O Mundial do Latino

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    Nós, latinos, herdámos o sangue quente da nossa ascendência. Alegramo-nos e revoltamo-nos com facilidade. Deixamo-nos engolir pela irracionalidade, pela paixão. Somos, sobretudo, dados a estados de alma.

    O futebol propicia-os a cada remate que queima a relva antes de rasar o poste, a cada defesa impossível ou a cada corte milagroso sobre a linha de baliza. Não precisamos de ter sido educados a gostar de uma das equipas em jogo para vibrar com cada um destes momentos, porque até podemos escolher uma pela qual torcer no decurso do encontro. Acaba por ser indiferente porque  queremos, sobretudo, sentir, criar empatias. Viver a emoção e a responsabilidade de quem lá está dentro e entrar em euforia ou revolta consoante aquilo que a partida nos trouxer.

    Para nós, pessoas dadas a emoções, este Mundial tem sido absolutamente fantástico. Cada minuto de cada jogo parece trazer algo inesperado, imprevisível, como se o início de cada jogo oferecesse doses iguais de favoritismo para cada lado, independentemente das selecções em confronto.

    Pudemos sentir isso em vários jogos da fase de grupos, começando na goleada da Holanda à campeã Espanha (1-5), passando pelas vitórias da Costa Rica ante Uruguai e Itália e pelo nulo imposto por Ochoa ao Brasil, e terminando no empate da Argélia ante a Rússia. Houve, obviamente, mais momentos emocionantes neste período da prova, mas estes são excelentes exemplos do quão fantástico tem sido este Mundial para nós, pessoas dadas a estados de alma.

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    O Alemanha-Argélia foi um dos jogos mais emocionantes deste Mundial
    Fonte: copadomundo.uol.com.br

    Felizmente, a espectacularidade prolongou-se durante a fase a eliminar e, na primeira ronda, não faltou emoção a qualquer um dos oito encontros. O encontro mais previsível e condizente, no seu decurso, com aquilo que se previa que acontecesse terá sido o Colômbia – Uruguai, mas mesmo aí o espectáculo não desiludiu, com todas as diabruras que James e companhia proporcionaram ao público do novo Maracanã. Fora este, houve penalties em duas partidas (para além do Costa Rica – Grécia, o Brasil foi empurrado pelo Chile para essa “lotaria”, não se apurando por uma trave que ainda agora deve estar a tremer), grandes selecções (Holanda e França) com imensas dificuldades em levar de vencidos, nos 90 minutos, adversários cotados com poucas ou nenhumas chances de causar surpresa (México e Nigéria), e ainda três prolongamentos de encontros tanto imprevisíveis, como o Argentina-Suíça, como espectaculares, como foi o caso do Bélgica-EUA e do Alemanha-Argélia…

    … sobretudo este. Foi o emanar de todas as emoções que nós, latinos, sentimos ao ver um jogo de futebol. Houve espectacularidade, momentos de quase-glória, solidariedade, garra, sacrifício, desespero e frustração. Mas só de um lado. O único com o qual nós nos poderíamos identificar. O habitual outsider por quem costumamos torcer e que trouxe a jogo toda a ingenuidade do futebol, aquela que se nota no futebol de qualquer rua ou complexo desportivo alugado entre amigos, fosse por miúdos ou por gente grande, cuja única preocupação é jogar, entregando-se com toda a alma ao desporto que amam, não ligando ao preço que terão de pagar… ou venham a receber.

    A Argélia mostrou-nos o que é o futebol sem preço. Como nós, latinos, queremos que seja. Foi a “prenda” mais bonita que este Mundial, recheado delas, nos trouxe.

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