“… tua estrela solitária te conduz!”.
Assim começa o hino do Botafogo de Futebol e Regatas. E comecemos também pela última palavra antes de ter colocado aquele ponto final.
O Clube foi fundado no 1.º de julho de 1894 – faz precisamente 130 anos – como um Clube de regatas. De resto, foram na sua maioria também os seus congéneres como os grandes rivais do Flamengo e do Vasco da Gama (que também ostentam Regatas nos nomes). Desportos de elite, para pessoas dessa estirpe. A junção com o futebol veio 10 anos mais tarde, em Agosto de 1904. Curiosamente como o Benfica em Portugal, o alvinegro carioca cedo se popularizou e ganhou o epíteto de “Glorioso”, pois os títulos começaram a vir cedo, logo em 1907 – embora o próprio hino só comece a referir as vitórias desde 1910: “Botafogo, Botafogo, campeão desde 1910!”.
Podemos dizer que 2024 foi o ano do “Fogão”. Ao título inédito na Libertadores juntou agora o de campeão nacional, sendo um feito raro. Nem a grande equipa comandada pelo “anjo das pernas tortas”, Garrincha, conseguiu semelhante intento. O máximo que essa grande equipa dos anos 60 atingiu na prova continental foi umas semifinais e a nível nacional venceu um título em 1968 [1]. É verdade que o Botafogo possui poucos títulos em relação à grandeza que tem. É um facto. O Clube do charmoso Bairro Carioca da zona Sul, com sede em General Severiano, é, ainda e aos dias de hoje, o emblema que mais jogadores cedeu à seleção brasileira de futebol e, consequentemente, o Clube do Brasil com mais campeões do mundo. Portanto, é deveras estranho que não consubstancie isso com títulos. Talvez por isso a sua torcida seja um pouco neurótica e supersticiosa.
Mas, voltando ao tema: 2024, precisamente nos 130 anos do Clube e nos 120 com futebol, foi, de facto, o ano glorioso e do Glorioso. A estrela solitária mais pareceu um meteoro em alta rotação e conseguiu, finalmente, materializar o seu grande futebol com títulos de expressão e com o auxílio precioso de mais um técnico português – Artur Jorge – que já entrou com o campeonato em andamento, embora ainda numa fase inicial.
No entanto, o mérito do técnico é de sobremaneira elevado e patenteia a ideia de que o Brasil precisa urgentemente de renovar, para melhor, os seus treinadores e agente que gravita em torno do futebol – pais, jovens atletas, mas também jornalistas e gente com responsabilidade. Para além de um especialista competente, o time que tem como mascote um simpático cachorro contou também com um plantel de enorme qualidade, de onde se destacam Marçal, Tiquinho Soares, Alex Telles e Danilo Barbosa – bem conhecidos do nosso futebol – mas também Savarino, Luiz Henrique e Júnior Santos, entre outros, sem esquecer o enorme guarda-redes que é John e da grande temporada do angolano Bastos, um defesa, que promete dar cartas. O Botafogo foi – e a final da Libertadores também provou isso – efetivamente “…herói em cada jogo!”.
Não sei se o caro leitor sabia deste facto, mas o “Fogão” é um dos poucos Clubes do Mundo que já foi campeão de terra, ar e mar reconhecido pelo comité olímpico e único no futebol cujo emblema em que o mesmo tem apenas o símbolo, ou seja, uma estrela solitária, sem iniciais, que digam B.F.R., ou outra coisa do género.
O Botafogo era o Clube do meu avozinho. O meu avozinho Tércio, Goiano de nascimento, carioca de adoção, foi o ser humano mais maravilhoso que eu já conheci. Tenho pena de que ele já não esteja neste mundo para estar connosco e ver o seu Botafogo campeão. Porém, seguramente, ele é a estrela solitária, que, no céu, vibra com as vitórias do seu alvinegro carioca e provavelmente toca um violão, enquanto nessa mesma galáxia tão distante ao nosso olhar, mas tão presente nos nossos corações, Mané Garrincha se recria com uma bola.
[1] Título homologado pela CBF relativo ao Torneio Taça Brasil, jogado entre os anos de 1964-68