“Como perder um plantel em 14 passos”, de Julen Lopetegui

    Ao fim de 14 partidas oficiais, Julen Lopetegui foi despedido do Real Madrid CF. Uma das estadias mais desastrosas de um treinador dos blancos chegou ao fim com a derrota deste fim de semana, frente ao FC Barcelona (5-1). Mas como é que chegou a isto? Da entrada conturbada à saída pela porta das traseiras, analisamos as 14 partidas do técnico espanhol no Santiago Bernabéu.

    As circunstâncias da entrada do ex-treinador do FC Porto (época 2014/2015) no Real Madrid foram um presságio para o que seria o seu futuro no clube. Anunciado precisamente antes de a Seleção Espanhola, treinada por si, fazer o primeiro jogo do Mundial de 2018, Lopetegui acabou por ser despedido de La Roja e rumou mais cedo a Madrid, onde apenas era suposto chegar após o Campeonato do Mundo.

    A sua tarefa não era invejável: manter uma equipa que acabara de perder o seu técnico (Zinedine Zidane) e a sua principal estrela (Cristiano Ronaldo) no topo do futebol europeu nunca seria fácil. Mas não nos podemos esquecer de que este era um plantel que contava com a qualidade de Sergio Ramos, Marcelo, Luka Modric, Toni Kroos, Gareth Bale e tantos outros. Não estamos, de todo, a falar de uma equipa desfalcada.

    Assim, a exigência mantinha-se. Mesmo com um mercado de transferências fraco, a afición madrilena esperava continuar a ver o seu clube no topo do futebol europeu. E isso começava com a UEFA Super Cup, frente ao rival Atlético de Madrid

    No primeiro jogo oficial sem “CR7”, o Real Madrid sofreu um golo ao fim de 120 segundos. E talvez isso pudesse ter sido o pior momento do Real Madrid nessa noite. Mas depois veio uma exibição tórrida de Sergio Ramos, constantemente batido (tecnica e fisicamente) por Diego Costa, um aparente adormecimento do meio campo madrileno que nem a entrada de Modric conseguiu reverter e mais três golos do Atlético de Madrid, que como resposta apenas tiveram dois tentos blancos. Resultado final: 4-2. Começavam a manifestar-se os arautos da desgraça, que por enquanto ainda mereciam apenas este nome (hoje, talvez os possamos chamar profetas).

    Um início de campeonato com três vitórias não conveceu os fãs. Por um lado porque consideravam que vitórias contra equipas regularmente na segunda metade da tabela – Getafe, Girona e CD Leganés – , por outro porque a equipa continuava a assumir um estilo de jogo pouco atrativo. Apesar de Gareth Bale se apresentar como a nova figura do Real Madrid, com três golos e uma assistência, a sua tendência para lesões não permitia aos adeptos depositar nele grandes esperanças. Karim Benzema marcava, mas continuava a desperdiçar muitas oportunidades – a agravar isto veio o seu estatuto pré adquirido de patinho feio do Bernabéu -.

    Quando se deparou novamente com uma equipa do top 8 – Athletic Bilbao -, o Real Madrid não foi além do 0-0. Isto validou as críticas dos adeptos que afirmava que as vitórias iniciais eram enganadoras.

    No jogo seguinte, frente à AS Roma, em casa, veio o ponto alto da estadia de Julen Lopetegui no Real Madrid: uma vitória por 3-0. Os golos de Isco, Bale e Mariano – o novo número 7 – pareciam ter tirado o técnico da lama. Modric voltou a mostrar a qualidade que lhe dera o prémio de melhor jogador do Mundial na Rússia, Bale continuava a marcar e o Real Madrid começava a sua busca pela décima quarta Liga dos Campeões da melhor maneira.

    A vitória frente ao Espanyol no fim de semana seguinte veio dar aparente estabilidade a Lopetegui. A derrota por 4-2 frente ao rival Atlético de Madrid parecia agora uma memória distante e os tais arautos da desgraça deixavam e manifestar tanta preocupação.

    Mas os blancos voltariam a cair, e com estrondo. Uma semana depois, perdiam por 3-0 frente ao Sevilla FC, num jogo de muito boa memória para André Silva, que assinou nesse jogo dois golos. Aqui, podemos dizer, foi o início do fim para o novo comandante do Santiago Bernabéu. Os problemas, que se cingiam maioritariamente ao meio campo – no qual Casemiro perdera a sua segurança, Kroos a tranquilidade e Modric, que ressurgira, frente à AS Roma, parecia novamente perdido em campo.

    A este desaire seguiu-se um empate a zeros frente ao Atlético de Madrid. Num jogo em que Gareth Bale saiu lesionado – novamente, e para desespero dos adeptos que viam nele a sua nova grande estrela -, ouviram—se pelo Bernabéu cânticos a entoar “Ronaldo, Ronaldo!”. Enquanto o craque português começava a ganhar balanço em Turim, tendo conseguido a esta data três golos pela Juventus FC, o Real Madrid mergulhava numa piores fases da sua história.

    Depois de um empate desencorajador, vieram três derrotas humilhantes: contra o CSKA de Moscovo (1-0), contra o Alavés (1-0) e contra o Levante, em pleno Santiago Bernabéu (1-2). Agora, os cânticos referentes a “CR7” eram acompanhados de lenços brancos para o treinador de uma equipa que não era mais que um reflexo baço do que fora na época passada. Uma equipa que tinha qualidade no meio campo para controlar o jogo com posse de bola e velocidade e eficácia para jogar no contra ataque não fazia nem uma nem outra. Uma crise de identidade que estava a dois passos de acabar com a estadia de Lopetegui.

    A vitória no jogo seguinte, da terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, de pouco ajudou a situação dos madrilenos. Não era um resultado de 2-1 em casa frente ao Viktoria Plzen que iria convencer os adeptos a apoiar Lopetegui.

    Chegamos, então, à gota final num copo que encheu depressa demais. Seria no Camp Nou, frente ao eterno rival, FC Barcelona, que a sentença de Lopetegui ficaria assinada. Uns estrondosos 5-1 eliminariam quaisquer hipóteses de recuperação do espanhol no comando da equipa.

    O novo treinador interino em Madrid
    Fonte: Real Madrid CF

    Este jogo acaba por retratar tudo o que esteve mal neste Real Madrid de Julen Lopetegui: uma falta clara de ideias de jogo, uma defesa de classe mundial a mostrar-se anormalmente errónea, um meio campo que em vez de um dínamo e dois maestros apresentou três jogadores aparentemente sem confiança e instruções claras e um ataque praticamente inefetivo. Uma equipa sem nexo, coesão e identidade. É esse o legado que é agora deixado a Santiago Solari, ex jogador do Real Madrid e técnico da equipa B, o Castilla. A saída de Ronaldo não justifica todos os problemas que este plantel apresenta, mas o despedimento de Lopetegui também não será certamente a derradeira solução para os mesmo. Em 14 simples passos, foi-se embora um treinador e manchou-se o nome de um histórico europeu.

    Tal como Zidane quando este chegou à equipa principal do Real Madrid, Solari terá que gerir os egos, aumentar a confiança e devolver ao Santiago Bernabéu o futebol a que o tem habituado ao longo dos últimos anos.

    Foto de capa: Real Madrid CF

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    Gonçalo Taborda
    Gonçalo Tabordahttp://www.bolanarede.pt
    O Gonçalo vem de Sacavém e está a tirar o curso de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Afirma que tem duas paixões na vida: futebol e escrita. Mas só conseguia fazer uma delas como deve ser, por isso decidiu juntar-se ao Bola na Rede.                                                                                                                                                 O O Gonçalo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.