Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
(…)
Alberto Caeiro, in O Guardador de Rebanhos
Eibar é uma pequena cidade no País Basco, mas de lá se pode ver quanto da terra se pode ver no Universo. Lá pode-se ver, pelo menos uma vez por ano, estrelas como Messi, Ronaldo ou Griezmann. E pode-se vê-las bem de perto. Não sei se é a equipa do Eibar que se agiganta para chegar lá acima ou se são essas estrelas que se tornam terrenas, mas dentro do retângulo de jogo, o Eibar é do tamanho daqueles com quem compete. Tanto assim é que, esta época, já foi à capital empatar com o Real Madrid e, em casa, venceu equipas como o Villarreal e o Valência, tendo também conseguido empatar com o Sevilha.
Fora de campo é que as diferenças são mais notórias. O S.D. Eibar tem o estádio mais pequeno da liga espanhola, com capacidade para apenas 6300 espectadores, a quem se juntam sempre mais algumas dezenas que espreitam os jogos desde os prédios e colinas ao redor do estádio. Quando um dos grandes de Espanha se desloca ao Ipurua, o cenário faz lembrar aquelas ocasiões em que uma equipa dos escalões inferiores tem a sorte de receber um dos grandes numa eliminatória da Taça.
E, de facto, ainda há poucos anos, o Eibar era mesmo um desses clubes pequenos, que disputava o terceiro escalão do futebol espanhol. Hoje, quer consolidar-se como clube de primeira. Subiu pela primeira vez em 2014 e, nessa época, ficou em posição de descida, sendo repescado após o Elche ter sido despromovido administrativamente por questões financeiras. Na época passada, a manutenção foi conquistada em campo, com o clube a ficar no 14.º lugar e, neste momento, a disputar a primeira liga espanhola pela terceira vez na sua história, o Eibar ocupa o oitavo lugar.
Para este bom arranque muito tem contribuído o bom momento de forma de Pedro León, o médio que chegou a passar pelo Real Madrid e, agora, aos 29 anos, parece estar a viver um dos melhores momentos da carreira, na ala direita do Eibar. Destacam-se também Fran Rico no meio campo e Sergi Enrich no ataque, numa equipa equilibrada em que José Luis Mendilibar teve a sorte (e o mérito) de acertar desde cedo num onze estável. Normalmente joga num 4-4-2 com Enrich e Kike Garcia na frente, abdicando por vezes do segundo avançado para reforçar o meio campo.

Fonte: La Liga
Mas fora dos relvados o Eibar também trabalha bem. Ainda a semana passada, Bebé deu uma entrevista ao site da Liga, em que confessou que inicialmente rejeitou as propostas que recebeu do clube, mas que hoje acha que foi a melhor decisão que tomou na carreira, destacando o apoio que é dado aos jogadores e suas famílias. A opinião de Bebé é interessante porque o antigo extremo do Benfica conhece bem a realidade dos clubes pequenos da Liga Espanhola, uma vez que esteve emprestado ao Córdoba, em 2015, quando a equipa desceu de divisão e, na época passada, esteve no Rayo Vallecano, que também desceu. Sobre a sua má experiência no Córdoba, Bebé lembra que se tratava de “uma equipa de muitos miúdos, com 14 jogadores emprestados” e onde faltava união. (Curiosamente, essa é a fórmula que o Granada está a usar este ano e que tem tudo para dar mau resultado).
Em Eibar mora uma equipa equilibrada e experiente e que parece determinada a continuar a ser do tamanho daqueles com quem compete e não do tamanho da sua altura.
Foto de capa: SD Eibar