Tribuna VIP: Te quiero, LaLiga!

    Não são raras as vezes que me fazem esta pergunta sobre a La Liga: “Tu gostas mesmo da liga espanhola, não gostas?”. A resposta é óbvia pelo título deste artigo, mas também é dada sempre que tenho oportunidade de fazer a narração do campeonato de nuestros hermanos. A cada jogo há um conjunto de informações que, quando dou por mim, já me levaram mais uma hora de preparação do que tinha previsto e a página do caderno volta a ficar totalmente preenchida.

    Mas, afinal de contas, que razões existem para esta paixão? Ponto prévio, sei que neste momento a La Liga não está ao nível da Premier League, como já esteve, muito por culpa das diferenças financeiras entre as duas realidades. Mas tem algo de especial, de diferente, por vezes até difícil de explicar. Há uns tempos, conversava sobre isso mesmo com o Alexandre Afonso. Ele sente o mesmo. Dizia-me o Alex que um dos encantos que encontra está na fonética das palavras, dos nomes como Martinez, Fernández, Gonzalez e outros do género. Será uma das razões, sem dúvida.

    A paixão, antiga, vem dos tempos em que a SIC transmitia jogos da La Liga em diferido, depois de almoço, com narração do saudoso Jorge Perestrelo. A festa durante aqueles 90 minutos deixou boas recordações. A chegada de Cristiano Ronaldo ao Real Madrid, seguido de José Mourinho, voltou a ligar mais Portugal à liga espanhola. E, desde 2016, surgiu a oportunidade de trabalhar de perto com este campeonato. Primeiro com a ZAP, ligação que se mantém, depois com a ELEVEN, agora DAZN.

    No último fim de semana tive a oportunidade de narrar o #ElGranDerbi, um dos jogos mais apaixonantes que posso narrar. Sevilla e Betis empataram a um, mas deu-me tanto gozo a preparação do jogo como a narração propriamente dita, acompanhada pelos comentários do Márcio Madeira. Além dos dados habituais, com os números habituais, juntei um conjunto de dados mais raros com a ajuda do fantástico trabalho do Fran Martínez (@LaLigaenDirecto), que me permitiu, por exemplo, referir que, quando Pellegrini veste fato de treino, o Betis costuma ter bons resultados (com os respetivos números explicados em direto). Talvez acrescente pouco aos “cientistas da bola”, mas penso que também é disto que vive uma narração. Claro que não se deve perder muito tempo com uma informação deste tipo, mas entendo que dizê-lo de forma rápida é um bom acrescento aos dados habituais.

    Serve este exemplo para mostrar como a LaLiga é rica em episódios curiosos que adoro ir juntando. E do último fim de semana vem outro, que me apaixonou. No regresso de Míchel, técnico do surpreendente líder Girona, a Vallecas, a casa do Rayo mas também a sua própria casa futebolística (com passado como jogador e treinador e com sucesso em ambas as funções), os adeptos do clube madrileno fizeram subir uma mensagem na bancada que dizia “Míchel, o neto da Maria. Bem-vindo ao bairro”. Simplicidade em forma de homenagem e respeito, como voltou a ser demonstrado no intenso aplauso após o apito final de um jogo em que o Rayo terminou derrotado.

    O Girona é só uma das provas da qualidade que existe na La Liga. Bons jogadores, bons treinadores e projetos bem trabalhados. Dificilmente vai aguentar-se na liderança até final, até pela série de jogos mais complicados com que vai terminar o ano, mas ninguém poderá retirar à equipa catalã o estatuto de grande surpresa da temporada.

    Outra das marcas do Girona e que é comum aos outros clubes da La Liga é o público. Todas as equipas têm adeptos que enchem estádios. E se jogam com um dos grandes, esses adeptos continuam fiéis aos clubes da sua terra. Que bonito é ver estádios a vibrar com os feitos dos menos favoritos a cada jornada. E os do Girona, neste particular e até ao momento, levam vantagem nos festejos.

    Para terminar, a experiência recente do Benfica diante da Real Sociedad. Quando foi conhecido o sorteio, vi muita gente a olhar para a equipa de Imanol como apenas mais uma. Quarta classificada da última edição da La Liga, dificilmente teria hipóteses diante do campeão português. Só podia dizer isso quem nunca viu a Real jogar. E houve muita gente que nunca viu, até ao primeiro choque, na Luz. Disseram-me que ouviram numa transmissão alguém dizer que “Barrenetxea é um jogador menor nesta equipa”. O resultado esteve à vista e utilizo o extremo como exemplo para toda a equipa de San Sebastián. Dois jogos, dois amassos. E Barrenetxea em grande plano.

    Esta é, na minha opinião, a força da La Liga. Mais do que os craques do Real Madrid, Barcelona e Atlético, é a qualidade individual e coletiva de muitas outras equipas que faz deste o “meu” campeonato. Isso e as histórias, claro. As minhas histórias, que não podem faltar numa narração.

    Hasta la próxima!

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    Pedro Castelo
    Pedro Castelohttp://www.bolanarede.pt
    Desde que se lembra de ser gente que gosta de futebol, mas sabe que se apaixonou a sério pelo jogo em 1994, com 12 anos. Romário liderava o Brasil à conquista do Mundial dos EUA e tornou-se no primeiro ídolo do Pedro Castelo. O “Baixinho” e Iniesta são os seus jogadores preferidos de sempre. Na área da comunicação social desde 1998, o Pedro Castelo é daquelas pessoas com dias que parecem ter mais de 24 horas. Na televisão, é narrador na Eleven e na ZAP (Angola e Moçambique). Na rádio, é coordenador da Rádio Voz de Alenquer e relata na TSF - Rádio Notícias. Na imprensa, também em Alenquer, coordena o jornal Nova Verdade. No online, relata em flashscore.pt.