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Do renascimento no Boxing Day à conquista do treble: O Mancheser United 1998/99

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Há equipas que são inesquecíveis pelos feitos e pelo futebol praticado. Nomeadamente, as que venceram tripletes como o FC Barcelona (2008/09 e 2014/15), o Inter (2009/10), o FC Bayern (2012/13) e o PSG (2024/25). Mas o do United marcou por ter sido algo pioneiro e, sobretudo, por ter sido como foi. Não foi a primeira equipa de sempre a vencer um triplete, pois Celtic (1966/67), Ajax (1971/72) e PSV (1987/88) já tinham alcançado tal feito, mas foi o primeiro conjunto inglês a fazê-lo. Em retrospetiva, o United de 1998/99 não era uma equipa muito tática em comparação com algumas atuais, mas era emocionalmente fortíssima e extremamente competitiva. Características impagáveis e que ficaram para a história. No entanto, esta época inesquecível não foi sempre um “mar de rosas” e a primeira metade da mesma foi muito turbulenta.

Em Old Trafford, a época 1998/99 começou com o clube a desembolsar uma grande quantia à época em reforços. O United investiu cerca de 37,5 milhões de libras em Jaap Stam (defesa-central ex-PSV), Jesper Blomqvist (extremo vindo do Parma) e Dwight Yorke (ponta de lança oriundo do Aston Villa). Três reforços de peso que se juntavam a um elenco absolutamente único: a baliza com um guarda-redes singular e decisivo (Peter Schmeichel); um setor defensivo resiliente (Denis Irwin, Ronny Johnsen, Henning Berg e os irmãos Gary e Phil Neville); um meio-campo incansável (constituído pelos “Fergie Babes” Ryan Giggs, Paul Scholes, Nicky Butt, a “estrela” David Beckham e o líder Roy Keane); e um ataque implacável (Andy Cole, Teddy Sheringham e Ole Gunnar Solskjær).

Apesar dos reforços de qualidade adquiridos no princípio da época, o prenúncio era negativo. A equipa vinha de uma época fracassada em toda a linha, eliminada pelo AS Mónaco na UEFA Champions League e completamente ultrapassada pelo Arsenal a nível interno. Assumido pelo gaulês Arsène Wenger em 1996/97, o clube londrino apresentou mudanças significativas ao ponto de vencer a “dobradinha inglesa” em 1997/98. Um plantel onde brilhavam Dennis Bergkamp, Marc Overmars, Ian Wright, Nicolas Anelka, Ray Parlour, Nigel Winterburn, Patrick Vieira, David Seaman ou Emmanuel Petit, com métodos de treino e nutrição avançados à época.

Apesar de 1998/99 não ter sido igual (de todo) a 1997/98 para os londrinos, a verdade é que o começo foi semelhante. A Supertaça Inglesa foi ganha claramente pelo Arsenal por 3-0 frente à equipa de Ferguson. Wenger e os gunners eram o treinador e a equipa do momento, e muitos duvidavam que Ferguson e aquele United conseguissem dar a volta.

O que pouco se sabe sobre esta mítica temporada do Manchester United foi a circunstância de pouco ter faltado para Alex Ferguson sair do comando técnico. Embora tivesse já um palmarés notável, estatuto de “boss” e liderasse uma equipa técnica muito competente, outros aspetos pesavam mais: a ideia de desgaste, a dúvida sobre a capacidade de fazer renascer a equipa depois de ter sido ultrapassado internamente pelo Arsenal e de não conseguir vencer externamente na Europa. Tudo isto fez com que Ferguson não gostasse desta “desconfiança” e pediu a demissão. Fergie vinha de origens humildes e tinha como princípios vitais a lealdade e o trabalho. No entanto, houve uma reviravolta e o treinador acabou por ficar, confiança renovada e todos juntos partiram ao ataque da nova época.

A UEFA Champions League era, há anos, uma verdadeira “espinha encravada” na garganta do Manchester United. Entre 1993/94 e 1997/98, a equipa foi eliminada por Galatasaray, Borussia Dortmund e AS Mónaco, adversários que, em teoria, não seriam superiores. O clube não vencia a competição desde 1967/68 (com George Best, Brian Kidd e Bobby Charlton) e queria fazê-lo de novo, também em homenagem à equipa orientada por Matt Busby que morreu no desastre aéreo de Munique em 1958, os eternos “Busby Babes”. Para Ferguson, conquistar a Europa era essencial para coroar o crescimento deste plantel.

Embora existissem conflitos internos entre Roy Keane e Peter Schmeichel pela liderança, entre Andy Cole e Teddy Sheringham por quezílias antigas, ou a pressão sobre David Beckham após o Mundial de 1998, a força do coletivo acabou por se sobrepor. A chegada de Dwight Yorke relegou Cole para segundo plano durante algum tempo, mas acabou por potenciar uma das duplas mais eficazes da história da Liga Inglesa.

Até ao Boxing Day, o percurso da equipa foi irregular. Na Liga Inglesa, o United não conseguia uma sequência sólida de resultados, foi eliminado da Taça da Liga e qualificou-se à tangente para a fase seguinte da UEFA Champions League num grupo com Barcelona e Bayern de Munique. Até ao Natal, somava 30 jogos: 13 vitórias, 12 empates e cinco derrotas.

Destacaram-se negativamente as derrotas com o Arsenal (0-3), Sheffield Wednesday (1-3), Tottenham (1-3, Taça da Liga) e Middlesbrough, além dos empates com Chelsea e Aston Villa para a Liga. Na Europa, os duelos com Barcelona (dois empates 3-3) e Bayern de Munique (2-2 fora e 1-1 em casa) mostravam competitividade, mas também fragilidade.

Brian Kidd, figura histórica do clube e braço-direito de Ferguson, acabou por sair a meio da época para assumir o comando técnico do Blackburn Rovers. Para o seu lugar chegou Steve McClaren, proveniente do Derby County, cuja influência se revelou decisiva. McClaren trouxe maior rigor no trabalho técnico, ajudou na preparação específica dos jogos europeus (a Champions League era o grande objetivo) e foi uma peça-chave na coesão do grupo, funcionando como um complemento ideal à liderança carismática de Ferguson. A confiança parecia renovada e todos partiram ao ataque da restante parte da época. 

Ole Gunnar Solskjaer Manchester United 1999
Fonte: UEFA

Após o Boxing Day, tudo mudou. O plantel reuniu-se no The Cliff e fez uma jura de união e compromisso: “não vamos voltar a perder”. A partir desse momento, o United estabilizou e manteve-se coeso no seu 4-4-2 clássico. Jogava com Schmeichel renascido e já com a saída anunciada no final da época na baliza; Gary Neville, Jaap Stam, Ronny Johnsen e Denis Irwin na defesa (com Phil Neville como opção recorrente); Beckham na direita, Giggs na esquerda, Roy Keane como motor emocional e Paul Scholes como cérebro; e na frente a dupla Yorke–Cole, com Ole Gunnar Solskjær como arma secreta. A equipa passou a jogar de forma mais direta, intensa e confiante, explorando os corredores laterais, cruzamentos constantes, pressão alta e uma crença absoluta de que o jogo só terminava no apito final. Até ao fim da época, em 33 jogos, o United venceu 23 e empatou 10.

O jogo simbólico dessa viragem aconteceu a 24 de janeiro de 1999, frente ao Liverpool, para a Taça de Inglaterra. A perder 0-1 até perto do fim, o United empatou aos 88 minutos por Dwight Yorke, após passe de Andy Cole, e já nos descontos Ole Gunnar Solskjær, assistido por Scholes, garantiu a vitória. Um retrato perfeito do espírito da equipa.

Entre março e maio, o United enfrentou uma sequência absolutamente decisiva. Eliminou o Inter de Milão nos quartos de final da UEFA Champions League, vencendo em Old Trafford por 2-0 seguido de um empate em San Siro a uma bola. Na Liga foi vencendo e sobreviveu em Liverpool com um empate a dois golos. Na Taça de Inglaterra, superou o Chelsea em Stamford Bridge por 2-0 no jogo de desempate e, de seguida, bateu o Arsenal nas meias-finais, após um empate a zero e um prolongamento épico, marcado pela expulsão do capitão Roy Keane, pelo penálti defendido por Schmeichel a Bergkamp e pelo golo decisivo de Ryan Giggs. Na Europa, ultrapassou a Juventus nas meias-finais da UEFA Champions League, com uma reviravolta histórica em Turim (2-3), numa noite em que Roy Keane e Paul Scholes deram tudo, mesmo sabendo que os cartões amarelos vistos os impediriam de jogar a final de Barcelona, depois do empate em Manchester no qual o United fora amplamente dominado pela Vecchia Signora. Pelo meio, continuou a somar pontos decisivos na Liga, mantendo a vantagem até garantir o título na última jornada.

A Liga Inglesa decidiu-se apenas na última jornada, num desfecho à imagem de toda a época. Em Old Trafford, frente ao Tottenham, o United entrou a saber que só a vitória garantia o título. O golo inicial dos Spurs trouxe nervosismo, mas a resposta foi imediata: Beckham empatou ainda na primeira parte, na conversão de um livre direto, e, no segundo tempo, Andy Cole consumou a reviravolta. O 2-1 selou o sexto campeonato da era Ferguson e confirmou a capacidade da equipa para lidar com a pressão máxima, num cenário em que qualquer erro seria fatal.

Poucos dias depois, o United conquistou a Taça de Inglaterra frente ao Newcastle, em Wembley. Num jogo controlado, a superioridade da equipa de Ferguson foi traduzida nos golos de Teddy Sheringham e Paul Scholes, garantindo uma vitória por 2-0. Sem espetáculo exuberante, mas com enorme maturidade competitiva, os red devils conquistavam a dobradinha doméstica e mantinham vivo o sonho do feito histórico.

O culminar de tudo aconteceu em Barcelona, na final da UEFA Champions League frente ao Bayern de Munique. Foi surpreendente ver no onze inicial, jogadores como Beckham e Giggs a jogarem fora das suas posições habituais (o inglês no meio e o galês à direita) Dominado durante grande parte do encontro e a perder por 1-0 desde cedo, o United parecia condenado. No entanto, fiel à sua identidade (nos últimos minutos, Beckham e Giggs voltaram às suas posições originais), nunca desistiu. Já nos descontos, Teddy Sheringham empatou após um canto e, momentos depois, Ole Gunnar Solskjær consumou a reviravolta histórica, novamente na sequência de um canto. Em menos de três minutos, o United passou do inferno do desespero ao céu da glória eterna, conquistando a Europa, a sua segunda Champions League do palmarés e selando o primeiro triplete inglês da história.

Jorge Afonso
Jorge Afonso
O Jorge apaixonou-se pelo futebol num dérbi em Alvalade e nunca mais largou. Licenciado em Comunicação Social e mestre em Ciência Política, vive entre estatísticas, memórias épicas e o encanto de equipas como o Barça de Guardiola ou a França de Zidane.

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