Jagoba e a dureza da hora da despedida

    O final da temporada 2023/24 vai ficar marcado pelas separações de Liverpool e Jurgen Kloop, e de Barcelona e Xavi Hernández. Nunca é fácil quando um histórico anuncia que vai fechar a porta, seja em Inglaterra, Espanha ou até mesmo Portugal, onde os técnicos são questionados depois de meia dúzia de maus resultados. Em Pamplona, no dia 26 de março de 2024, Jagoba Arrasate anunciou numa longa conferência de imprensa a sua saída do cargo de treinador do Osasuna em junho, quando encerra o seu contrato. Acompanhado de Luis Sabalza, presidente da instituição) e Braulio Vázquez (diretor desportivo), a comunicação aos jornalistas da decisão foi feita com tristeza e dor, num semblante fúnebre. Naquela sala ninguém estava feliz, nem mesmo as pessoas dos órgãos de comunicação que estavam a cobrir o evento. Foi uma conversa em direto, nada de gravações, ao contrário do alemão dos reds, o que adensa ainda mais toda a situação.

    Tratou-se de uma conferência de imprensa com quase uma hora de duração, onde poucos sorrisos se viram, mas muitas lágrimas caíram. Afinal, estamos a falar de um técnico que estava no El Sadar há seis temporadas (apenas Diego Simeone ocupa o posto de treinador na La Liga há mais tempo), onde o Osasuna cresceu a olhos vistos. O apogeu? A época 2022/23, que culminou com a classificação da equipa para as eliminatórias das Conferece League, com muita polémica à mistura. Jagoba Arrasate é um histórico, construiu a sua carreira a pulso. Depois de um trabalho de elevado quilate no Numancia, a turma do Reino de Navarra apostou nele para um regresso à La Liga, em 2018/19 e o mesmo não desapontou. 87 pontos em 42 desafios, mais oito pontos que o segundo classificado. O próprio técnico admitiu que foi um grande momento:

    «Trata-se de ser competitivo e este ano queríamos ser o mesmo até nos apercebermos que não estávamos a ir bem. O ano na segunda divisão é irrepetível, um balneário irrepetível. Nunca fui tão feliz, era uma alegria ir ao Sadar de 15 em 15 dias. Na primeira divisão começámos com isso, és uma surpresa, és um novato, os rivais começam a respeitar-te… Não houve um ano assim na segunda divisão, e é difícil encontrar um».

    No meio deste trajeto vencedor, uma final da Taça do Rei, em 2022/23 (de facto, o melhor ano para se acompanhar o Osasuna) e a evolução notória de série jogadores, que se tornaram em atletas de elite nas mãos de Jagoba Arrasate: David García, Lucas Torró, Jon Moncayola, Aimar Oroz, Ante Budimir, Chimy Ávila, Sergio Herrera, Iker Múñoz, Manú Sánchez ou até mesmo Abde. O Osasuna conseguiu estabelecer-se como uma equipa importante na La Liga, que dava gosto de assistir. O técnico tinha (e continua a ter) o El Sadar do seu lado. Não é fácil para um treinador entrar no coração dos adeptos, mas o basco conseguiu-o, daí a tristeza ser mais forte.

    Porém, se o ambiente era tão perfeito, porquê colocar um fim a esta história?

    Cada um tem os seus motivos. Jurgen Klopp estava cansado, Xavi Hernández exausto pela pressão e crítica. Jagoba Arrasate pensou no futuro, mesmo que nunca o tenha dito diretamente. Se Luis Sabalza e Braulio Vázquez ainda não conseguiram atingir a ideia, o técnico apercebeu-se que o projeto atingiu ao seu ponto mais alto, não dá para “espremer mais”. O Osasuna é uma equipa com bons jogadores, capazes de lutar quiçá por um apuramento para as competições europeias, quando todos estão em forma, mas fica-se por aí. Os atletas que detém atualmente não vão conseguir fazer melhor. Lucas Torró ou David García já atingiram o seu auge. Iker Muñoz ou Aimar Oroz vão ter que dar o salto mais tarde ou mais cedo. Jon Moncayola entrou em clara regressão. Para subir um patamar, era necessário mais investimento e em Pamplona as portas não estão abertas para tal. Temos verificado que existe um exímio aproveitamento a formação, acompanhado com boas oportunidades de mercado, mesmo em empréstimos. Braulio Vázquez é dos melhores naquilo que faz, mas não pode inventar um orçamento com mais 20 ou 30 milhões de euros.

    Nunca se tratou de uma falta de uma proposta para renovar contrato. Era mais ou menos público que Jagoba Arrasate tinha uma na mão. Simplesmente, um projeto chegou ao fim:

    «As pessoas querem sempre procurar os culpados e os porquês, mas isso é tudo. Conheço o presidente há seis anos, o Braulio andou a chatear-me até ao meio-dia de hoje. Não houve falta de confiança. Foi algo muito meditado: analisam-se prós, contras…. Quem sai de Osasuna, perde. Tenho quase tudo aqui, mas tenho de ser honesto comigo mesmo e acho que chegou a altura. Uma vez tomada a decisão, senti-me um pouco mais liberto».

    Ficam as dúvidas sobre o futuro. Não sobre Jagoba Arrasate, mas sim sobre o Osasuna. O treinador facilmente arranjará um emprego em alguma turma com maior capacidade que a equipa de Pamplona. Muito se tem falado no Sevilha, que é um histórico espanhol, mesmo que não viva o seu melhor momento. Talvez uma figura como a do técnico seja o ideal para o conjunto andaluz. Porém, o que será da equipa navarra?

    Jagoba Arrasate referiu que há que se confiar em Braulio Vázquez para assumir a missão de encontrar um novo timoneiro. Contudo, nunca é fácil deixar um projeto para começar outro. Falamos de um plantel que estava mais do que habituado a uma equipa técnica e a tudo o que isso acarreta (treino, planificação, relação pessoal/profissional). Começar do zero é extremamente difícil e o Osasuna sabe que, pelo menos sem um forte investimento, não irá conseguir arranjar melhor que Jagoba Arrasate, nem de perto. Rubi foi o primeiro nome falado e prova este ponto. É mau treinador? Não, mas não é um upgrade nem aparenta ter traquejo. Na prática poderá ser diferente.

    Resta a Jagoba Arrasate disfrutar dos últimos jogos pelo Osasuna e sair em grande. Aplaudido de pé será de certeza, mas acompanhado com um posto na primeira metade da tabela, seria uma despedida em pleno. Não encontramos todos os dias uma conexão tão forte como esta que está para acabar. Por isso, aquele 26 de março de 2024 foi um dos dias mais duros da história recente do Osasuna. As despedidas nunca são fáceis. Mas quando se tratam de notáveis, são ainda mais difíceis.

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