Uma sexta-feira de «Last Dances» no calor do Catar

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Croácia-Brasil e Países Baixos-Argentina abrem os quartos de final do Campeonato do Mundo 2022.

A expressão “Last Dance” ficou imortalizada depois da série que retratava a última época de Michael Jordan nos Chicago Bulls – fazendo ao mesmo tempo uma retrospetiva sobre a carreira de um dos maiores basquetebolistas de sempre e já agora de uma das melhores equipas desportivas da história. A “última dança”, o “último grande momento”, o que lhe quiserem chamar, podem daqui para a frente ser expressões aplicadas aos derradeiros momentos das grandes estrelas nas mais diferentes modalidades e o futebol não será exceção, como prova o presente Campeonato do Mundo.

Esta sexta-feira começam os quartos de final da maior competição de seleções do planeta e com dois jogos apaixonantes, que podem ditar o desfecho da carreira nas equipas nacionais de alguns dos maiores jogadores das últimas décadas. No Estádio Education City, Dejan Lovren, Ivan Perišić e sobretudo Luka Modrić podem vestir a camisola aos quadrados brancos e vermelhos da Croácia pela última vez num Mundial, no duelo com uma seleção canarinha na qual Thiago Silva (líder e figura de culto, aos 38 anos) pode também efetuar a despedida dos grandes palcos com a “camisa” do Escrete.

Mais para lá do lado sentimental do duelo em disputa e do peso do acesso a umas meias-finais de um Mundial, espera-se um grande duelo tático entre croatas e brasileiros. O 4-3-3 de Zlatko Dalić não tem feito um Mundial tão encantador quanto o último (no qual a Croácia chegou até à final), mas a competitividade dos balcânicos é inegável. Pela frente, vai ter um Brasil hiper-enérgico no momento ofensivo e que parece ter encontrado no enquadramento atual – com uma espécie de quinteto ofensivo, formado por Paquetá, Neymar, Raphinha, Vinícius Júnior e Richarlison – a fórmula certa para deixar de rastos toda e qualquer linha defensiva adversária.

O primeiro tempo avassalador dos “canarinhos” no duelo com a Coreia do Sul de Paulo Bento pode servir de alerta para uma equipa croata que não arrisca em demasia na pressão e que sofreu apenas dois golos até aqui nesta competição – o mesmo número de tentos consentidos pela formação de Tite. Nos “oitavos”, o Brasil marcou quatro golos na primeira parte, construindo com grande arrojo a partir dos dois flancos para depois finalizar devidamente no corredor central. Raphinha mostrou um papel relevante a partir da direita, com capacidade de finta, passe e cruzamento, Vinícius Júnior foi uma seta lançada de fora para dentro desde a esquerda e gerou ótimos envolvimentos com Neymar. Richarlison está cada vez mais refinado a definir (e a arrastar) na área e não podemos esquecer o papel muito relevante de Lucas Paquetá, inserindo-se na segunda linha e até abrindo mais a posição pela direita em determinados momentos (com Militão mais contido nos avanços).

O “país irmão” não se evidencia apenas na fase ofensiva e a estrutura defensiva, com uma ou outra dificuldade em determinados contextos, tem estado num plano superior. Alisson é guarda-redes de equipa grande – quando é chamado a corresponder, mostra eficácia tremenda entre os postes e segurança nas saídas. Thiago Silva e Marquinhos podem ter Militão junto a eles na construção (os outros laterais também podem aparecer mais por dentro), mas destacam-se como duo dinâmico a trabalhar o passe a partir da defesa – e já agora, mais na frente também, como provaram no 3-0 frente à Coreia do Sul.

Zlatko Dalić destacou as qualidades dos brasileiros para rentabilizarem um ataque mais acelerado e certamente que o selecionador croata está consciente da equipa que vai ter pela frente. Para que o objetivo dos vice-campeões do mundo possa ser atingido, há que manter a competitividade exibida nos quatro primeiros jogos na competição. A Croácia não é uma equipa ousada na forma como procura condicionar a saída de bola rival, até porque o trio de médios é complementar, mas não tem disponibilidade física para andar a correr atrás da bola (e do adversário).

Sem bola, os alas fazem um trabalho importante de acompanhamento aos laterais e há uma intenção de juntar linhas, de forma a que a equipa não fique desprotegida perante a criatividade dos contrários. Na defesa da área e mesmo em antecipação, Gvardiol tem sido um gigante e há também argumentos para que os elementos da linha recuada possam participar no momento atacante – Gvardiol novamente em evidência e os laterais, capazes de se projetarem nos flancos para acrescentar largura e profundidade (aí, destaque particular para o canhoto Borna Sosa).

Em organização ofensiva, Luka Modrić continua a ser o guia espiritual do melhor futebol dos croatas, com argumentos para variar o centro do jogo, para dar as melhores soluções em sequência no passe e até descaindo para efetuar cruzamentos. A Croácia tem no médio do Real Madrid o líder e os restantes seguem a cátedra de um futebol seguro, com boa ocupação de espaços e busca por rodar o jogo de um lado ao outro com critério. Na partida com o Japão, Bruno Petković foi titular para uma solução a pedir cruzamentos, que acabou por resultar no empate, mas não por intermédio do ponta de lança do Dinamo Zagreb (que vai dividindo protagonismo com Livaja, num esquema em que Kramarić cai mais na meia-direita) – foi Ivan Perišić a finalizar de cabeça, mostrando que é um jogador recheado de recursos, tanto na finalização como no passe e também na multifuncionalidade tática.

Outra individualidade que foi determinante para a chegada a estes quartos de final, foi o guardião “diplomata” Dominik Livaković (chegou a iniciar o curso académico para seguir uma carreira distinta), que defendeu três penáltis no desempate da marca dos 11 metros face ao Japão. Aos 27 anos, continua a surpreender o porquê de continuar a jogar em casa (Dinamo Zagreb), quando já demonstrou várias vezes valor para estar noutros patamares.

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Francisco Sousa
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Licenciado em jornalismo, o Francisco esteve no Maisfutebol entre 2014 e 2017, ano em que passou para a A BOLA TV. Atualmente, é um dos comentadores da Eleven.

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