Eu conheci Ceni quando ainda era menino. Conheci Ceni quando estranhava que um guarda-redes pudesse avançar para lá da linha de meio-campo. E estranhava ainda mais que pudesse fazer golos. E golos bonitos. E em maior quantidade do que muitos jogadores da frente. E estranhava as narrações de TV, que, excitadas, clamavam: “mais um grande golo de Ceni!”. E nunca entendi aquela lealdade que quase roça a fidelidade de um cachorro. A classe que demonstrava em campo. A bondade e solidariedade para os companheiros – mesmo que fossem de outra equipa. Ceni foi o rival que os adversários odiaram amar.
Mas eu só conheci verdadeiramente Ceni quando perguntei a um amigo meu que é adepto fanático do tricolor Paulista qual era a figura maior do São Paulo. A estrela que brilha mais intensamente que as outras. Sim, porque todos os grandes clubes têm a sua estrela, por mais que outras por lá tenham passado. O Benfica tem Eusébio, o Real tem Di Stéfano, o Santos tem Pelé, o Botafogo tem Garrincha, o Flamengo tem Zico. Enfim. Ele respondeu: “Para mim? Só há um. Rogério Ceni!”. Nunca tinha pensado nisso. Foi aí que me apercebi da importância de Rogério para os São Paulinos.
Enfim, eu poderia falar dos recordes pessoais de Ceni, como o de ser o décimo melhor marcador da história de um clube como o São Paulo – com 129 tentos marcados – ou o facto de ser o jogador do mundo com mais jogos realizados por um só clube – 1117 jogos – e o maior capitão da história do futebol mundial – mais de 850 jogos.
São muitos anos de fidelidade a um clube, que lhe permitiu vencer, entre outros títulos, três Campeonatos Brasileiros de Futebol (de forma seguida), em 2006, 2007 e 2008, duas Libertadores da América, duas Intercontinentais, e ainda três Estaduais. Ganhou tudo o que havia para conquistar. Só não venceu o avançar do tempo. Mas esse ninguém consegue vencer.
Foto de Capa: Facebook Oficial de Rogério Ceni