Paco Jémez demitido: Os erros do treinador e do Granada CF

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    Paco Jémez foi demitido do Granada. Durou apenas seis jornadas esta sua experiência, em que somou dois empates e quatro derrotas, deixando o clube no último lugar do campeonato, em igualdade com o Osasuna. Há decisões incompreensíveis por parte da direção do Granada, mas também há muito que questionar em relação a Jémez, que é um estranho caso de popularidade, apesar dos seus maus resultados.

    Consideremos o último ano da carreira de Paco Jémez. Desceu de divisão com o Rayo Vallecano e, agora, deixa o Granada em último lugar da Liga Espanhola. Descrito assim (que é redutor, claro), este último ano de Jémez não está muito longe daquela célebre época em que Luís Campos treinou Vitória de Setúbal e Varzim e ambos acabaram por descer de divisão. Passados mais de dez anos, Luís Campos ainda não se livrou da má fama que essa época lhe trouxe. No entanto, Paco Jémez parece manter uma boa imagem junto de muitos adeptos.

    O segredo da popularidade de Jémez deve-se a dois fatores: fidelidade extrema às suas ideias de jogo e declarações bombásticas nas conferências de imprensa. Inicialmente, fiquei, como quase toda a gente fica, impressionado por ambos. Hoje, parece-me que servem mais à carreira pessoal de Jémez do que aos clubes que treina. Nunca abdica da sua forma de jogar, saindo através de passes curtos desde a defesa, ao melhor estilo tiki-taka. O problema é que os intérpretes desse estilo no Granada e no Rayo não têm a mesma qualidade dos do Barcelona. E se a isso somarmos os problemas defensivos, o saldo entre os prós e os contras dessa forma de jogar foi claramente negativo para as equipas de Paco Jémez no último ano. No entanto, mantendo-se fiel a esse estilo, mesmo quando joga com 9 jogadores em casa do Real Madrid, Jémez consegue destacar-se dos outros treinadores. O Rayo, nesse dia, perdeu 10-2, mas não faltou quem, como eu, elogiasse a coragem do seu treinador. Assim, Jémez consegue destacar-se, mesmo enquanto a sua equipa se afunda.

    Jémez não teve muito tempo para passar as suas ideias aos jogadores Fonte: Granada CF
    Jémez não teve muito tempo para passar as suas ideias aos jogadores
    Fonte: Granada CF

    As suas declarações bombásticas nas conferências de imprensa também contribuem para o seu destaque. No ano passado, chegou a dizer que, se fosse Presidente do Rayo demitiria o treinador, que era… ele próprio. Esta época, depois de ser goleado pelo Las Palmas, à segunda jornada, disparou: “o clube tem de pensar se a pessoa adequada para seguir no banco sou eu, porque hoje fui o melhor jogador do Las Palmas”. Ainda há dois dias, depois da derrota com o Alavés disse que “com estes erros não há possibilidade de competir na primeira liga”. Ouvidas pela primeira vez, este tipo de frases causa admiração por fugir à conversa habitual dos treinadores derrotados. Vemos ali um treinador exigente, auto-crítico e que assume a responsabilidade. O problema surge quando este discurso é repetido semana sim, semana não, sem ser acompanhado de nenhuma consequência prática. Assim, tratam-se apenas de declarações para impressionar, enquanto a equipa continua a perder jogos cometendo os mesmos erros.

    Dito tudo isto, o planeamento feito pela direção do Granada também foi péssimo. Dia 11 de agosto, a uma semana do início da Liga, fiz uma antevisão do que poderia ser o Granada de Paco Jémez. 20 dias depois, o artigo já estava completamente desatualizado. É que chegaram 9 (!) jogadores depois disso.

    Também não se entende como é que se demite um treinador à sexta jornada, depois de lhe dar um contrato de três anos. Por vezes há erros, apostas arriscadas e treinadores que não correspondem às expectativas, mas nesse aspeto, não há nada a apontar a Paco Jémez, que sempre se manteve fiel às suas ideias e tentou, no Granada, fazer o mesmo que havia feito no Rayo: com um plantel abaixo da média, tentar jogar como um grande. Os dirigentes do Granada já saberiam, com certeza, que era isso que estavam a contratar em junho. Aliás, com todas as mudanças de última hora que houve no plantel, uma das únicas coisas que “acertei” na minha antevisão do Granada de Paco Jémez foi o estilo de jogo que seria adotado. Nunca muda.

    Ah! Houve outra previsão que acertei na altura: “Não se espera uma temporada nada fácil para o Granada de Paco Jémez”.

    Foto de capa: Granada CF

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    Eduardo Botelho
    Eduardo Botelhohttp://www.bolanarede.pt
    Se os passes de letra existissem literalmente, o Eduardo talvez tivesse dado jogador de futebol. Assim, limita-se às reviengas literárias. A viver em Barcelona, tem vista privilegiada para a melhor liga do mundo.                                                                                                                                                 O Eduardo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.