Revista do Mundial’2014 – Suíça

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    A Suíça chegou há poucos dias ao Brasil para participar pela 10ª vez num Campeonato do Mundo. Depois de carimbar o passaporte numa fase de qualificação tranquila (não sofreu nenhuma derrota e superiorizou-se a adversários como Islândia e Eslovénia), o sorteio ditou que ficassem no grupo E, juntamente com França, Equador e Honduras. Se a França é um adversário de peso, os outros dois são teoricamente inferiores aos helvéticos. Actualmente no 6º (!) lugar no ranking da FIFA, a Suíça tem a grande responsabilidade de chegar aos oitavos-de-final.

    Depois de duas idas aos quartos-de-final na década de 30 (1934 e 1938), quando os Mundiais ainda se disputavam apenas com eliminatórias, a Suíça teve uma digna prestação em 1950, no Brasil, embora não tenha ido além da fase de grupos. Em 1954 recebeu a competição, eliminou a Itália na primeira fase e perdeu para a Áustria num jogo que terminou 7-5 (não, não houve prolongamento!). Seguiram-se duas presenças discretas em 1962 e 1966 (sem fazer um único ponto em ambas as edições) e um interregno até 1994, onde foram esmagados pela Espanha nos oitavos-de-final. Em 2006 também chegaram aos oitavos (curiosamente, ficaram em 1º no grupo à frente de… França) e acabaram por ser eliminados nos penalties pela Ucrânia. De resto, em 2010 quedaram-se pela fase de grupos.

    Uma maior aposta na formação desde o início do século fez nascer grandes talentos, melhorou a Liga do país (o Basileia, agora orientado por Paulo Sousa, tem tido prestações muito interessantes na Europa) e conduziu a Suíça a grandes resultados internacionais em torneios jovens. A convocatória para este Mundial é a prova disso: Senderos, Barnetta e Ziegler foram campeões da Europa sub-17 em 2002, enquanto Seferovic, Xhaka e Rodriguez foram campeões do Mundo sub-17 em 2009 – duas gerações que se misturam e que têm tudo para dar sucesso.

    Desde que Ottmar Hitzfeld assumiu o leme, a Suíça foi eliminada do Mundial 2010 por Espanha e Chile na fase de grupos e não conseguiu apurar-se para o Euro 2012, ficando a léguas da Inglaterra na qualificação. Esta é, pois, a última oportunidade para o treinador alemão de deixar uma marca indelével na história do futebol suíço, uma vez que vai abandonar o cargo no final do torneio. Com um leque de jogadores entre os 21 e os 30 anos, quase todos eles nos melhores campeonatos da Europa – especialmente na Alemanha -, a Suíça tem todas as condições para chegar os oitavos-de-final. Shaqiri, Inler, Benaglio e companhia podem ser uma das grandes surpresas deste Mundial!

    OS CONVOCADOS

    Guarda-redes – Diego Benaglio (Wolfsburgo), Roman Bürki (Grasshopper) e Yann Sommer (Basileia).

    Defesas – Steve von Bergen (Young Boys), Johannes Djourou (Hamburgo), Michael Lang (Grasshopper), Stephan Lichsteiner (Juventus), Ricardo Rodriguez (Wolfsburgo), Fabian Schär (Basileia), Philippe Senderos (Valência) e Reto Ziegler (Sassuolo).

    Médios – Tranquillo Barnetta (Eintracht Frankfurt), Valon Behrami (Nápoles), Blerim Dzemaili (Nápoles), Gelson Fernandes (Friburgo), Gökhan Inler (Nápoles), Xherdan Shaqiri (Bayern Munique) e Valentin Stocker (Basileia).

    Avançados – Josip Drmic (Nuremberga), Mario Gavranovic (FC Zurique), Admir Mehmedi (Friburgo), Haris Seferovic (Real Sociedad) e Granit Xhaqa (Borussia Moenchengladbach).

    A ESTRELA

    Xherdan Shaqiri  Fonte: scaryfootball.com
    Xherdan Shaqiri
    Fonte: scaryfootball.com

    Nascido em Gjilan, no Kosovo, Xherdan Shaqiri emigrou para a Suíça com um ano de idade e foi em território helvético que despontou para o futebol. Hoje, somente com 22 anos, o extremo canhoto tem já um palmarés muito bem recheado e é quase unanimemente considerado a estrela da sua seleção (apesar do protagonismo do capitão Inler).

    Formado no Basileia, a potência hegemónica do futebol suíço no presente milénio, foi lá que deu nas vistas. A sua velocidade com e sem bola, o seu poder de choque (apesar dos 167 cm), a sua técnica prodigiosa e a inteligência demonstrada dentro das quatro linhas levaram o Bayern de Munique a despender cerca de 12 milhões de euros na sua contratação há dois anos atrás.

    A nível de clubes, nunca perdeu um campeonato nacional enquanto sénior (foi tri-campeão suíço e bi-campeão alemão), venceu as Taças de ambos os países onde jogou e já foi campeão europeu e mundial pelos bávaros.

    No que diz respeito à selecção nacional, após um bem-sucedido percurso nas camadas jovens fez a sua estreia pelos AA da Suíça em Março de 2010, num amigável diante do Uruguai. Participou no Mundial 2010 com apenas 18 anos, cumprindo alguns minutos no jogo diante das Honduras, e a partir daí tornou-se um habitual titular. Já leva 33 jogos e 9 golos com a camisola do seu país.

    Se já era muito rápido e imprevisível em todas as suas acções, tecnicamente evoluído e fisicamente poderoso quando saiu do Basileia, no Bayern adquiriu experiência e maturidade táctica. Neste momento, é o jogador mais perigoso e desequilibrador da sua selecção e a grande esperança dos seus adeptos.

    O TREINADOR

    Ottmar Hitzfeld  Fonte: sdgpr.com
    Ottmar Hitzfeld
    Fonte: sdgpr.com

    Ottmar Hitzfeld dispensa apresentações. Com 65 anos e uma carreira repleta de títulos, é um dos mais conceituados treinadores do mundo. Todavia, no comando técnico da selecção suíça continua a faltar-lhe um grande resultado.

    A maior parte do seu percurso enquanto jogador foi feita no futebol suíço (representou Basileia, FC Lugano e Lucerna, com um intervalo de três anos no Estugarda) e foi lá que iniciou também o seu trajecto enquanto técnico. Depois de Zug 94 e FC Aarau, foi duas vezes campeão da Suíça com o Grasshoppers. Foi assim que se lhe abriram as portas do Westfalenstadion: no Borussia Dortmund, onde cumpriu seis temporadas, venceu duas Ligas Alemãs e alcançou o único título de campeão europeu da história do clube em 1996/97. Depois dessa época de sonho, seguiu para o Bayern, onde voltou a erguer uma Champions e conquistou uma Intercontinental, somando ainda mais cinco Bundesligas ao seu currículo. Em 2005 foi eleito o melhor treinador de sempre da história do Bayern pelos adeptos, depois de já ter sido considerado o treinador do ano pela UEFA e pela IFFHS. Ao todo, são 18 títulos ao longo de 30 anos de carreira.

    Ao cabo de sete anos na Baviera aceitou o desafio da Federação Suíça e sucedeu a Köbi Kuhn como seleccionador depois do Euro 2008. Este Mundial representa a última etapa de Hitzfeld nesta carreira de seleccionador suíço, uma vez que Vladimir Petkovic, actual treinador da Lazio, já foi anunciado como sucessor do germânico. Um bom resultado trar-lhe-á a glória que merece; uma má prestação resultará numa grande desilusão, uma vez que não conseguir passar da fase de grupos em três grandes competições será manifestamente insuficiente.

    O ESQUEMA TÁTICO

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    A Suíça costuma apresentar-se em 4-5-1, assente num meio-campo muito sólido e coeso. Na baliza, Benaglio tem o lugar garantido (Sommer é a segunda opção). Na defesa, as grandes dúvidas residem no centro da defesa – Von Bergen e Senderos (vindo de lesão prolongada) projectam-se como os possíveis titulares, mas Djourou ou Schär também podem aparecer no onze inicial, já que tanto um como outro têm jogado com regularidade. Nas laterais, o veterano Lichtsteiner e o jovem Rodriguez assumirão com certeza a titularidade. No meio-campo, Behrami e Inler compõem um duplo pivot muito trabalhador e bem rotinado (ambos actuam no Nápoles) que equilibra a equipa. O também “napolitano” Dzemaili é a mais frequente alternativa a este duo; o ex-Sporting Gelson Fernandes é a outra hipótese. Dois alas e um médio mais ofensivo aparecem entre estes dois e o ponta-de-lança: Shaqiri e Stocker devem ocupar as faixas e deixar para o jovem Xhaka o espaço central. Embora não seja muito utilizado, o experiente Barnetta também pode ser o “número 10”. Em alguns casos, Hitzfeld opta por um segundo avançado, normalmente Admir Mehmedi, quando precisa de uma solução mais ofensiva (foi o que sucedeu no último amigável, frente ao Peru). Quando ao homem mais adiantado, tem havido alguma indefinição desde o abandono do melhor marcador de sempre da selecção, o histório Sebastian Frei: Derdiyok começou por ser a opção durante o início da qualificação (mas nem sequer foi convocado), cedendo depois o lugar a Seferovic (que nem é titular na Real Sociedad). Porém, face à grande época que fez e ao momento que atravessa (marcou os três golos da Suíça nos dois primeiros jogos de preparação, frente a Croácia, 2-2, e Jamaica, 1-0), deverá ser o jovem Josip Drmic a primeira opção. Provavelmente, Gavranović, o outro ponta-de-lança, terá pouco tempo de jogo.

    O PONTO FORTE

    Um meio-campo muito batalhador e forte em todos momentos e em todas as vertentes do jogo. Inler e Behrami – assim como Dzemaili e Xhaka – são jogadores muito completos – fortíssimos fisicamente, inteligentes do ponto de vista táctico, bastante fiáveis com a bola no pé, experientes e habituados a jogar juntos. Um “tampão” com estas características oferece qualidade nos momentos de transição e segurança defensiva à equipa (a Suíça não perdeu na fase de qualificação, só sofreu 6 golos e deve-o mais à qualidade do seu meio-campo do que da sua defesa).

    O PONTO FRACO

    De facto, o eixo central da defesa pode ser encarado como a principal debilidade da equipa. Os laterais, Lichtsteiner e Rodríguez, e o guarda-redes, Benaglio, dão garantias, mas não há nenhum central de grande nível na Suíça. Além disso, não têm uma dupla bem oleada, ao contrário de várias outras selecções, dado que os quatro centrais – Steve von Bergen, Djourou, Schär e Senderos – têm formado várias composições diferentes nos últimos tempos. A falta de estabilidade e coordenação neste sector pode ser fatal.

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    Francisco Manuel Reis
    Francisco Manuel Reishttp://www.bolanarede.pt
    Apaixonado pela escrita, o Francisco é um verdadeiro viciado em desporto. O seu passatempo favorito é ver e discutir futebol e adora vestir a pele de treinador de bancada.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.