Os últimos 5 confrontos portugueses com o Rangers

    Não se passou nada. Podemos continuar a fingir que no fim de semana nem sequer houve Primeira Liga e olhar para o Benfica x Rangers como um entusiasmante embate europeu com toda a esperança dum bom resultado. Sobretudo, quando reparamos na estatística: os escoceses, apesar de terem vantagem no confronto directo em dez dos onze confrontos com portugueses desde 1983-84 – só o FC Porto finalista da Taça das Taças conseguiu ser mais forte – não gosta muito de jogar em Portugal, onde empatou quatro e perdeu quatro dos onze jogos cá feitos.

    Por outro lado, Roger Schmidt só a duas copiosas derrotas (por três ou mais golos) das doze que sofreu na carreira, não reagiu com uma vitória. Aliás, no último ano de PSV, depois do 5-0 infligido por Ten Hag, despachou o Twente por 5-2; Antes, já tinha respondido a um 4-0 do Feyenoord com uma grandiosa vitória fora, um 1-2 ao Go Ahead Eagles.

    E, aliás, felizmente para todos nós, até a questão do Rangers ter conseguido consumar a eliminação das nossas equipas enquanto visitante por… cinco ocasiões, quase sempre com golos apaixonadamente anti-climáticos, quase de sádico cariz, não se pode meter em causa em 2023-24: o segundo jogo é no Ibrox, onde os portugueses nunca ganharam e só empataram três vezes!

    1.

    Braga – Liga Europa 2021-22 – No ano em que chegaria à final, o Rangers de Van Bronckhorst não deixou ninguém adormecer no Ibrox.

    O Dortmund, depois de ser surpreendido pelos Protestantes no Signal Iduna por 2-4 (aos 54’ já estava 1-4…) só não perdeu em Glasgow porque anularam o 3-2 a Roofe; o Estrela Vermelha não conseguiu em Belgrado (2-0) vingar a humilhação como visitante (3-0); O Leipzig, nas Meias, e depois de ter ganho pela margem mínima em casa, já tinha sucumbido a dois golos ao fim de 24 minutos perante a efervescência daquele público. Só o Braga de Carvalhal conseguiu obrigar, depois dum 1-0 no Minho, aquele público a resignar-se com a Providência e aceitar o prolongamento.

    Mas nem tudo foram rosas, que o mesmo destino dos alemães ou sérvios poderia ter sido impingido aos portugueses: o Braga entrou em campo petrificado pelo ambiente e aos dois minutos já Tavernier tinha igualado o agregado – aos cinco, Barisic encontra Roofe no coração da área para uma cabeçada letal.

    A tragédia só foi evitada pelo VAR, que descortinou uma mão do lateral croata no início do lance, ainda que a melhor expressão não seja ‘evitada’ mas adiada – porque Roofe, depois de David Carmo fazer o golito que dava direito a mais meia-hora, marcou novo golo, desta vez sem qualquer razão para apito desmancha-prazeres. 

    O Rangers só perderia na final contra o Frankfurt de Oliver Glasner.

    2.

    Benfica – Liga Europa 2020-21 – Era um Benfica decepcionado pela eliminação da Liga dos Campeões aos pés do PAOK de Abel Ferreira e, por isso, num grupo com Rangers, Standard Liége e Lech Poznan, o segundo lugar foi o melhor que se conseguiu, muito por culpa de se juntar o desleixo à incompetência reinante.

    Na Luz, o 3-3 só acontece pela interferência no limite de Darwin Núnez, que evitou a derrota já depois dos 90’; e em Glasgow, um meio-campo Rafa-Gabriel-Chiquinho-Everton foi naturalmente manietado pelas protestantes gentes, que mandaram como quiseram durante 70 minutos, até serem surpreendidos pela entrada de Pizzi – já na fase descendente, mas com o cérebro futebolístico intacto, comandando uma enérgica reacção e dois golos de rajada para novo empate.

    Rangers primeiro nesse Grupo D com mais dois pontos que os portugueses e o primeiro mata-mata prometedor, com 9-5 no agregado ao Antuérpia – mas nos Oitavos surgiu um competente Slavia Praga e a aventura acabou aí. O Benfica caíria perante o Arsenal, que despachou o mesmo Slavia nos Quartos por expressivos 5-1…

    3.

    Braga – Liga Europa 2019-20 – Amorim estreou-se nas competições europeias contra Gerrard e o seu Rangers, sendo eles o seu primeiro carrasco – Amorim, que não perdeu os primeiros nove jogos oficiais, só conheceu o sabor da derrota contra escoceses, nos treze jogos ao comando do Braga.

    Numa série que incluiu duas vitórias sobre o FC Porto, uma contra o Sporting e uma contra o Benfica na Luz, completando um vistoso pleno contra Grandes, Amorim não soube encontrar o antídoto táctico-mental para levar de vencido aquele Rangers. Cinco dias depois de vencer Bruno Lage na Luz, Amorim deslocou-se a Glasgow para tentar continuar a surpreender – e aos 59’, quando Abel Ruiz fez o 0-2, todos estavam boquiabertos com a ascensão meteórica. Compreensivelmente, não houve arcaboiço para aguentar a reacção do Ibrox, que levou a equipa ao colo para um 3-2 que continuava a saber a vitória para os de Braga. Na Pedreira, não seria difícil dar a volta.

    Convicção errada. Porque Amorim, apesar de dominar a criar perigo junto de McGregor por diversas vezes, nunca conseguiu consumar o beijo entre bola e redes – e Gerrard, com sorriso sacana no outro banco, sabia que era questão de tempo até algum dos seus aproveitar o ímpeto arsenalista e aparecer sozinho na profundidade. Foi Ryan Kent.

    Amorim, apesar da primeira desilusão, ascendia na carreira uma semana depois, assinando com o Sporting.

    4.

    FC Porto – Liga Europa 2019-20 – Mas antes, nessa mesma temporada, já o Rangers tinha visitado o Dragão – e de lá trazido um empate a uma bola, a castigar a passividade portista e os inequívocos táticos: só quando desfez a dupla Marega-Zé Luís e passou ao 4-3-3, com Nakajima à esquerda, é que o Porto foi realmente dominador. O Rangers aguentou-se bem e sabia que na Escócia ia ser diferente, bastando para isso continuar a fazer do sentido prático a sua grande arma.

    O público do Ibrox e a má fase de Conceição fariam o resto: o Porto entrou em campo de forma atabalhoada, num 3-5-2 com Corona vagabundo nas costas de Tiquinho Soares e com processos muito confusos, obviamente mal-executados. Mesmo assim, só aos 69’ vacilou, consumando-se a derrota aos 73 – e era aflitiva a situação do Porto, com quatro pontos em quatro jornadas e último lugar do grupo.

    Era essencial vencer em Berna e na recepção ao Feyenoord – o que aconteceu, não sem uma pitada de suspense: Fassnacht faz o primeiro para o Young Boys aos seis minutos e a salvação só chegou por intermédio de Aboubakar com dois golos de rajada já nos últimos quinze minutos…

    2.

    Sporting  – Liga Europa 2010-11 – O pós-Paulo Bento foi muito atribulado. Em 2010-11 sai Moutinho, em litígio com o presidente José Eduardo Bettencourt, que lhe chama… «maçã podre» e o oferece ao FC Porto por 11 milhões, e também Liedson; Costinha é o director desportivo e aposta em Paulo Sérgio. O agora treinador do Portimonense, à época um dos mais entusiasmantes da nova vaga, nunca consegue estabilizar a equipa e vai perdendo gás, como quem apostou em si.

    É a eliminatória com o Rangers que precipita o colapso. O fabuloso Matías Fernández consegue safar a equipa no Ibrox com um golo em cima da hora, trazendo para Alvalade um positivo empate que, afinal, não serviu para nada – porque o Sporting, a ganhar 2-1 por um golo de Yannick Djaló já na recta final, deixa-se surpreender aos 93’!

    Os golos fora eliminaram os portugueses, Paulo Sérgio é substituído por José Couceiro, que tinha vindo a meio da época para… director-geral, um cargo de nome pomposo como forma de retirar poder a Costinha, que já estava a prazo.

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.