pela garra que adicionávamos ao jogo e pela entreajuda no campo.

    Bola na Rede: Regressas do Mundial, permaneces no FC Paços de Ferreira durante duas épocas ainda e atinges a regularidade. A última ficou na retina, certamente. Tu e os teus colegas conquistaram o inédito terceiro lugar no campeonato e guiaram o clube até às pré-eliminatórias da UEFA Champions League. Posso apelidar-te de herói da Capital do Móvel?

    Caetano: Um dos, sim, um dos. Tínhamos uma equipa muito boa, éramos um grupo fantástico, ficar em terceiro lugar pelo FC Paços de Ferreira é algo inédito e único. Jogávamos muito à bola e tínhamos um fio de jogo muito bom! O mister Paulo Fonseca trouxe ideias novas, das quais eu nuca tinha ouvido falar até então. Mudei muito a minha maneira de abordar o jogo. Jogar a Liga dos Campeões era algo único para um miúdo, na altura com 21/22 anos. Era marcante!

    Bola na Rede: Era aí que pretendia aflorar. Como já disse, parece que tens o guião. Nunca vi tamanha perspicácia, confesso! Adiante! Vocês eram treinados pelo Paulo Fonseca, atual técnico da AS Roma. Tu previste essa evolução profissional? Ele foi assim tão revolucionário nos métodos e estratégias com que até aí te deparavas? Era muito exigente?

    Caetano: Não, ele não era muito exigente nem muito rígido. Simplesmente trouxe ideias distintas. Foi com ele que comecei a aprender a jogar entrelinhas e a aplicar movimentos interiores. Ele era fenomenal na ideia que tinha do jogo e para o jogo. Taticamente, muito bom. Tinha uma relação com os jogadores muito próxima, facto que o prejudicou no FC Porto. Ele viu-se obrigado a alterar essa maneira de ser, porque sei que, quando ele regressou novamente a Paços, colegas meu diziam que ele já não estava igual, não dava tanta confiança! Era um amigo, pode dizer-se! Nós próprios sentimos algo diferente. É a mesma coisa que sentires que um colega teu vai dar em jogador. Ali, toda a gente sabia que ia dar treinador. Verdadeiramente diferenciado!

    Bola na Rede: Vamos testar a tua perspicácia, então! Aposto que vais adivinhar qual o tema que se segue para ser lançado aos leões. Queres tentar?

    Caetano: Da minha saída do FC Paços de Ferreira para o Gil Vicente FC?

    Bola na Rede: Não, antes existe um momento de significado e valor mais elevado. A tua estreia na UEFA Champions League…

    Caetano: Ah, isso! Joguei em São Petersburgo, contra o Zenit. Como já te disse, é um sonho de menino jogar Liga dos Campeões. Até aí, jogava-se só na PlayStation. Jogar lá é indescritível! Estádio cheio (suspiro)…

    Bola na Rede: Tens algum filho?

    Caetano: Não! Ainda não!

    Bola na Rede: Então já pensaste que, quando tiveres, podes pegar nele a colo e dizer o que poucos podem afirmar? Do género, “filho, o pai jogou contra o Zenit na Champions League!”

    Caetano: (risos). É verdade (risos). Já posso dizer isso. Sabes, nessa altura, eu achava que não ia jogar na UEFA Champions League só uma vez, pensei que fosse nos anos que se avizinhavam também. Tinha muita confiança, era um miúdo que desequilibrava muito na altura e achava que ia jogar todos os anos, que ia sair para um clube grande e que as coisas iam acontecer. Depois, de modo natural, as coisas não acontecem e eu não fico nada pensativo sobre isso. Mas é giro fazer esse exercício! Orgulho-me da minha carreira e sei que podia ter tido uma muito melhor! Muitos não têm porque se estragam e porque são irresponsáveis! Eu sempre achei que fosse responsável, às vezes até demais, e aquilo que preparei – jogando futebol – para o meu pós-carreira oferece-me uma segurança muito grande!

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.