Chelsea FC: O dinheiro compra felicidade?

    O Chelsea FC é liderado pelo norte-americano Todd Boehly desde maio de 2022. O empresário sucedeu a Roman Abramovich.

    O Chelsea FC sempre foi uma equipa acostumada a estar na elite do futebol inglês. Apesar disso, nunca se destacou dos demais, até ao ano de 2003, sendo considerada de ‘meio de tabela’. Roman Abramovich adquiriu o clube de Londres pelo valor de 178 milhões de euros. Se hoje em dia esse valor nos parece curto para tal compra, nessa época era uma quantia significativa. A inflação mudou a perspetiva das compras e vendas no futebol, sendo que mais à frente vamos verificar isso mesmo, com o valor da venda dos blues.

    O bilionário russo conseguiu uma passagem de sucesso pelo Chelsea, somando o seguinte palmarés, que colocou o Chelsea dentro dos ‘Big 6’ de Inglaterra:

    • Mundial de Clubes da FIFA: 2021
    • Liga dos Campeões da UEFA: 2011-12 e 2020-21
    • Liga Europa da UEFA: 2012-13 e 2018-19
    • Supertaça da UEFA: 2021
    • Campeonato Inglês: 2004-05, 2005-06, 2009-10, 2014-15 e 2016-17

    Ao analisarmos o começo do mandato de Roman Abramovich, verificamos a chegada de muitos atletas ao clube, especialmente com a contratação de José Mourinho, em 2004/05, um técnico que iria virar a página do emblema de Stanford Bridge.

    Antes disso, em 2003/04, Claudio Ranieri ocupava o cargo e foi investido um total de 170 milhões de euros, em 15 jogadores, como Damien Duff, Wayne Bridge ou Verón. Uns com mais sucesso, outros com menos. Ainda assim, o Chelsea conseguiu um segundo posto na Premier League, mas não foi suficiente para o italiano evitar o despedimento. A fase Mourinho foi muito mais estável, sendo que o investimento continuou em grande, com 137 milhões de euros na janela de verão. Porém, há nomes que chegaram e marcaram a história dos londrinos, como os casos de Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Petr Cech ou Didier Drogba. Apesar das mudanças drásticas do plantel nos primeiros anos de Abramovich, havia um plano claro para vencer a Premier League, que era de perceção fácil para quem analisava o futebol. Era uma equipa equilibrada, com nomes de elite e outros com boa margem de progressão.

    Em 2021, devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, Todd Boehly adquiriu o Chelsea por quase cinco mil milhões de euros. Esta é uma quantia substancialmente superior ao que Abramovich pagou em 2003, mesmo que a instituição já estivesse noutro patamar, com uma sala de troféus mais recheada.

    Os adeptos dos blues viram que Abramovich conseguiu levar o seu clube ao sucesso, apesar de ter sido construído com base em muitos gastos. Esperava-se que Boehly, multimilionário norte-americano e com pouca ligação ao desporto rei, conseguisse rodear-se de elementos para montar um plano de volta a que o Chelsea conseguisse igualizar-se ao Manchester City FC no topo do futebol inglês.

    No entanto, o que assistimos foi a uma autêntica confusão, que não aparenta ter fim à vista. Foram cinco técnicos (um deles interino) em pouco mais de um ano: Thomas Tuchel, Graham Potter, Bruno Saltor, Frank Lampard e Mauricio Pochettino, sendo que somente o primeiro nome foi uma escolha da direção interior e apenas durou sete jogos, com três vitórias, no reinado Boehly.

    Se a contratação de Graham Potter é compreensível (assim como a de Pochettino), devido ao seu trabalho de alto quilate o Brighton and Hove Albion FC, a sua substituição por Frank Lampard pode considerar-se um completo absurdo. Por muito que tenha sido um símbolo dentro de campo, vinha de uma experiência terrível no Everton FC. Resultado? Uma vitória em 11 jogos, com o Chelsea a terminar no décimo segundo posto da tabela, algo que poucos acreditariam em setembro de 2022, num autêntico pesadelo para quem ia a Stamford Bridge.

    Os mercados de transferências liderados pelo norte-americano são igualmente bizarros e que exibem uma falta completa de uma linha de orientação, algo que existia com Abramovich, por muito dinheiro que o russo gastasse. Não se nega a qualidade de alguns elementos, mas a quantidade de jogadores e a valorização dos mesmos pode ser considerada absurda. Num total, o Chelsea já contratou 25 jogadores para a sua equipa principal (alguns deles já nem estão no clube, outros foram cedidos).

    Cinco das dez contratações mais caras do Chelsea foram feitas neste curto período de tempo. A maioria dos atletas foi contratada com longos contratos, para dilatar o seu pagamento, sendo que foram pagas quantias ridículas por certos elementos. Vejamos o top 10 de Boehly:

    • Moisés Caicedo- 133 milhões de euros
    • Enzo Fernandez – 120 milhões de euros
    • Mykhaylo Mudryk – 100 milhões de euros
    • Wesley Fofana – 75 milhões de euros
    • Marc Cucurella – 65,3 milhões de euros
    • Roméo Lavia – 62,1 milhões de euros
    • Christopher Nkunku – 60 milhões de euros
    • Raheem Sterling – 56,2 milhões de euros
    • Cole Palmer – 47 milhões de euros
    • Axel Disasi – 45 milhões de euros

    Há jogadores que foram contratados muito acima do preço, como por exemplo Cole Palmer, que tinha um valor de mercado de 18 milhões, Lavia, com um valor de mercado de 32 milhões de euros, Mudryk, que estava avaliado em 40 milhões de euros na época, e até mesmo Moisés Caicedo, com um valor de 75 milhões de euros. Tratam-se de maus jogadores? Nem por isso, são promissores. Porém, torna-se fácil negociar com o Chelsea nestes moldes, já que estão dispostos a comprar muito mais caro do que aquilo que o produto vale.

    Em certas ocasiões, a gestão do Chelsea aparenta basear-se em comprar os jogadores que interessam aos rivais, como nos exemplos de Lavia (que estava perto do Liverpool FC) e de Mudryk (que era constantemente associado ao Arsenal FC).

    A existência de uma quantidade gigante de jovens jogadores não é saudável para o plantel, tendo uma clara falta de liderança. Enzo Fernández, que chegou em janeiro de 2023, já é um dos capitães de equipa. Nos tempos de Terry e Lampard, esta situação nunca iria ocorrer.

    O plantel do Chelsea tornou-se extremamente extenso, com algumas posições com três boas opções para colocar no onze. Como pode um treinador lidar com este problema? Não pode colocar todos ao mesmo tempo, nem pode rodar o onze jornada sim, jornada sim. Tenta-se vender a ideia que o projeto do Chelsea é a longo prazo, já que a média de idades é jovem, muitos contratos são longos, mas se não existe estabilidade desde o início, é complicado alcançar o sucesso no futuro. 2022/23 foi o perfeito exemplo da desorientação de um clube. Esta época teremos que esperar e ver, mas quando se idealizava um verão em que iriam existir poucas entradas e muitas saídas, na prática foi ela por ela.

    Para agravar a situação, apesar de tanta mexida e presença no mercado, o Chelsea apenas tem um ponta de lança no plantel (Nkunku está lesionado por alguns meses): Nicolas Jackson, que terá a dura missão de se acostumar à Premier League, após um final de La Liga muito interessante ao serviço do Villarreal CF.

    Chegamos à conclusão que o dinheiro trouxe felicidade ao clube londrino, quando havia um plano e uma boa execução dos investimentos. Abramovich pode ter cometido alguns erros ao longo dos anos, mas conseguiu transformar o Chelsea numa potência, algo que dependeu bastante de José Mourinho numa fase inicial. Nesta altura, já podemos comparar a gestão de Boehly com essa fase e verificamos o contrário do que aconteceu. Um investimento total de cerca de mil milhões de euros, para conseguir um décimo segundo lugar e montar um plantel com o qual Pochettino não conseguirá chegar sequer aos calcanhares do Manchester City esta época, nem possivelmente na próxima.

    Teremos que esperar pelas cenas dos próximos capítulos, mas se nada mudar neste projeto, o Chelsea verá os seus momentos de glória serem mais reduzidos e a sua dívida a aumentar consideravelmente. Caso Boehly deseje sair do clube daqui a uns anos, ao ver que a sua instituição não tem qualquer tipo de sucesso, isto pode ser um problema para o futuro, afinal, quem quer comprar uma casa a arder?

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