Final da Liga dos Campeões. Sábado, 1 de junho de 2024, 20h00
A ANTEVISÃO: TODOS A QUEREM, MAS SÓ UM A CONQUISTARÁ
Era uma vez um rapaz que vivia com os pais numa pequena aldeia do interior de Itália. Os pais viviam do trabalho no campo e da produção de queijo. Mas o pequeno Carlo tinha um sonho diferente… Um sonho que começava com uma bola a rolar. Alguns anos depois, noutro ponto do globo, um adepto torcia nas bancadas amarelas de um estádio alemão, sonhando poder vir a ser um dia treinador do seu clube do coração, o Borussia Dortmund.
O meu lado mais apaixonado por futebol pode ter romantizado um pouco a história dos dois treinadores finalistas da Liga dos Campeões, mas gosto de pensar no futebol como concretizador de sonhos menos prováveis, um lugar onde a improbabilidade tem lugar cativo. A final agendada para o dia de hoje em Wembley dá-nos um pouco isso.
Ancelotti conquistou o troféu por quatro vezes enquanto treinador, duas com o AC Milan, duas com o Real Madrid. Edin Terzić inexperiente nestas andanças, chega em contra corrente e personaliza o sonho de tantos miúdos. A última vez que esteve numa final em Londres foi na bancada como adepto para apoiar o Dortmund. O desafio é enorme, porém atingível. A equipa alemã que nas provas nacionais ficou aquém do desejável enfrenta um invicto gigante europeu.
Ora, do lado espanhol, tem sido uma prova verdadeiramente fantástica: depois de um primeiro lugar indiscutível na fase de grupos, com seis vitórias em outros tantos jogos, num grupo onde estavam o Braga, o Nápoles, e o Union de Berlim, a turma “merengue” teve de ultrapassar os alemães do RB Leipzig nos oitavos de final; os ingleses do Manchester City (campeão em título) nos “quartos”, e que o fez através da marcação de grandes penalidades; e, agora, os alemães do Bayern de Munique. Essa eliminação consistiu numa “remontada” histórica efetuada no Santiago Bernabéu (como já tem sido hábito), com Joselu, que saltara do banco, a bisar em apenas três minutos.
Aliás, o Real Madrid não perde na prova há 12 jogos. Para vermos a última derrota do coletivo espanhol temos de recuar até setembro, quando nas provas nacionais perdeu o dérbi de Madrid. Mesmo comandando o clube que domina quase todas as estatísticas da prova, Ancelotti consegue mais um feito inédito: esta é a primeira vez que o Real Madrid chega à final da Liga dos Campeões sem qualquer derrota na competição! Como é que se pára esta potência europeia?
Também os alemães têm sido irrepreensíveis na prova milionária: Conquistaram o primeiro lugar no chamado “grupo da morte”, onde se incluíam clubes como o PSG, o AC Milan e o Newcastle. Depois, os comandados de Edin Terzić, eliminaram nos oitavos de final o PSV, já campeão neerlandês; os espanhóis do Atlético de Madrid nos “quartos”, numa reviravolta fantástica operada na segunda mão; e, mais recentemente, os franceses do PSG, nas meias-finais, mas vamos a curiosidades.
Corria o ano de 2017 quando estas equipas se defrontavam pela última vez. Os jogos, foram realizados a contar para a fase de grupos da liga milionária. Nesse grupo, o H, estavam também o Apoel e o Tottenham. O Real Madrid, na altura liderado por Zinédine Zidane, acabou por vencer esses dois encontros, e, mais tarde, o título de campeão. Aliás, importa também referir que teríamos de viajar até ao ano de 2014, para encontrar a última vitória do Borussia de Dortmund, sobre o Real Madrid. Os alemães venceriam por 2-0, com dois golos de Marco Reus.
Recordar também que esta será uma final inédita, visto que, apesar de estas equipas já se terem encontrado por 14 ocasiões na prova milionária, nenhuma delas originou uma disputa direta do título. No que a finais europeias diz respeito, o Real Madrid parte claramente em vantagem, tendo inclusive vencido 5 ligas dos campões nos últimos 10 anos, um registo claramente impressionante, e muito difícil de igualar. Ao todo, são 14 as orelhudas conquistadas pelo Real, contra apenas uma do lado de Dortmund.
Além da emoção própria de uma final, há que preparar o coração para despedidas difíceis. Este será o último jogo de Kroos com a camisola do Real Madrid. O senhor leitura de jogo, o senhor passe perfeito, o tratador exímio da bola, já anunciou que se retirará no final desta época. Que melhor oportunidade teríamos para nos despedirmos dos passes mágicos e teleguiados do alemão? Para jogos de topo, despedidas de topo.
As despedidas não acontecem só do lado de Madrid. A última vez que o Dortmund foi à final da Champions em 2013, frente ao Bayern, precisamente em Wembley, acabaram derrotados por 2-1. No onze inicial já estavam Reus e Hummels. Onze anos depois, esta será a última vez que Reus jogará com a camisola do Dortmund. Foram dozes temporadas e mais de 400 jogos pelo clube, uma história de amor que também merece um digno adeus. Veremos quem terá direito à despedida mais emotiva.
Esta edição da Liga dos Campeões ofereceu-nos 124 jogos, mais de 11 mil minutos de futebol ao mais alto nível com 373 golos. Agora chegou o momento de fazer história e abrir caminho a tantos outros sonhos. Para mim – e acredito que para muitos amantes do futebol – a final da Liga dos Campeões não é só um jogo, é a personalização da felicidade num relvado. Por isso, Dortmund e Real Madrid, façam-nos sonhar!
10 DADOS RÁPIDOS
- O Borussia Dortmund marcou em todos os últimos dez jogos da competição.
- O Real Madrid também marcou em todos os últimos dez jogos da competição.
- O Borussia Dortmund empatou apenas uma vez nos últimos 17 encontros.
- Os alemães saíram derrotados em cinco dos últimos 27 jogos.
- O Borussia Dortmund não venceu 3 dos últimos 7 jogos que disputou.
- O Real Madrid não perde há 25 jogos, ou seja, há 132 dias.
- Por outro lado, os “merengues” não vencem há dois jogos, a sua pior série na presente temporada.
- Esta será apenas a terceira presença do Borussia Dortmund numa final da Liga dos Campeões – venceu na primeira vez e perdeu na segunda.
- Real Madrid marcou mais de dois golos em sete das últimas oito finais que disputou.
- Até hoje, o Borussia Dortmund e o Real Madrid defrontaram-se 14 vezes, sendo que “Los Blancos” venceram seis partidas e “Os Prussos” acumularam três vitórias, restando apenas cinco empates.
JOGADORES A TER EM CONTA
Marco Reus – Após 12 temporadas e mais de 400 jogos com a famosa camisa amarela e preta, Marco Reus, do Borussia Dortmund, vai-se despedir do clube germânico no maior palco de todos. Parece o destino a falar, ao colocar Reus a disputar pela última vez a final da UEFA Champions League ao serviço do clube.
Por isso mesmo, nada mais romântico seria do que ver o criativo, até porque qualidade não lhe falta, decidir uma final da maior prova de clubes do Mundo pelo clube do seu coração, tendo, como se sabe, rejeitado, ao longo dos anos, clubes como o próprio Real Madrid, entre vários outros tubarões do futebol europeu.
Vinícius Júnior – O jovem extremo brasileiro já é um dos melhores jogadores do Mundo e, por isso mesmo, um dos grandes candidatos à Bola de Ouro. Em 38 jogos, já leva 23 golos (cinco deles na Champions) e nove assistências, o que resultou muito da junção entre a sua irreverência e a sua velocidade e verticalidade.
Este próximo jogo vai ser uma verdadeira marca na carreira de Vinícius Jr. Vencer uma Liga dos Campeões com o Real Madrid não é incomum, mas vencer como protagonista é algo completamente diferente – convém recordar que já decidiu uma final de Liga dos Campeões, em 2021/22, frente ao Liverpool (1-0).
O duelo contra Ryerson pela esquerda vai ser crucial para o desenvolvimento do jogo e se o norueguês conseguir manter o extremo merengue quieto, o ataque do Real Madrid perde grande parte da sua potência.
XI´s PROVÁVEIS
Borussia Dortmund: Gregor Kobel; Julian Ryerson; Nico Schlotterbeck; Mats Hummels; Ian Maatsen; Emre Can; Marcel Sabitzer; Karim Adeyemi; Marco Reus; Jadon Sancho; Niclas Füllkrug
Treinador: Edin Terzić
«Sabemos que (o Real Madrid) é a equipa com mais sucesso nesta competição, mas também sabemos que estamos prontos para competir com eles ao mais alto nível. Tudo é possível! Eles são os favoritos, mas isso não importa, também não éramos favoritos nos jogos anteriores».
Real Madrid: Thibaut Courtois; Dani Carvajal; Nacho Fernández; Antonio Rüdiger; Ferland Mendy; Eduardo Camavinga; Federico Valverde; Toni Kroos; Jude Bellingham; Rodrygo; Vinícius Júnior
Treinador: Carlo Ancelotti
«A prioridade é transmitir ideias claras aos jogadores. Ser o mais direto possível, porque quanto mais direto, menos nervosa a equipa fica. Vou ser tático, as emoções vêm mais tarde. Antes do jogo, as emoções negativas vêm, mas o medo é uma parte importante para fazer as coisas bem. A qualidade e o sacrifício coletivo têm de ser demonstrados e vão ser as chaves da partida».
PREVISÃO DE RESULTADO: Borussia Dortmund 1-2 Real Madrid