Até onde pode ir este Girona FC?

    O futebol é um desporto cheio de surpresas. Parece um chavão, mas a verdade é que ano após ano, época após época a previsibilidade do campo teórico deixa-se enganar por equipas que assumem o papel de revelação e despertam a curiosidade dos adeptos do futebol. Este é o caso do Girona FC.

    Tendo regressado ao principal escalão do futebol espanhol na época 2021/2022, via “play-off” de acesso, poucos anteviam que o emblema da Catalunha, dois anos depois, estaria na vice-liderança da La Liga, a dois pontos do todo-poderoso líder Real Madrid FC. Somando 22 pontos- mais 14 que na época passada- à entrada da décima jornada, o Girona vive o melhor arranque de sempre da sua história e já se especula entre os seus adeptos a possibilidade de ir pela primeira vez às competições europeias.

    Mesmo tendo um curto período na elite do futebol espanhol, os comandados de Míchel, nunca tinham vencido por seis vezes seguidas na competição doméstica, sendo, até ao momento, a equipa que mais pontos fez fora de portas (13 dos seus 22 pontos).

    Após esta pequena introdução, é tempo de fazer a seguinte questão: Mas afinal que projeto é este do Girona FC?

    Embora se trate de um clube com mais de noventa anos de história e tendo já tido uma curta passagem pelo campeonato espanhol, o projeto Girona está indiscutivelmente ligado ao “City Football Club”, empresa dona do Manchester City, e ao nome de Pere Guardiola, irmão de Pep Guardiola. Ambas as partes detém 44,3 por cento do emblema catalão, tendo adquirido o clube em 2017.  Desde a chegada destes dois grupos de investimento, o Girona tem registado um percurso desportivo ascendente e uma organização financeira e de “scouting”, só possível com o apoio destes dois grupos.

    Procurando consolidar a presença no campeonato espanhol, foram realizadas fortes melhorias no centro de treinos, na estrutura do clube e na sua academia, acabando, também, por servir de “incubadora” de talento emergente que, num curto-médio prazo, pode vir a integrar o plantel do Manchester City. Quando o atleta não consegue trazer retorno desportivo aos “citizens”, a sua passagem pelo emblema espanhol, agrega um retorno financeiro a todo o grupo. Exemplos disso mesmo são os jogadores Taty Castellanos, Savinho ou Yan Couto.

    Desportivamente, o sucesso do Girona está associado ao nome de Míchel. Desconhecido por muitos, este treinador natural de Madrid, por incrível que pareça, assumiu, desde a sua chegada na época 2021/2022, o papel de intermediário da cultura catalã e do que é ser adepto do Girona FC junto dos seus plantéis, aliando, a isso mesmo, uma ideia de jogo atrativa e condicente com os ideais do grupo City.

    Conhecido jogador do Rayo Vallecano, foi no clube de Vallecas que, na época de 2016/2017, iniciou o seu percurso de treinador, onde ficou três temporadas e venceu o primeiro título da sua carreira: uma segunda liga espanhola. Antes de chegar à Catalunha, passa pelo Huesca onde volta a vencer o título do segundo escalão. Nas duas primeiras épocas de Girona, garante a subida de divisão via “play-off” e um 10º lugar, igualando a melhor prestação do clube até agora. Digno também de registo fica o jogo no Estádio Montilivi onde venceu o Real Madrid por 4-2 e em Camp Nou, onde empatou contra o Barcelona.

    Jogando num 4-3-3, podendo alternar num 4-2-3-1/4-1-4-1, o Girona de Míchel é uma equipa que gosta de assumir o protagonismo do jogo, de ter bola, aproveitando, quer pelo pendor ofensivo dos seus laterais (Yan Couto/Arnau e Miguel Gutiérrez) quer pela capacidade de desequilíbrio de Savinho e Tsygankov, para ser uma equipa bastante ofensiva.

    O processo ofensivo inicia-se numa construção a três onde Alexis Garcia ou David Lopez, junta-se aos centrais Eric Garcia e Daley Blind para iniciar uma saída curta, pedindo também que os dois alas se projetem no terreno. Em muitos dos casos, Paulo Gazzaniga ajuda na própria construção.

    Na transição é frequente verificar-se alguma extravagância no jogo de pés do guarda-redes argentino. Míchel gosta de jogar com uma linha defensiva bastante subida- é frequente registar-se a linha defensiva na própria linha de meio-campo, o que pode ser prejudicial quando o Girona enfrenta equipas que consigam explorar bastante bem o espaço na profundidade- dando assim espaço a que Gazzaniga se posicione de forma a ser a primeira opção de passe no momento que os centrais recuperem a bola.

    Jogando um futebol que privilegia a posse e o passe curto, esta equipa não se importa de esperar pelo momento certo para romper a linha média adversária. Para isso, os dois médios centros, muitas das vezes, aproximam-se dos três que constroem, atraindo os jogadores da equipa contrária, para que estes consigam o movimento de rutura ou tenham o espaço para poder progredir com bola.

    Quando o conseguem, encontram-se numa situação de vantagem numérica onde tentam focar o jogo para uma das laterais de modo a dar o espaço necessário para que Artem Dovbyk- contratação mais cara da história do Girona (7 milhões de euros) – apareça em zonas de finalização e concretize a jogada em golo. O jogo de cruzamento para o avançado ucraniano é tanto feito pelos alas e extremos como pelos médios, sendo frequente ver, por exemplo, Blind ou Garcia a fazer esse movimento.

    Em transição, o clube da Catalunha usa Sávio e Tsygankov para ganhar metros de terreno e aproveitar para colocar Dovbyk em zonas de finalização. O passe longo de Garcia tem sido a arma secreta desta equipa nas transições quando os extremos não apresentam uma grande inspiração.

    No processo defensivo, esta equipa acaba por sofrer as suas maiores debilidades. Trata-se de uma equipa que sofre muitos golos de transição e de bola parada, contudo, a partir do momento da perda da bola tende a realizar uma pressão alta junto do adversário dificultando a sua construção. Face à exposição dada pela sua linha defensiva, David Lopez assume muitas das vezes o papel de “bombeiro” para evitar males maiores.

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