Liga dos Campeões, 6.ª jornada: terça-feira, 20h00. 12 de dezembro de 2023
ANTEVISÃO: AO SC BRAGA PEDE-SE A SUA MELHOR VERSÃO DE CONTRA-ATAQUE – MARCAR DOIS SEM SOFRER NENHUM
A 31 de Agosto, à porta do Fórum Grimaldi, quantos adivinhariam as actuais hipóteses de qualificação do Sporting Clube de Braga à entrada para a última ronda? Quantos não dariam Real e Nápoles como qualificados antecipadamente, com 15 pontos? Nesse dia, quantos adeptos minhotos pensariam que Álvaro Djaló levaria 12 golos marcados e três assistências neste momento, sendo ele baixa importantíssima – a ver se não decisiva – para um dos jogos mais importantes de sempre do clube? Mesmo achando que o isolamento de Rudi Garcia por campeonatos de menor expressão não lhe permitiria ter impacto imediato, quantos apostariam que estava despedido ainda antes de Dezembro? E quantos imaginariam que De Laurentiis decidisse reatar namoro com Walter Mazzari, velho amigo e mestre abandonado à sua sorte no Calcio? Assim são as misteriosas decisões do ‘Futebol’, que não só é desporto mas entidade sobrenatural, quase sempre justa – e por isso permite o sonho a todos, ao mesmo tempo que pune os mais sobranceiros e bonacheirões.
Artur Jorge acredita que pode ser este o auge do seu entusiasmante projecto. O momento que definirá a sua carreira e o futuro próximo do clube. É o merecido passo em frente num clube que tanto evoluiu na passada década? Tenta relativizar. «A mensagem é muito simples. A ambição não nos falta, sabemos que estamos no meio do tudo ou nada, mas temos uma possibilidade. O que mais temos falado é em acreditar nas nossas ambições e objetivos. Estamos focados no que podemos fazer amanhã , partimos com desvantagem de dois golos, a vantagem que o Nápoles conquistou é por ter sido mais consistente do que nós, mas, amanhã, ganhando, igualamos essa consistência porque fazemos os mesmos sete pontos. Esse é o ponto de partida para nós.» A valorização do esforço e do trabalho, o lembrete de que é a disciplina a alavancar o talento – que há muito neste plantel do Braga, sobretudo do meio-campo para a frente. Para o lugar de Djaló deverá entrar, natural e justamente, Bruma, que se tem portado lindamente nesta edição de Liga dos Campeões. Al Musrati recuperou a tempo e segue com a comitiva e a sua personalidade em campo é um bom resumo do estado de espírito arsenalista: em silêncio, a sentir o peso da responsabilidade, mas determinados. Tudo ou nada.
Do lado Napolitano, paradoxalmente, outra disposição muito mais relaxada, apesar do mau momento da equipa. Mazzari fartou-se de elogiar a equipa no rescaldo da derrota em Turim, aclamando seus pupilos. «Grande jogo. Juventus dominada, obrigada a manter-se à defensiva toda a segunda parte. Não podíamos ter feito mais. Uma oportunidade sensacional para o Kvara. Se jogarmos assim, vamos conseguir uma boa sequência».
Mas tambem soube reconhecer os sofrimentos da… glória. «Existiram alguns problemas, caso contrário não me tinham chamado. No ano a seguir à conquista do Scudetto há sempre repercussões para as equipas que não estão habituadas a esse sucesso» – então, o que resta melhorar a este Nápoles para voltar aos ritmos de Spalletti? «Falta-nos malícia». E esta Segunda-feira, na verdadeira antevisão, voltou a elogiar o plantel e a pedir mais coisas, como… solidez. «Amanhã é fundamental passar. Não podemos subestimar o Sp. Braga. Temos de encontrar o equilíbrio que já tivemos. Espero mais solidez, jogando o futebol que já fizemos. Creio que jogámos muito bem contra a Juventus e contra o Inter, mas agora estou interessado em passar, mostrar que estamos sólidos novamente» – e se a solidez é assim tão veemente pedida e necessária, isso significará que a prevista inclusão de Zanoli como lateral-esquerdo, justificada pelas boas indicações no jogo de Turim, deixará de ser hipótese?
É esse o grande ponto de interrogação quanto ao onze – mesmo sabendo da propagação dum vírus gripal pelo centro de treinos dos napolitanos, que apanhou Gollini ou a estrela Kvaratshkelia. Mário Rui e Cajuste ainda fizeram trabalho personalizado e não serão incluidos nos planos, Victor Osimhen esteve hoje em Marraquexe para receber o prémio de Melhor Jogador Africano do Ano, estando naturalmente incluido no melhor onze junto a Anguissa, colega partenopei. Aos italianos basta perder por um…
10 DADOS RÁPIDOS
- Nunca um conjunto português ganhou em Nápoles. O melhor foram dois empates: o 0-0 no final do tempo regulamentar que o Sporting conseguiu frente a Maradona em 89/90 (o desempate de penalties pendeu para seu lado) e o 2-2 do FC Porto em 2013-14.
- Aliás, os Partenopei dão-se muito bem contra portugueses, como mostram as sete vitórias e quatro empates em 13 jogos. As únicas derrotas foram na Luz (2-0, 2008-09) e Dragão (1-0, 2013-14).
- Já os Arsenalistas não vão muito com italianos, sejam eles de que zona forem: em 12 jogos, só três vitórias e apenas uma delas em Itália, quando foram a Parma ganhar por 1-0 em 2006-07 (com golo dum tal de… Diego Costa). E o passado recente não dá azo a optimismos, com cinco derrotas nos últimos cinco confrontos!
- Os Napolitanos já coleccionaram em 2023-24 mais derrotas (sete) que em toda a campanha anterior (seis nos 49 jogos de 2022-23). Quatro delas nos últimos cinco jogos, uma formalidade para a fase terrível que a equipa atravessa e os adversários que apareceram pelo caminho (Real Madrid, Inter e Juventus de rajada).
- Os mais utilizados esta época: Di Lorenzo (1800 minutos), Lobotka (1711’), Meret (1620’), Zielinski (1517’) e Kvaratshkelia (1454’).
- Os mais goleadores? Osimehn e Politano dividem protagonismo (seis golos), Raspadori e Kvara vêm atrás (com quatro).
- Walter Mazzari volta a Nápoles numa tentativa de reeditar as grandes equipas do inicio da década, quando juntou Lavezzi, Hamsik e Cavani no seu 3-4-3 trademark e fez a equipa voar, com a primeira classificação para a Champions em 21 anos (2010-11), qualificação para o mata-mata depois de conseguir ser segundo atrás do Bayern, chutando City e Villareal para trás (primeira vez na história), Copa de Itália (primeiro troféu em 20 anos) e o segundo lugar final do Calcio em 2012-13, a melhor classificação interna desde Maradona. Dizem que não se deve voltar onde fomos felizes: uma vitória na estreia, em Bérgamo (1-2), e três derrotas consecutivas – a pior série desde Outubro de 2016!
- O juiz da partida é Slavko Vancic, o esloveno que foi criando alarido à sua volta por controvérsias como as suspeitas de envolvimento em rede de tráfico e prostituição ou o polémico Inter-Barcelona de 2022-23. Esteve também presente no icónico Arábia Saudita-Argentina do Catar e esta temporada já apitou o 3-0 do PSG ao AC Milan.
- E mais um dado a contrariar a esperança portuguesa: 13 jogos de apito esloveno em jogos de clubes italianos e só duas derrotas – além da do Milan, uma vitória do Sevilha em Roma frente à Lazio (0-1, Liga Europa 2018-19).
- Com Portugueses ao barulho, totalmente inverso, com apenas duas vitórias em 10 jogos (incrivelmente, as duas com resultados suficientes para o Braga – o 0-3 do Porto no Mónaco em 2017-18 e o 1-4 do Sporting em Istambul contra o Besiktas, 2022-23) e a presença em jogos de muita má memória, como a vitória do Frankfurt em Alvalade, igualmente na última jornada da Fase de Grupos.
JOGADORES A TER EM CONTA
Stanislav Lobotka – Depois de competentíssima época com Spalleti, mantém o nível apesar da instabilidade que rodeia o plantel, mal gerido por Rudi Garcia e com um colectivo a quilómetros daquele já apresentado – é Lobotka quem vai segurando as pontas e assegurando mínimos olímpicos de competitividade. No auge das suas potencialidades enquanto atleta, sempre alerta e com controlo total da zona intermediária, da sua performance dependerão os sucessos de Ricardo Horta, Bruma e Zalazar. Se mantiver a tendência, obstáculo quase intransponível para os de Braga.
Ricardo Horta – Depois de conseguir chegar ao topo da pirâmide de marcadores da história arsenalista em 2021, conseguiu frente ao Estoril a chegada ao segundo posto das presenças, ultrapassando Alan com 348 jogos – coroou o importante marco com uma excelente exibição e o golo, o terceiro nos últimos cinco jogos. A excelente fase vem catapultando a equipa para franca recuperação interna com exibições de alto nível que poderão ser replicadas finalmente no cheque-mate internacional – mesmo sem a ajuda de Álvaro Djaló, Ricardo tem personalidade suficiente para assumir responsabilidades no antigo San Paolo e incomodar os italianos: isto, claro, se quiser mesmo continuar a cumprir história enquanto capitão do clube. Seria o primeiro a chegar à fase a eliminar da Liga dos Campeões.
XI´s PROVÁVEIS
SSC Nápoles: Meret; Di Lorenzo, Rrahmani, Juan Jesus e Zanoli; Lobotka, Anguissa e Zielinski; Kvaratshkelia, Osimhen e Politano
Treinador: Walter Mazzari
«Disse aos rapazes que não há que fazer cálculos para o resultado final, não devemos pensar em mais nada do que a vitória, eles são muito hábeis no contra-ataque».
SC Braga: Matheus; Victor Gómez, Fonte, Saatci e Borja; Vítor Carvalho, Moutinho e Zalazar; Bruma, Ricardo Horta e Banza.
Treinador: Artur Jorge
«Vamos ter pela frente um adversário extremamente difícil, com belos jogadores, um treinador muito experiente e competente, mas vamos procurar continuar a fazer história no Sp. Braga».
PREVISÃO DE RESULTADO: SSC Nápoles 3-1 SC Braga