Copa América’2015 – Chile 1-0 Uruguai: Isla foi herói improvável

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    Chile contra Uruguai. A equipa da casa contra o detentor do troféu. A sensação da prova, detentora de uma média superior a três golos por jogo, e uma das grandes desilusões, terceira classificada do seu grupo. O resultado foi escasso mas acabou por ser justo para um Chile que está cada vez mais perto de fazer história e de compensar todo o apoio que recebe a cada minuto de jogo. Trinta e dois anos depois o Chile volta a vencer o Uruguai na Copa América.

    Começou o “mata-mata” e o Uruguai foi a primeira vítima, caindo aos pés de um país inteiro. O apoio dos 47 mil espetadores foi constante e a forma ensurdecedora como o hino chileno foi entoado no início do encontro deixava antever uma guerra entre um pequeno David “celeste” e um Golias bem “rojo”, com a história a ser escrita de maneira diferente num encontro quente, intenso e polémico… ou não fosse isto a Copa América!

    Ninguém sabia o que esperar deste encontro. Se por um lado já se podia esperar a vitória da equipa da casa, a verdade é que as surpresas não são estranhas nos jogos a eliminar. Na fase de grupos, a formação orientada por Óscar Tabárez disputou três encontros bastante desapontantes mas conseguiu apurar-se para os quartos-de-final como uma das melhores terceiras. Já a “La Roja” fez as delícias de milhões de apreciadores de futebol por todo o mundo ao marcar golos atrás de golos enquanto demonstrava uma grande superioridade perante todos os adversários que enfrentava. Mas a experiência, o estatuto d”A Celeste” na competição ou até mesmo o histórico de confrontos na Copa América poderiam ter falado bem mais alto. Mas Sampaoli construiu uma equipa irreverente e, apesar de o Uruguai não ter sido um adversário temível, foi mesmo a equipa da casa que seguiu em frente rumo às meias-finais.

    Triunfo sobre o Uruguai. O Chile é uma equipa feliz Fonte: Facebook Selección Chilena
    Triunfo sobre o Uruguai. O Chile é uma equipa feliz
    Fonte: Facebook Selección Chilena

    Após o apito inicial, os campeões em título foram deixando bons apontamentos ao começarem a partida em zonas adiantadas do terreno, à procura de surpreender os anfitriões. Sem grande espaço de manobra, o Chile revelou dificuldades em conseguir pôr em prática o seu estilo de jogo, que conjuga uma rápida troca de bola com uma enorme mobilidade tática e vários apoios ao portador da bola. Sem conseguir construir a partir de trás, os anfitriões foram obrigados a jogar mal. Exigia-se mais e melhor à “La Roja” e, depois de cinco minutos reduzidos ao seu meio-campo, o Chile encontrou finalmente o lance que abriu as portas ao domínio da partida. Depois de uma boa troca de bola no meio campo, a bola cai no lado direito do ataque chileno, onde surge Isla a cruzar para a área, e Vargas, de primeira, num remate de difícil execução, acaba por atirar por cima. Estava dado o “clique”.

    Após esta primeira jogada de algum perigo, a seleção chilena cresceu no jogo e conseguiu, finalmente, demonstrar em campo todos os argumentos que a levaram até aos quartos-de-final. A rapidez com que a bola ia passando por toda a equipa “roja” era notável, e a forma como todos os jogadores se movimentavam deixava zonza a defensiva uruguaia, que tudo fazia para manter a bola longe da sua grande-área.

    Baixando as linhas, tentando acalmar o ímpeto chileno, a seleção “celeste” procurava lançar rápidos contra-ataques e aproveitar as segundas bolas. E foi assim que, aos 20 minutos, Carlos Sanchez criou algum perigo para a baliza de Claudio Bravo com um belo remate de longe, fora de área. Mas bastou o lado direito do ataque chileno, que tantos estragos tem causado nesta Copa América, para pôr em sentido toda a equipa do Uruguai. Com Álvaro Pereira castigado, por acumulação de amarelos, foi Jorge Fucile que assumiu o lado esquerdo da defesa uruguaia. A falta de ritmo de Fucile (nos últimos dois anos tem um total de 10 jogos disputados) foi notória e bastante penalizadora para os “visitantes”. Estava descoberta a melhor forma de chegar à área uruguaia e, a partir dos 25 minutos de jogo, foi o Chile que tomou conta do jogo.

    A dureza, a impetuosidade e a vontade de jogar sempre “no limite” eram mais do que evidentes com várias faltas e algumas quezílias durante a partida. À meia hora de jogo, e após a marcação de um pontapé de canto, a seleção “roja” sufocou a defensiva uruguaia com a bola a rondar a área de Muslera por cinco vezes seguidas. Mas o golo tardava em aparecer. E quando é difícil entrar com a bola controlada na área adversária, arrisca-se de longe. Foi o que Vidal fez, aos 36 minutos, com um remate surpreendente que, apesar de ter ido à figura, chegou para assustar as hostes “celestes”. Mas, apesar do domínio chileno, o marcador mantinha-se inalterado ao intervalo.

    À espera da reentrada do Uruguai para a segunda parte, a imagem da equipa chilena reunida numa roda acaba por marcar este jogo. As câmaras televisivas iam captando as expressões determinadas e o apoio que diversos protagonistas como Valdivia ou Alexis iam transmitindo aos restantes colegas.

    O recomeço trouxe mais do mesmo e houve momentos em que o Uruguai conseguiu colocar dez jogadores dentro da área para tentar travar o massacre chileno. Impaciente, a equipa anfitriã não conseguia traduzir em golos a sua superioridade e, quando ninguém esperava e apesar de a partida já estar interrompida, aos 50 minutos, Cavani remata com muita força a 25 metros da baliza e leva a bola a passar muito perto do travessão.

    As bolas paradas eram cruciais para a equipa de Óscar Tabárez. Aos 53 minutos, bola cruzada para a área do Chile, grande confusão e Rolan, em cima da pequena-área, tenta o desvio com a bola a sair à figura de Bravo.

    Até que, aos 63 minutos, Cavani deitou tudo a perder ao ser expulso após uma agressão sobre Jara. O avançado uruguaio (que terminou a prova sem somar qualquer golo) deu um toque na face do defesa-central chileno que aproveitou para fazer o seu papel e “arrancar” o amarelo do bolso do árbitro da partida. Dois amarelos desnecessários que fizeram Cavani ir tomar banho mais cedo e acabaram por tornar hercúlea a tarefa uruguaia. Se já era difícil com onze jogadores, com dez o jogo parecia estar entregue. A única solução uruguaia parecia passar por aguentar até ao final do tempo regulamentar e enfrentar a sorte das grandes penalidades.

    Mas Sampaoli não estava disposto a correr esse risco e fez entrar os ex-sportinguistas Maurício Pinilla e Matías Fernández. Uma referência para a área e criatividade para o meio campo. O Uruguai acabou por baixar todas as suas linhas à espera de que a inspiração de algum dos seus jogadores pudesse causar alguma surpresa. E foi mesmo através do inconformado Cristian Rodríguez que a “celeste” esteve mais perto do golo. Aos 77 minutos, o ex-portista aproveitou um mau corte da defensiva chilena para recuperar a posse de bola, colocando prontamente em Sanchez, que, ainda fora da área, rematou com grande perigo à baliza de Claudio Bravo. Um minuto depois, foi o próprio Cristian Rodríguez que surgiu sem marcação à entrada da área, mas o remate acabou por sair torto, por cima da baliza chilena.

    E finalmente, aos 81 minutos da partida, surgiu o golo do Chile. Um golo de raiva, merecido e que acabou por colocar a seleção de Sampaoli nas meias-finais. Depois de um cruzamento, Muslera soca a bola para a entrada da área, Valdivia recupera, dá para o lado para Isla e o lateral direito mete-a pelo “buraco da agulha”. Depois de várias insistências, o herói improvável acabou por ser o lateral-direito Isla, que surgiu no centro do terreno para finalizar com sucesso.

    Momento do golo de Isla Fonte: Facebook Selección Chilena
    Momento do golo de Isla
    Fonte: Facebook Selección Chilena

    Já perto do final do jogo, o sangue quente dos uruguaios voltou a efervescer e quase estragou a festa chilena. Uma entrada bastante ríspida de Fucile, mesmo à frente do banco chileno, acabou por ditar o segundo amarelo para o lateral uruguaio. Com vários empurrões de parte a parte, o foco uruguaio acabou por cair sobre o fiscal de linha, que de repente se viu rodeado por vários jogadores, com Gimenez a destacar-se dos demais. Findos os ânimos, e já com em tempo de compensação, Vidal surge isolado à entrada da área no último lance da partida, com Muslera a protagonizar uma extraordinária defesa.

    O Chile segue rumo às meias-finais e espera agora pelo resultado do confronto entre Bolívia e Peru. A jogar assim, tudo aponta para que os anfitriões cheguem à final e possam mesmo sonhar com o primeiro título internacional.

    A Figura:

    Jorge Valdivia – Apesar de o triunfo ter saído dos pés de Isla, Valdivia foi peça fundamental no ataque chileno. O veterano médio atacante deu asas ao Chile e esteve em grande parte das jogadas de maior perigo criadas pela sua seleção. Passes a rasgar, magia nos pés que até deixou Fucile pregado ao chão, tudo serviu para Valdivia se destacar na partida. No momento do golo, é ele que domina a bola e percebe que Isla está em melhor posição para rematar. Houve rapidez de pensamento, de execução e… o Chile está nas meias-finais.

    O Fora-de-jogo:

    Edinson Cavani, Jorge Fucile e… o Uruguai – É difícil encontrar um vilão nesta partida. Edinson Cavani deitou por terra todas as aspirações uruguaias de renovar o título ao ser expulso infantilmente a meia hora do final da partida. Já no lado esquerdo da defensiva uruguaia, Jorge Fucile foi quase sempre um jogador a menos. Poder-se-á desculpá-lo pela falta de ritmo, mas a verdade é que o antigo jogador do FC Porto nunca soube admitir que já não tem a fugacidade de outros tempos e acabou por ser ultrapassado várias vezes. Mas o maior vilão talvez seja mesmo a equipa do Uruguai, que, sem a sua estrela Luis Suárez, acabou por desiludir durante todo o torneio. Incapaz de se evidenciar, a seleção “celeste” está mesmo longe do fulgor de outros tempos…

    Foto de Capa: Facebook Selección Chilena

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    Nuno Ribeiro Margarido
    Nuno Ribeiro Margaridohttp://www.bolanarede.pt
    O Nuno sabe que o futebol se assume muitas vezes como a perfeita metáfora da vida. Entre muitas frases do mundo do futebol que o marcam há uma que guarda e que o inspira em tudo o que faz: "Ganhar, ganhar, ganhar... e voltar a ganhar, ganhar e ganhar... é isto o futebol".                                                                                                                                                 O Nuno não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.