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Vinícius Júnior e o racismo em Espanha | O perigo das generalizações

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«Se a situação não evoluir até 2030, deveria mudar-se o Mundial de lugar», afirmou Vinícius Júnior.

Esta é a declaração que caiu como uma bomba em Espanha. O seu autor? O internacional brasileiro Vinícius Júnior, um dos melhores jogadores do mundo da atualidade. Por vários episódios racistas que o mesmo tem sofrido em diversos estádios espanhóis, Vinícius tem sido uma das vozes mais ativas na luta contra o racismo.

Estaremos todos de acordo que o racismo é algo que tem que ser eliminado de uma vez por todas, seja no desporto, seja em qualquer outra vertente da nossa sociedade.

O que não é correto é fazer este tipo de generalizações, porque estas tendem a ser bastante perigosas e tremendamente injustas, o que é definitivamente o caso desta afirmação de Vinícius.

Não é correto catalogar todo um país de racista e muito menos insinuar que se deva retirar a organização de um Mundial de futebol, só porque existem uns quantos energúmenos com atitudes racistas. 

Muito menos é correto que o faças com um país que te acolheu desde que tu tens 18 anos e que, na generalidade dos casos, te recebeu de braços abertos a ti e à tua família. Para mim, isto pode até ser quase qualificado de ingratidão.

São totalmente legítimas as queixas de Vinícius, mas ele também deveria fazer uma reflexão interna sobre o motivo pelo qual estes atos racistas (absolutamente condenáveis, repito) são quase exclusivamente contra ele e não contra outros colegas de equipa de raça negra, como o caso do seu compatriota Rodrygo ou os seus companheiros Tchouameni, Alaba e Rudiger, por exemplo.

Ou questionar-se porque a nova estrela espanhola Lamine Yamal já foi aplaudido no Bernabéu inclusive, sendo ele igualmente de raça negra e jogando no rival Barcelona. Não deverá haver algo que Vinícius deva corrigir no seu comportamento? Eu diria que sim.

Quem partilha desta minha opinião é Donato (histórico jogador de nacionalidade brasileira do Deportivo da Corunha dos anos 90, que inclusive acabou a representar a seleção espanhola), que afirmou o seguinte

«Não sei o que aconteceu na vida dele, mas essas declarações são muito fortes. Ele devia-se preocupar com o que se passa dentro das quatro linhas e não no que se passa fora do campo. (…) Porque é que isso não acontece com outros jogadores da sua equipa? É uma pena que ele diga que a Espanha é racista, ele deve pedir desculpas».

Não poderia estar mais de acordo com esta opinião. Já estive várias vezes em Espanha, conheço bastante bem a cultura espanhola e jamais qualificaria a Espanha como sendo um país racista.

Há racistas em Espanha? Claro que há, como também há no Brasil (o Rio de Janeiro onde Vinícius nasceu é a sétima cidade do mundo com maior criminalidade devido a atos racistas). E também há nos Estados Unidos e Vinícius decidiu dar esta entrevista à CNN, um canal norte-americano, onde o racismo é um dos maiores problemas da sua sociedade.

Para além disso, está toda a questão desportiva. Por piores episódios racistas que Vinicius tenha sofrido, isso é razão para que diga que o Mundial deva ser retirado à Espanha?

A organização de um Mundial de futebol é algo bastante importante para o desenvolvimento de um país e é algo que tem contornos políticos e um impacto muito grande no país que o organiza. A final provavelmente será no renovado estádio Santiago Bernabéu, onde joga o Real Madrid, clube que, curiosamente, é o que Vinícius representa. 

Certamente que estas declarações não terão caído bem junto do presidente Florentino Pérez, que tem o sonho de receber uma final de um Mundial de futebol no seu estádio. Vinícius sabe do seu mediatismo, sabe que a sua voz será ouvida e que as suas declarações iriam ter esta repercussão.

Porque decidiu tê-las apenas agora? Porque decidiu dar esta entrevista quando se falava na sua saída para a Arábia Saudita com o maior contrato da história do futebol? País esse que convenhamos que não é de todo o maior exemplo na luta contra o racismo.

Estará Vinícius a abrir a porta da saída do Real Madrid, uma vez que o seu protagonismo agora é repartido com Bellingham e Mbappé? Fica esta dúvida bastante plausível. Irá Vinicius receber mais amor e carinho por parte dos espanhóis com estas declarações? Certamente que não. Conhecendo bem as gentes do nosso país vizinho, diria até que irá receber assobios por parte dos seus próprios adeptos.

Apesar da Espanha ser um país maioritariamente de clubes e não tanto de seleções, haverá igualmente uma parte bastante considerável de adeptos com um forte sentido patriota, que não devem ter gostado nada de ter um jogador brasileiro afirmar que o seu país é racista.

Durante a entrevista, Vinicius tentou emendar a mão e atenuar o que tinha dito, afirmando que adora Espanha, que adora viver em Madrid e que ama jogar no Real Madrid. Mas isso não invalida o que disse anteriormente e Vinicius disse o que sentia e está no seu direito. Mas como tudo na vida, haverá consequências certamente.

O alcalde de Madrid já veio exigir que Vinicius se retratasse e desculpasse publicamente e que Madrid é das melhores cidades para viver e das mais inclusivas do mundo. O selecionador espanhol Luis de la Fuente afirmou categoricamente que Espanha não é um país racista, tal como o capitão de equipa Carvajal (colega de equipa de Vinicius no Real Madrid), apesar de reconhecer que sabe o que este já sofreu devido aos episódios racistas mais recentes.

Não considero que com estas declarações, estes diminuam, muito pelo contrário. Ter todo um país contra ti não é definitivamente a melhor solução para que tal aconteça. Na minha opinião, Vinicius está bastante mal assessorado e escolheu um caminho que lhe irá trazer vários dissabores durante esta época desportiva.

O racismo deve acabar. Assim como as generalizações.

Tiago Campos
Tiago Campos
O Tiago Campos tem um mestrado em Comunicação Estratégica mas sempre foi um grande apaixonado pelo jornalismo desportivo, estando a perseguir agora esse sonho. Fã acérrimo do "Joga Bonito".

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